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Linha Direta

Egito diz que retirada de estrangeiros de Gaza, incluindo brasileiros, ainda não é segura

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Embaixadas de 45 países - entre eles o Brasil - ainda tentam resgatar seus cidadãos da Faixa de Gaza através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. 

Um caminhão transportando ajuda humanitária para a Faixa de Gaza atravessa o portão da fronteira de Rafah, em Rafah, Egito, no domingo, 22 de outubro de 2023.
Um caminhão transportando ajuda humanitária para a Faixa de Gaza atravessa o portão da fronteira de Rafah, em Rafah, Egito, no domingo, 22 de outubro de 2023. AP - Mohammed Asad
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Vinícius Assis, correspondente da RFI no Cairo

Em uma coletiva de imprensa no Cairo, Diaa Rashwan, chefe do Serviço de Informação do Estado, a inteligência egípcia, disse que a retirada de todos os estrangeiros ainda não é segura, ao ser questionado sobre a situação dos cerca de 30 brasileiros que ainda estão no sul de Gaza.

A estrada ao lado de Gaza que dá acesso à fronteira foi bombardeada por Israel, que também estaria ameaçando palestinos que possam ajudar na retirada desses estrangeiros.

O Brasil já tem um ônibus reservado para trazer os seus cidadãos para a capital egípcia, onde um avião da Presidência da República aguarda para levá-los de volta ao país. Mas a operação só será possível quando eles conseguirem cruzar a fronteira.

O embaixador do Brasil no Cairo, Paulino Franco, tentou chegar recentemente até a região de carro, mas não pôde completar a viagem. Ele foi impedido pelos bloqueios das forças de segurança e teve que voltar para a capital.

A fronteira começou a ser aberta no sábado, porém apenas para a passagem de caminhões com ajuda humanitária. Mais de 50 caminhões conseguiram levar algumas dessas doações para Gaza. Já foram entregues 475 toneladas de medicamentos, 251 toneladas de alimentos e 78 toneladas de água.

Cerca de 200 outros caminhões ainda aguardam a autorização perto da fronteira para passar. A abertura é uma decisão de comum acordo e precisa ter a garantia israelense de que os caminhões não serão bombardeados se chegarem até Gaza.

Quase 40 aviões pousaram no Egito trazendo ajuda humanitária de diferentes países e organizações, de acordo com dados divulgados pelo representante do Egito durante a coletiva.

Apoio aos palestinos

Diaa Rashwan criticou ataques a civis dos dois lados, mas demonstrou claro apoio egípcio aos palestinos ao falar de décadas de opressão. Ele afirmou que o governo do Egito apoia os palestinos na defesa dos próprios direitos. Ao falar de pessoas que estão abrigadas em hospitais, igrejas e escolas, Rashwan lembrou que esses locais não são seguros.

“Como a violência é contínua, isso impede que a gente ache uma solução”, afirmou. Na ocasião, ele também destacou que o Egito nunca apoiou o terrorismo, mas reconhece que todos têm o direito de defender sua liberdade.

“A solução apoiada pelo Egito será a solução dos dois Estados”, ressaltou, se referindo ao projeto de criação do Estado da Palestina ao lado de Israel, assim como a coexistência pacífica, encerrando disputas por soberania regional.

Ele também defendeu na coletiva a libertação de reféns. Como resultado da mediação do Egito e do Qatar, o Hamas disse no início desta semana que seu braço armado libertou duas israelenses (de cerca de 200 reféns) mantidas em cativeiro: Yocheved Lifshitz e Nurit Cooper.

A cobertura da “mídia ocidental” também foi criticada pelo chefe do Serviço de Informação egípcio. Ele lembrou que há jornalistas estrangeiros em Israel, mas não em território palestino, para mostrar diretamente as consequências dos ataques israelenses.

Em resposta, jornalistas estrangeiros que participaram da coletiva destacaram a burocracia para se obter permissões de circulação para fazer uma cobertura mais equilibrada e pediram ajuda ao Egito para garantir o acesso à Faixa de Gaza através da fronteira de Rafah, o que muitos não conseguiram até agora.

O discurso sobre o receio de que este conflito se espalhe pela região vem sendo reproduzido por diferentes autoridades e preocupando cada vez mais governos que, até agora, não estão diretamente envolvidos na guerra entre Israel e Hamas.

Esse foi um dos temas de uma conversa por telefone essa semana entre os ministros das Relações Exteriores egípcio, Sameh Shoukry, e iraniano, Hossein Abdollahian.

O tema também esteve na pauta do encontro entre os presidentes do Egito, Abdel-Fattah El-Sisi, e da França, Emmanuel Macron. Ambos disseram que é preciso um esforço conjunto para que a violência não se espalhe pela região.

“Um deslocamento dos palestinos em Gaza para fora das suas terras complicaria as perspectivas da solução de dois Estados para resolver o conflito”, declarou Sisi. Macron anunciou ainda que a França enviará um navio para apoiar os hospitais em Gaza.

O presidente da França também se reuniu recentemente com o presidente israelense, Izaac Herzog, com o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, em Israel, e com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na Cisjordânia.

Reações africanas

Nesta quinta-feira, 19 dias após o início da guerra, o conflito será discutido pela Assembleia Geral da ONU, formada em um terço por países africanos. Aparentemente, o continente está dividido e nem todos os governos se manifestaram publicamente sobre essa guerra.

As mensagens mais divulgadas falam quase sempre em busca de diálogo, fim dos ataques aos civis e paz. Mas há uma tendência no continente a apoiar a causa palestina. A delegação de Israel chegou a ser expulsa da cúpula da União Africana este ano.

A Argélia condenou veementemente os ataques das forças de ocupação israelenses na Faixa de Gaza. A Tunísia declarou solidariedade "total e incondicional" ao povo palestino e pediu ainda que a comunidade internacional busque o fim aos "ataques bárbaros" de Israel contra os palestinos.

O Marrocos se mostrou preocupado com a eclosão de operações militares na Faixa de Gaza e condenou “os ataques contra civis onde quer que estejam”. A África do Sul também demonstrou preocupação com a escalada devastadora no conflito e pediu o fim imediato da violência. Nas ruas de algumas cidades sul-africanas, recentemente houve protestos em apoio à Palestina.

A República Democrática do Congo expressou solidariedade com o povo israelense e deixou claro que o país africano e Israel estão do mesmo lado no combate ao terrorismo em todas as suas formas. O Quênia também disse que se solidariza com o Estado de Israel e condena o terrorismo e os ataques a civis inocentes no país.

A maioria dos países africanos age com cautela. Nem todos que apoiam a Palestina querem comprar briga com Israel, que investe no continente. Por isso, alguns governos assumiram até agora uma posição mais neutra.

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