México: confirmação de candidata indígena para presidência dá esperança a opositores de López Obrador

De origem indígena, a senadora Xóchitl Gálvez, que ganhou destaque pela postura crítica ao governo do presidente López Obrador, foi escolhida pela coalizão de oposição no México como candidata à eleição presidencial de 2024. Durante a cerimônia de oficialização da candidatura, na Cidade do México, ela reuniu milhares de pessoas, prometeu unir o país e resolver os problemas sem ideologias. A confirmação de Xóchitl representa uma esperança para os opositores do atual governo.

Xóchitl Gálvez candidata da coalizão opositora, formada por três dos principais partidos de oposição ao governo do presidente López Obrador, PAN, PRI e PRD, ganhou força nas últimas semanas quando outros pré-candidatos foram abandonando a corrida eleitoral diante do protagonismo da senadora entre os mexicanos. REUTERS - HENRY ROMERO

Larissa Werneck, correspondente da RFI no México

O nome de Xóchitl Gálvez como candidata da coalizão opositora, formada por três dos principais partidos de oposição ao governo do presidente López Obrador, PAN, PRI e PRD, ganhou força nas últimas semanas quando outros pré-candidatos foram abandonando a corrida eleitoral diante do protagonismo da senadora entre os mexicanos. A engenheira e empresária tornou-se senadora em 2018, e desde o ano passado vem ganhando os holofotes por travar uma batalha pública contra o movimento obradorista.

“O objetivo é muito claro, vamos abrir as portas do Palácio Nacional. Essa porta está fechada há cinco anos, fecharam com mentiras, fecharam com insultos, fecharam com ódio, fecharam para todos aqueles que não pensam como eles. Fecharam não só para mim, mas para vocês, para milhões de mexicanos. Mas os cidadãos vão reabrir essa porta, vamos abri-la com a verdade, vamos abri-la com esperança, porque a esperança já mudou de mãos, a esperança agora é nossa”, disse a senadora durante a cerimônia de oficialização de candidatura diante de milhares de “Xóchitl Lovers”, apelido pelo qual são conhecidos seus apoiadores.

Para a analista política Myriam Hinojosa, a confirmação de Xóchitl como candidata para as eleições presidenciais do próximo ano representam uma esperança para os opositores do atual governo que, até poucos meses atrás, não tinham um nome competitivo para derrotar o obradorismo nas urnas.

“Outros partidos que não se uniram à coalizão podem, ainda, anunciar seus candidatos. Mas, é importante destacar a união dos três principais partidos de oposição no atual ambiente político, que vive o México, caracterizado pela polarização. E o discurso conciliador de Xóchitl faz contraste com o discurso do presidente López Obrador que, há anos, alimenta a polarização no país considerando inimigos aqueles que não estão a favor do governo.”, diz a politóloga.

Ainda de acordo com Myriam, Xóchitl Gálvez tem outra vantagem.

“Mesmo que esteja representando partidos tradicionalmente de direita, como o PAN e o PRI, Xóchitl é a candidata de uma coligação formada também por um partido de esquerda, que é o PRD. Nesse sentido, temos esquerda e direita juntas contra o movimento obradorista. Além disso, ela tem o apoio de movimentos sociais não partidários, o que, nesse momento, é muito importante para a sua candidatura, pois esses movimentos têm uma forte capacidade de mobilização. Teremos então uma disputa entre a ideologização, representada por Lopez Obrador, e o pragmatismo, representado pela coligação opositora”, explica a analista.

Morena anuncia candidato nesta quarta-feira.

Para escolher o representante de uma possível sucessão de López Obrador, o partido Morena, fundado pelo presidente, realizou uma pesquisa nacional domiciliar que teve início no dia 29 de agosto. A contagem dos votos começou nesta terça-feira (5), e o anúncio do candidato ou candidata que disputará as eleições de 2024 deve ser feito na manhã desta quarta-feira (6).

Apesar de cinco aspirantes à vaga, a disputa está entre a ex-chefe de governo da cidade do México, Claudia Sheinbaum, que lidera as pesquisas com 33,1% das intenções de voto, e Marcelo Ebrard, ex-secretário de Relações Exteriores, com 24,2%.

“Tudo indica que Claudia será a candidata que representará López Obrador e nós sabemos que ela é a favorita do presidente, principalmente depois que Marcelo Ebrard fez duras críticas ao processo interno para a escolha dos candidatos. E isso é imperdoável para o presidente”, diz Myriam Hinojosa.

Agenda feminista será desafiadora

Caso a candidatura de Claudia Sheinbaum seja confirmada, duas mulheres serão as principais candidatas à presidência do México, o que será um cenário político inédito no país. Apesar das expectativas por um governo inovador, com projetos direcionados para as questões de gênero e para os direitos das mulheres, tanto Claudia como Xóchitl são ligadas a personagens tradicionais da política, como explica Myriam.

“De um lado teremos Claudia Sheinbaum que está diretamente ligada à figura de López Obrador e ao projeto de nação que ele quer para o país. Do outro lado, a campanha de Xóchitl Gálvez tem por detrás nomes que representam a velha política mexicana que podem interferir nos projetos de governo que ela tem. Por isso, um grande desafio para ambas será dissociar-se dessas ideias já desgastadas que representam os mesmos grupos que governaram o país nas últimas décadas. Vamos torcer para que elas tenham posições verdadeiramente inovadoras.”, finaliza a analista