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Linha Direta

Duas mulheres lideram corrida presidencial no México

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Xochitl Gálvez, senadora e pré-candidata da frente opositora, e Claudia Sheinbaum, ex-chefe de governo da Cidade do México e pré-candidata pelo Morena, partido de López Obrador, lideram as primárias que definirão os candidatos que vão disputar as eleições presidenciais em julho de 2024. Resultado será divulgado no início de setembro.

Claudia Sheinbaum, ex-chefe de governo da Cidade do México e pré-candidata pelo Morena, partido de López Obrador, à presidência do México.
Claudia Sheinbaum, ex-chefe de governo da Cidade do México e pré-candidata pelo Morena, partido de López Obrador, à presidência do México. AFP
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Ao longo de sua história, o México teve seis mulheres como candidatas à presidência, mas, até agora, nenhuma governou o país. No entanto, dependendo do resultado das primárias realizadas pelo governo e pela oposição, a primeira presidenta mexicana pode estar a caminho. Isso porque, de ambos os lados da corrida presidencial, que já começou um ano antes das eleições, são as mulheres que lideram as pesquisas como pré-candidatas.

Representando a sucessão do governo de López Obrador está Claudia Sheinbaum, que deixou o cargo de chefe de governo da Cidade do México (equivalente a prefeita) para concorrer como aspirante à presidência. Representando a oposição, está Xochitl Gálvez, senadora sem filiação partidária que faz parte da Frente Amplia por México, formada pelos partidos de oposição PAN, PRI e PRD. Apesar de posicionamentos políticos diferentes, ambas têm em comum a carreira acadêmica e a experiência no comando de cargos importantes.

Claudia Scheibaum, de 61 anos, tem um papel protagonista na política nacional e uma relação de confiança antiga com o presidente López Obrador. É formada em Física pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), mesma instituição em que fez mestrado e doutorado em Engenharia Energética. Entre os anos 2000 e 2006, foi Secretária de Meio Ambiente de López Obrador durante seu mandato como chefe de governo da Cidade do México e, em 2007, fez parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.

Ainda em 2006, foi porta-voz da campanha de Obrador em sua primeira tentativa de chegar à presidência da república. Junto com ele, foi uma das criadoras do Morena, partido Movimiento de Regeneración Nacional, fundado oficialmente em 2014. Em 2018, foi eleita chefe de governo da Cidade do México, cargo que ocupou até o último dia 16 de junho, quando pediu licença para concorrer como postulante à candidatura presidencial. Na ocasião, ela disse: “quero ser a primeira mulher na história a liderar os destinos da nação”.

Durante seu mandato como chefe de governo, Claudia Sheinbaum implementou o Alerta de Violência de Gênero, um sistema integral de prevenção e proteção para as mulheres na capital mexicana.  

Segundo uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Mitofsky, empresa especializada em pesquisas de opinião pública, Claudia Scheinbaum lidera as pesquisas entre os quatro aspirantes à candidatura presidencial pelo Morena com 31,9% das intenções de voto, uma vantagem de quase oito pontos em relação ao segundo colocado, Marcelo Ebrard, que é ex-secretário de Relações Exteriores do governo López Obrador.

Luz María Cruz Parcero, politóloga e professora da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da UNAM, afirma que uma possível vitória de Claudia Sheinbaum nas eleições de 2024 representaria uma continuidade do projeto morenista de López Obrador. No entanto, segundo ela, é possível ver diferenças entre Sheinbaum e o presidente.

“A cada fim de mandato no México, há um rompimento com a gestão anterior. Então, quem assume a presidência invisibiliza o presidente que estava no cargo. Isso é histórico e eu não acredito que mude em caso de uma vitória de Claudia Sheinbaum, pelo menos por enquanto. Como ela já foi chefe de governo da Cidade do México, sabemos quais são suas pautas de interesse, como as questões de gênero, por exemplo. Além disso, a equipe dela na Cidade do México foi muito técnica e acredito que ela pode repetir isso em caso de que se converta em presidenta. E essa é uma diferença importante entre ela e López Obrador”, diz Luz María.

Avanço da popularidade de Xóchitl Gálvez pode atrapalhar planos de Obrador

Xóchitl Gálvez nasceu no estado de Hidalgo, em 1963. De origem indígena por parte de pai, é formada em Engenharia da Computação, também pela UNAM. Em 1992, fundou sua primeira empresa, especializada em edifícios inteligentes e baixo consumo de energia. Começou sua carreira política durante o governo de Vicente Fox, entre os anos 2000 e 2006, quando foi diretora da Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas. Desde 2018 é senadora, sem filiação partidária. Ainda que faça parte da frente opositora, formada por partidos ligados à direita, Xóchitl já se manifestou publicamente a favor do aborto e dos direitos das pessoas LGBTQI+.

Mesmo com uma carreira política mais discreta que Claudia Sheinbaum, a imagem de Xóchitl vem ganhando destaque nos últimos meses pela sua postura contrária ao governo. Em julho do ano passado, ela pediu direito de resposta pelas declarações feitas por López Obrador durante uma conferência de imprensa em que ele acusava a senadora de pedir o fim de programas sociais. Desde então, ambos travam uma guerra pública que ganha cada vez mais espaço na imprensa do país. A senadora entrou com um pedido na justiça para que o atual presidente pare de citar seu nome nas conferências de imprensa. Ela também acusa Obrador de difundir um documento com dados fiscais de clientes das antigas empresas da senadora.

A primeira vitória de Gálvez contra Obrador veio nesta terça-feira, quando um juiz federal ordenou que o presidente não pode mais fazer nenhum tipo de declaração ou comunicado público contra a senadora. Além disso, o INE, Instituto Nacional Eleitoral, também ordenou que a equipe de Obrador retire das redes sociais as gravações das conferências de imprensa em que ele cita a senadora.

“Essa guerra pública pode beneficiar os dois lados. De uma certa forma, a estratégia de Obrador de combater Xótchil Gálvez abertamente é direcionada ao eleitorado morenista que, no final das contas, é para quem ele dirige as conferências de imprensa. Então, pode ser que isso beneficie a imagem da Claudia Sheinbaum diante dos seus simpatizantes. Por outro lado, sabemos que como presidente ele não pode usar os recursos públicos para atacar nem a Xótchil nem a nenhuma outra pessoa, então, isso fortalece a imagem da senadora entre a população geral”, diz a politóloga da UNAM.

Processo das primárias difere entre governo e aliança da oposição

Em uma situação inédita na história do México, o período de pré-campanha começou antes do previsto na legislação. Segundo as regras, a pré-campanha só pode começar no mês de novembro anterior às eleições. No entanto, ambos os lados conseguiram na justiça autorização para antecipar a escolha dos candidatos.

O movimento de esquerda, liderado pelo Morena, realizará entre os dias 29 de agosto e 3 de setembro uma pesquisa domiciliar nacional para definir o candidato que disputará as eleições de 2024. Qualquer cidadão poderá participar, independente da posição política ou filiação partidária. O resultado deve ser divulgado no dia 6 de setembro.

Já na aliança Frente Amplia por México, as prévias são realizadas em três etapas. Na primeira, finalizada nesta terça-feira, os mexicanos escolheram, através de uma plataforma virtual, qual dos doze pré-candidatos inscritos eles gostariam que concorresse à presidência. O mínimo de votos necessários foi de 150 mil.

Além de Xóchitl Gálvez, que liderou todas as pesquisas de intenção de voto, Santiago Creel, Enrique de la Madrid, Silvano Aureoles e a também senadora Beatriz Paredes passaram para a próxima etapa. Desses, três serão escolhidos finalistas em uma eleição interna. A última fase das primárias será uma pesquisa de opinião pública prevista para o dia 27 de agosto. A apresentação do candidato da Frente Amplia por México para as eleições presidenciais de 2024 será no dia 3 de setembro.

Participação feminina na política mexicana é baixa

Segundo Mayte Muñoz, filósofa política da Faculdade de Filosofia e Letras da UNAM, a ausência de representação das mulheres na política mexicana tem um contexto histórico importante, principalmente porque o país foi um dos últimos a permitir o voto feminino, o que ocorreu em 1947 para as eleições municipais e, em 1953, para as eleições gerais. 

“Há uma combinação de fatores que contribuem para que o México não tenha tido, até o momento, uma mulher na presidência. Entre eles o predomínio do PRI durante 70 anos no comando do país. O PRI é um partido político bastante patriarcal, como a maioria, e isso influenciou muito para que o México não somente não tenha uma presidenta, como também candidatas à presidência e a outros cargos.”, explica Muñoz.

Ainda segundo Mayte, o México está em um excelente momento para ter uma presidenta da república.

“Nas manifestações pelo dia 8 de março, mulheres de diversas classes sociais e gerações se uniram por um propósito comum de representação política e de presença das mulheres no espaço público. Além disso, temos atualmente nove mulheres governadoras e uma mulher no comando da secretaria de segurança pública, o que demonstra que temos as condições perfeitas para ter uma mulher na presidência e que a sociedade está, aos poucos, se preparando para romper as estruturas patriarcais do país.”, afirma Mayte.

A filósofa lembra, no entanto, que mais importante do que ter uma mulher na presidência da república, é ter um presidente ou presidenta com perspectiva de gênero nas suas políticas públicas.

“Isso significa que as mulheres precisam ter igualdade de direitos, de estar no espaço público e de discutir assuntos de interesse comum. Queremos que senadores, deputados, governadores e presidentes, homens ou mulheres, se preocupem com uma igualdade real de direitos e de justiça para todos e todas, assim teremos um México inclusivo onde a nossa condição de gênero não justifique nenhum tipo de ausência de direitos”, diz a professora da UNAM.

Já para Luz María Cruz Parcero, o gênero não deve ser fator de exclusão na esfera política.

“Infelizmente, não só no México, como em todo o mundo, as mulheres ocupam poucos cargos executivos. De acordo com dados da União Interparlamentar, apenas 11% das mulheres do mundo são chefes de Estado. Por isso o importante é que as instituições não sejam mais espaços masculinizados. No caso do México, tivemos reformas importantes no Congresso para a equidade de gênero. São avanços importantes para que as mulheres com capacidade técnica possam exercer funções de poder. E se Claudia Sheinbaum ou Xótchil Galvez se tornarem presidentas, ambas têm muita capacidade para governar o país”, finaliza a politóloga.

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