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Linha Direta

Mergulhada na crise, Venezuela celebra neste domingo 10 anos sem Hugo Chávez

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Neste domingo (05) a Venezuela celebra os dez anos da morte do ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013). Conhecido como o pai do “Socialismo do Século XXI”, o polêmico político, que faleceu de câncer, chegou ao poder em 1999, ano em que começou a implementar reformas sociais e alterar as estruturas de poder no país. Na mesma medida em que foi amado, foi odiado, o que suscitou uma polarização popular vigente até hoje.

Foto de arquivo mostra Hugo Chávez em 17/09/2007.
Foto de arquivo mostra Hugo Chávez em 17/09/2007. REUTERS/Miraflores Palace/Handout
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Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Neste domingo (05) a Venezuela celebra os dez anos da morte do ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013). Conhecido como o pai do “Socialismo do Século XXI”, o polêmico político, que faleceu de câncer, chegou ao poder em 1999, ano em que começou a implementar reformas sociais e alterar as estruturas de poder no país. Na mesma medida em que foi amado, foi odiado, o que suscitou uma polarização popular vigente até hoje.

Uma série de eventos marca os dez anos da morte de Chávez. O mais notório é a abertura de uma nova exposição em homenagem ao ex-presidente. Organizada pela Fundação Hugo Chávez, a mostra intitulada “os dez anos da semeadura do comandante” – patente pela qual ele também era conhecido – passeia por etapas desde o nascimento do pai do “Socialismo do Século XXI” até sua eleição, em 1998. O acesso à exibição é gratuito e uma linha de ônibus fará o translado dos visitantes até o Quartel da Montanha, a caserna onde está o corpo de Chávez, localizada perto do Palácio Presidencial de Miraflores, aqui em Caracas. O valor investido para reformar a estrutura não foi divulgado.

Perto do local, também no bairro 23 de Enero, está uma capelinha erguida em homenagem a Chávez. Os seguidores do ex-presidente têm previsto estender ao local as homenagens a ele. Em Sabaneta, no estado Barinas, também haverá homenagens a Hugo Rafael Chávez Frías.

Até o momento do fechamento desta edição, o Ministério da Comunicação não divulgou em quais atos o atual presidente, Nicolás Maduro, irá participar. 

Crise econômica 

A maioria das pessoas entrevistadas, entre chavistas e opositores, não estavam muito conectadas à data. Eles manifestaram preocupação quanto à situação econômica que atravessam.

Um dos entrevistados, que está doente, disse que o dinheiro destinado às celebrações deveria ser usado em benefício do povo.

“Há coisas mais importantes a fazer. Em vez de gastar dinheiro deveriam investir principalmente em saúde. Não estou de acordo com isso (com as celebrações) ”. 

Já outro homem, que tinha onze anos quando Chávez chegou ao poder, se queixa da imigração e a fragmentação familiar oriunda dos anos de crise no país.

“Inverossímil. Penso que continuam mantendo esse discurso que o venezuelano já não acredita. Mas, enquanto essas pessoas continuarem no poder, o pensamento ou a forma deles vão iludir o povo sobre o legado. Por favor, que legado? Não há nenhum legado. Ou legado de fome, de ineficiência, de mediocridade, porque isso é o que mais prolifera agora na Venezuela. E quem vê que não pode mudar a realidade, o sistema, acaba indo embora do país”. 

O entrevistado informou que, diante da crise econômica que levou o país a ser um dos mais pobres do mundo, ele precisou se especializar em ser “todero”, palavra local para definir a pessoa que faz de tudo para ganhar dinheiro e, assim, subsistir. Várias pessoas da família desse homem buscaram outros países para viver.

Segundo a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), cerca de 7,1 milhões de venezuelanos estão espalhados em todo o mundo, na qualidade de refugiados ou imigrantes.

Em muitos lugares da capital Caracas e de cidades do país estão os edifícios da “Missão Vivenda/ Moradia”, o audacioso plano de Chávez para sanar um problema ainda vigente no país: o déficit habitacional. Essa foi a grande e última cartada do então presidente para manter em alta sua popularidade na corrida eleitoral de 2012, disputada com o opositor Henrique Capriles.

Nicolás Maduro chegou a se apoiar na missão para dar moradia às camadas populares, mas sem a constância dos tempos de Chávez. Ficou para trás a época em que o país era um dos maiores exportadores de petróleo mundo; quando a commoditie era cotada a US$ 102 por barril. Com isso, Maduro teve que fechar a torneira do “Estado Petroleiro Paternalista”. Os programas assistenciais estão quase extintos. Os poucos existentes não seduzem o eleitorado como funcionava na época do ex-presidente.

Ofuscar o passado

Embora Maduro tenha sido apelidado de “o herdeiro político de Chávez”, analistas apontam que não há interesse da gestão do atual presidente em enaltecer a memória de Chávez. “Sem o carisma e a eloquência de seu antecessor, restou a Nicolás Maduro paulatinamente minimizar a memória em torno da imagem daquele que ainda tem a fama de ser o ídolo político do país”, explicou uma analista política.

Vale lembrar que Chávez era amado e odiado na mesma proporção. Mas mesmo eleitores opostos às ideias do comandante declaram que a situação da Venezuela era melhor antes. É o que conta esta aposentada:

“Apesar dele (Chávez) ter suas questões, foi um homem muito querido, muito popular, ganhou com muitos votos, acho que ele fazia melhor do que faz o atual presidente. Esses anos com o atual presidente são de terror. Digo isso porque sou aposentada e recebo a pensão da aposentadoria e isso é uma miséria. Se a pessoa não tem uma família que a apoie, cai na indigência. As coisas estão mal, mal, mal, muito mal”.

A moeda venezuelana vem perdendo poder de compra. O salário mínimo de 130 bolívares valia, em dezembro passado, cerca de US$ 30. Com a desvalorização, agora vale cerca de US$ 5, valor inferior ao preço de um quilo de carne.           

Já esta outra pessoa descreve o retrocesso da situação:

“Quando estávamos com o presidente Chávez houve melhoras. Agora que estamos com Maduro estamos passando dificuldades. O país, em vez de ir para frente, vai para trás”.

De acordo com a “Psicodata”, pesquisa que avalia a situação emocional dos venezuelanos, divulgada pela UCAB, a principal universidade do país, 90% dos venezuelanos estão preocupados com o futuro do país e 40% dizem que seu humor costuma piorar por causa disso. Já 73% dizem que ficam tristes ao pensar no futuro da Venezuela.

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