Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

China, Ucrânia, oposição republicana, economia dos EUA: saiba o que Joe Biden disse no Congresso

Publicado em:

Em seu discurso anual no Congresso americano, o presidente Joe Biden disse nesta terça-feira (7) que os Estados Unidos estão melhor posicionados para crescer economicamente "do que qualquer país na Terra", apesar dos transtornos causados pela Covid-19 e da invasão da Ucrânia pela Rússia. O democrata também enviou uma mensagem à China, depois de ordenar a destruição de um suposto balão de vigilância chinês que sobrevoou o território americano na semana passada. 

A vice-presidente americana, Kamala Harris, e o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, reagem com aplausos a um trecho do discurso de Joe Biden no Congresso. 7 de fevereiro de 2023
A vice-presidente americana, Kamala Harris, e o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, reagem com aplausos a um trecho do discurso de Joe Biden no Congresso. 7 de fevereiro de 2023 AP - Jacquelyn Martin
Publicidade

Heloisa Villela, correspondente da RFI em Nova York

A classe média americana esteve no centro do discurso de Joe Biden, que durou pouco mais de uma hora. Ele não ignorou as reações de deputados e senadores da oposição e chegou a estabelecer um diálogo raro nessas solenidades. 

Biden provocou os republicanos com a discussão a respeito do Orçamento. Ele acusou a oposição de defender o corte de serviços sociais para equilibrar as contas do país, ao invés de aumentar os impostos dos ricos. Alguns republicanos vaiaram, como a radical de direita Marjorie Taylor Green, que chamou o presidente de "mentiroso". Biden não se intimidou. Ao contrário, usou a reação e respondeu com um belo balé político-diplomático, dizendo que os dois lados estavam de acordo, a favor de manter os benefícios à população e cobrar das grandes empresas os impostos que elas devem pagar. O presidente acabou aplaudido pela grande maioria de democratas e republicanos. 

Biden destacou que em 2020, 55 empresas da lista das maiores do país tiveram lucro de US$ 40 bilhões e não pagaram um centavo em tributos. "Como pode?", perguntou. No ano passado, ele conseguiu aprovar no Congresso uma lei que obriga as empresas a pagar pelo menos 15% de impostos. 

Ainda se dirigindo à classe média, ele lembrou a inflação em queda nos últimos seis meses, o índice de desemprego em 3,4%, o mais baixo dos últimos 50 anos, e listou as leis que já aprovou para reduzir os preços dos remédios, garantir internet rápida em todo o país, reconstruir pontes e estradas, e gerar empregos. Entre essas leis, destacou a da produção de semicondutores e chips nos Estados Unidos. Biden disse que o país inventou os chips e fabricava 40% da produção mundial. Mas, atualmente, responde por apenas 10% de todos os semicondutores fabricados no mundo.

Apoio à Ucrânia

A presença da embaixadora da Ucrânia no Congresso, Oksana Markarova, ressaltou o investimento do país no apoio ao governo ucraniano na guerra com a Rússia. Biden disse que os Estados Unidos apoiarão Kiev "o tempo que for necessário" para lutar contra a invasão russa. "Nossa nação trabalha por mais liberdade, mais dignidade, mais paz, não somente na Europa, mas em todos os lugares", declarou Biden, dirigindo-se à embaixadora ucraniana.

Entre os convidados da Casa Branca para o discurso estavam os pais de Tyre Nichols, um homem negro de 29 anos, pai de um menino de 4 anos, que foi espancado por policiais de Memphis, no Tennessee, em janeiro e morreu três dias depois. Biden não pediu redução do policiamento nas cidades americanas e sim treinamento melhor para os oficiais, além de punição para os abusos da polícia. 

Para falar dos investimentos em pesquisas na área de saúde, apresentou um casal cuja filha foi diagnosticada com câncer no primeiro ano de vida. Apesar das perspectivas difíceis, hoje a criança já tem 4 anos e está ficando curada.

Paul Pelosi, marido da ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, também ganhou destaque porque sofreu um ataque violento, dentro de casa, por um homem que repetiu o que foi dito por alguns invasores do Capitólio, no ano passado. Foi o momento de falar da defesa da democracia, um tema que, segundo Biden, não pode ser partidário e sim preocupação de todos. Até hoje, muitos deputados eleitos negam a vitória do democrata dizendo que a eleição foi fraudada.

Oposição republicana

Biden abriu o discurso com uma piada. Disse a Kevin McCarty, o republicano que agora preside a Câmara dos Representantes: “Não quero arruinar a sua reputação, mas não posso esperar para trabalhar com você!”. Ao longo do discurso, o presidente deu muita ênfase ao fato de ter aprovado várias leis com o apoio de alguns deputados republicanos. Ele ainda repetiu o que já virou um bordão: "unido, o país pode tudo".

Com esta fórmula de retórica política, Biden costuma convidar a oposição para trabalhar com ele e atender as necessidades da população. Nesse contexto, ele mencionou a tímida lei, aprovada pelos dois partidos, para dificultar a venda de armas para compradores jovens, um primeiro passo para limitar o acesso fácil a elas. Mas ressaltou que o trabalho não terminou e pediu que as armas automáticas sejam banidas de vez. Como exemplo do que o país é capaz de fazer quando está unido, ele citou o apoio ao governo ucraniano.

Mensagem para a China

Biden ainda alertou a China que agirá se a soberania dos Estados Unidos for ameaçada. Depois de ordenar que a força aérea abatesse um suposto balão de monitoramento chinês no último sábado (4), o democrata disse que não hesitaria em defender os interesses americanos contra Pequim. Mas manteve as portas abertas para dialogar com o principal concorrente no cenário internacional. Washington suspeita que o equipamento foi usado para espionagem.

"Estou comprometido em trabalhar com a China onde for possível promover os interesses americanos e beneficiar o mundo", afirmou Biden. "Mas não se enganem: como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, vamos agir para proteger nosso país. E foi o que fizemos", declarou entre aplausos. 

Biden afirmou que o país precisa de união para "ganhar a competição" com a China. "Não vou pedir desculpas por estarmos investindo para fazer os Estados Unidos mais fortes: investimento em inovação americana, em indústrias que definirão o futuro que a China pretende dominar".

Entretanto, o democrata absteve-se de usar linguagem belicista ao mencionar pelo nome o presidente chinês, Xi Jinping, com quem se encontrou longamente em novembro na Indonésia. Biden afirmou ter dito a Xi que busca "a competição, e não o conflito".

A China e a Ucrânia estiveram entre as poucas questões sobre política externa mencionadas por Biden, no momento em que o presidente cogita anunciar que concorrerá à reeleição em 2024.

Pentágono diz que China rejeitou conversa 

Um caça americano derrubou o suposto balão espião, que segundo os chineses fazia monitoramento climático, quando o objeto estava sobre o Oceano Atlântico. O episódio levou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, a adiar uma visita a Pequim com o objetivo de diminuir as tensões, ao acusar a China de violar a soberania dos Estados Unidos. 

Blinken afirmou que pretendia manter um canal de comunicação ativo com a China. Mas, no Pentágono, um porta-voz disse que Pequim recusou um pedido para conversar sobre o caso. O chefe do Pentágono, Lloyd Austin, solicitou uma ligação segura com seu homólogo chinês, Wei Fenghe, depois que Washington derrubou o balão, disse o general Pat Ryder. "Infelizmente, o PRC rejeitou nosso pedido. Nosso compromisso de abrir linhas de comunicação continuará", acrescentou Ryder, referindo-se à República Popular da China.

A China afirma que era um balão de observação meteorológica itinerante sem propósito militar, mas Washington o classificou como um veículo espião de alta altitude que sobrevoou instalações militares ultrassecretas.

Austin e Wei se encontraram no Camboja em novembro passado, enquanto Washington e Pequim tentavam acalmar as tensões depois que uma visita a Taiwan da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, irritou a China.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.