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Linha Direta

Vitória de Pacheco e Lira mostra que Congresso é conservador, mas disposto a negociar com governo, diz analista

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Com medo de um revés na reta final, o Planalto atuou a favor de Rodrigo Pacheco com a promessa de cargos no segundo escalão. Na Câmara desafio será conciliar vários interessantes que se abrigaram na candidatura de Arthur Lira.

O presidente eleito brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do presidente do Senado Rodrigo Pacheco, esquerda, após uma reunião em Brasília, Brasil, quarta-feira, 9 de novembro de 2022.
O presidente eleito brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do presidente do Senado Rodrigo Pacheco, esquerda, após uma reunião em Brasília, Brasil, quarta-feira, 9 de novembro de 2022. AP - Eraldo Peres
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

A eleição dos presidentes da Câmara e do Senado assegurou mais dois anos de poder aos candidatos apoiados pelo Executivo, mas ninguém acredita que isso significa vida ganha ao governo Lula no trato com o Congresso. Significa sim que o crédito que as invasões golpistas do dia 8 de janeiro deram ao novo governo chegam ao fim e que é hora de mostrar serviço.

A vitória de Rodrigo Pacheco (PSD/MG) e Arthur Lira (PP/AL) também configura nova derrota do bolsonarismo, manchado com as imagens da quebradeira dos três poderes.

A diferença de votos no Senado não foi tão larga como se previa no início, tampouco ficou perto do que cantavam apoiadores do ex-presidente, que nos últimos dias intensificaram o corpo a corpo em defesa de Rogério Marinho (PL/RN). A a ex-primeira dama Michele chegou a acompanhar pessoalmente a votação no Senado.

O analista político Leonardo Barreto destaca ainda outra leitura do resultado, a de que o Congresso se mostrou aberto a negociações, mesmo não tendo o governo uma base tão coesa.

“No final das contas, a gente tem um Congresso que é mais conservador, mas é um Congresso que negocia. Pacheco teve um quórum hoje capaz de aprovar propostas de emendas constitucionais. Foi em cima da linha, mas capaz de aprovar PEC", disse.

"Em relação à Câmara, vai depender muito de quanto o Lula vai reconhecer o papel que o Lira tem hoje como negociador de interesses dentro do Congresso. É possível que haja uma colaboração, mas também muita negociação. Tanto o PT quanto o Lula vão ter que ser bons negociadores, porque não existe mais aquela coisa de maioria automática", completou. 

Para Barreto, o governo Lula entrou em campo para afastar os riscos de uma zebra com Rogério Marinho visando impedir ecos do bolsonarismo no Senado e também para ter uma contrapeso ao poder de Lira na Câmara.

“O governo entendeu a Câmara como cenário já dado, sabia que não podia desafiar o Lira. E o PT está trabalhando para conseguir um espaço importante em alguma comissão. Por outro lado, o governo trabalhou duro pelo Pacheco no Senado, onde concentrou a distribuição de cargos de segundo escalão porque enxerga no Pacheco um cinto de segurança contra o Arthur Lira. E, de certa maneira, tem um cenário mais tranquilo lá para aprovar indicações para o Supremo, para o Banco Central e agências reguladoras”, afirmou o cientista político.

Rede ampla de apoio

Arthur Lira foi eleito com recorde de votos e no discurso disse que pretende trabalhar em sintonia com o governo federal, a fim de tocar propostas de interesse do país, como a Reforma Tributária, mas sem ferir a independência da casa legislativa.

Só que a colcha de apoio que Lira recebeu foi tão ampla que ele mesmo mostrou o desafio que será agradar gregos e troianos.

“Sabemos o valor da preservação da nossa Amazônia, do Pantanal, da Mata Atlântica, de nossos rios, lagoas e mares. Mas devemos também olhar para os povos que dependem da exploração correta dessas regiões. Nossos povos originários precisam da mão protetora do Estado, da assistência e solidariedade de todos e todas. Da mesma forma, temos de olhar com responsabilidade para quem produz, quem planta e colhe o nosso alimento. O agro que nos orgulha e nos fez celeiro do mundo”, pregou Lira após a divulgação de sua vitória.

Recado ao STF

Tanto o presidente da Câmara quanto Pacheco deixaram claro que narrativas e ações golpistas não serão toleradas e que a defesa das instituições democráticas é dever primordial de todos. Porém ambos também destacaram que o protagonismo do Judiciário na política incomoda deputados e senadores.

Para o presidente do Senado, isso pode ser combatido dentro das regras constitucionais.

“Nós devemos solucionar o problema através da nossa capacidade e do nosso dever de legislar. Vamos legislar para colocar limites aos poderes", disse.

"Se há um problema em relação às decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal, legislemos quanto a isso. Se há um problema nos pedidos de vista em relação ao Supremo Tribunal Federal e aos tribunais superiores, legislemos em relação a isso. Se há um problema de competência do Supremo Tribunal Federal, legislemos quanto a isso”, afirmou o presidente do Senado no discurso que antecedeu a votação de seus pares.

 

 

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