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Linha Direta

Macron encerra visita oficial a Washington em bons termos após discutir diferenças com Biden

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Emmanuel Macron foi a Washington como primeiro convidado de Joe Biden para uma visita de Estado determinado a assumir o papel - que antes era de Angela Merkel - de líder que luta pelos interesses de todos os membros da União Europeia, e não só sua nação.

Biden e Macron mostram boa sintonia, apesar das divergências
Biden e Macron mostram boa sintonia, apesar das divergências AP - Andrew Harnik
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Lígia Hougland, correspondente da RFI em Washington

A agenda ambiciosa a ser discutida com o presidente americano incluía tópicos como a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) e suas consequências para a economia europeia, guerra na Ucrânia e como conter a Rússia.

Mas a imprensa americana estava mais focada em uma possível greve dos ferroviários do que na visita do presidente francês. Mesmo na coletiva dos dois chefes de estado nessa quinta (1), em que só foram permitidas cinco perguntas, uma delas foi dirigida somente a Biden e era sobre a negociação dos direitos dos ferroviários. Depois da coletiva, os diários Washington Post e New York Times ainda continuaram a dar mais destaque às questões de política interna e só deram como manchete a declaração de Biden de que ele estava disposto a falar com Vladimir Putin, mas sob algumas condições.

A Casa Branca certamente não deve estar reclamando. É melhor mostrar aos americanos só a parte de sorrisos e declarações de amizade entre Macron e Biden, especialmente depois de o presidente americano ter sido eleito com a promessa de que voltaria a fortalecer as relações entre os EUA e os líderes europeus. Mas Macron não veio a Washington para trocar presentes e participar de jantares de luxo. Os dois chefes de estado tinham que tratar de alguns sérios atritos.

Aparando arestas

Macron veio à capital americana um ano depois de um forte estremecimento com o governo de Biden, pois a França perdeu um contrato de venda de submarinos à Austrália por causa do acordo AUKUS dos EUA com a Austrália e o Reino Unido. E o francês veio para dizer ao seu colega americano que os europeus consideravam as medidas de Biden para reduzir a inflação protecionistas e inaceitáveis.

Apesar dos muitos sorrisos e palavras amigas dos dois presidentes em frente às câmeras, nos bastidores Macron deu seu recado de modo bastante direto. Ele inclusive concedeu uma entrevista ao noticiário matinal de maior audiência nos Estados Unidos, Good Morning America, em que disse que a IRA promulgada por Biden, apesar de ser ótima para os EUA, é injusta com os europeus, que ficam em desvantagem para competir no mercado. O presidente francês chegou a dizer que a lei de redução da inflação poderia até mesmo causar uma “fragmentação do Ocidente”.

Mesmo Biden tendo fama de ser bom de diplomacia, não dá para os americanos ignorarem que esse tipo de clara discórdia entre os EUA e seus mais antigos aliados é algo inédito. Isso pode prejudicar a imagem de Biden, se ele for mesmo tentar uma reeleição em 2024.

Biden defende medidas

Na coletiva, o presidente americano disse que não se desculpava de modo algum pelas medidas criticadas por Macron por serem “super agressivas” em relação à Europa e somente afirmou que não tinha a intenção de prejudicar a Europa. Mas Biden está seguindo a mesma linha de Donald Trump, ao claramente botar os EUA em primeiro lugar e isso pode mudar a sua imagem de “antídoto de Trump” em âmbito global, algo que os governos chinês e russo vão gostar de apontar.

Segundo a imprensa americana, os dois chefes de estado mostraram uma frente unida quanto à agressividade russa na Ucrânia, mas ofereceram respostas divergentes sobre a disposição de negociar com Putin. Na manhã de quinta, Macron disse à imprensa americana que ele pretendia falar com o presidente russo nos próximos dias. Poucas horas mais tarde, Biden afirmou durante a coletiva que ele não tinha nenhum plano imediato de contatar Putin, mas disse que estava preparado para falar com o presidente russo, se ele quisesse negociar o fim da Guerra na Ucrânia. Tanto Macron quanto Biden foram criticados por não se manifestarem sobre os protestos na China contra a opressão do governo, apesar de terem declarado seu apoio aos manifestantes no Irã.

Em 2018, Macron também foi o primeiro convidado de Trump para um jantar de Estado na Casa Branca. O jantar oferecido por Trump contava com pouco mais de 100 convidados e não teve apresentações de estrelas da música. Dessa vez, Macron jantou lagosta, caviar e queijos americanos junto com mais de 400 convidados que assistiram a um show do cantor Jon Batiste.

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