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Linha Direta

“Não dá para falar em quem ganhou ou perdeu", diz especialista sobre debate entre Lula e Bolsonaro

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No primeiro debate do segundo turno, neste domingo (16), Lula e Bolsonaro trocaram acusações sobre pandemia, corrupção, ação social, transposição do São Francisco e crime organizado. Apesar de tenso, o encontro não teve xingamentos nem agressões.

Pandemia, corrupção e programas sociais marcaram os principais confrontos entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro no primeiro debate do segundo turno.
Pandemia, corrupção e programas sociais marcaram os principais confrontos entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro no primeiro debate do segundo turno. AP - Marcelo Chello
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Difícil apontar quem venceu o primeiro debate entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições. O petista claramente se saiu melhor na primeira parte do confronto direto entre eles, onde cada um teve ao todo 15 minutos e o tema dominante foi a pandemia de Covid-19. Mas, no último bloco, Bolsonaro soube controlar melhor o nervosismo e Lula se alongou demais nas respostas sobre o escândalo na Petrobras, garantindo ao adversário cinco minutos livres de fala ao fim.

“Não dá para falar em quem ganhou ou perdeu. O debate teve momentos. No início, Lula desestabilizou Bolsonaro ao sair do púlpito e se dirigir ao expectador. Mas no terceiro bloco, quando  Bolsonaro encosta em Lula e adota, vamos dizer, um tom mais debochado, ele se sai melhor”, afirmou à RFI o analista político Creomar de Souza. “Bolsonaro ficou, no fim, com um bom tempo para falar, prova de que ficou melhor na última fase, mas acabou que não conseguiu sair de sua bolha e falar para além dos seus”, completou.

Não fugindo à regra desses programas nas últimas eleições, o debate avançou pouco em propostas e os dois saíram pela tangente em várias questões formuladas por jornalistas. Numa delas, ambos disseram que não vão aumentar o número de membros do Supremo Tribunal Federal, iniciativa que tem sido alardeada por apoiadores de Bolsonaro, caso o militar seja reeleito, como forma de aumentar a influência do Executivo sobre o Judiciário.

Magro em projetos, mas carregado de personalismo do tipo “eu fiz” pelas duas partes, o debate da Band acabou surpreendendo pelo tom de civilidade entre os arquirrivais. “Foi mais organizado e civilizado do que imaginávamos. O que vimos foram muitos ataques pessoais, porém não ao ponto de descambar para xingamentos ou coisa do gênero”, disse Souza.

Para o analista o fato é que ambos mostraram nervosismo em algum momento e isso ilustra a divisão dos eleitores que tem levado os especialistas a não fazerem prognóstico sobre o que sairá das urnas dia 30. “Não arriscaria dizer. É uma eleição, é aberta, e o resultado será bem apertado. Vemos a cada semana uma eleição mais complexa”, avaliou Creomar de Souza. Para ele, “Lula parece sentir o peso de ter de manter a vantagem atendendo a expectativas de vários segmentos que votaram nele”, ao passo que “Bolsonaro vai usando a máquina como pode, fazendo o jogo que está habituado a fazer”.

Auxílios

Um dos assuntos mais recorrentes do debate foi ação social e auxílio aos mais pobres. "Eu queria me dirigir ao Nordeste. Porque foi o meu governo que triplicou o valor do Bolsa Família. Antes uma mãe ia a um supermercado e saía com o carrinho vazio. Hoje ela consegue comprar de verdade porque aumentamos o valor", afirmou Bolsonaro.

"Eu pergunto quantas universidades e escolas técnicas você construiu e você fala em Bolsa Família! Saiba que fomos nós que levamos adiante o maior programa de distribuição de renda que esse país já teve. E não era apenas Bolsa Família, mas muito mais, inclusive aumento de 74% do salário mínimo", replicou Lula.

Na primeira etapa do debate, os dois usaram boa parte do tempo para trocar acusações acerca da pandemia de coronavírus, compra de vacinas e programas sociais. Todo mundo viu que você não visitou um hospital e fez pouco caso da doença. Você leva nas costas mais de 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas – acusou Lula. "A vacina foi disponibilizada em dezembro e nós começamos a vacinar em janeiro. Todo mundo que quis recebeu a vacina", retrucou Bolsonaro

Os dois também divergiram ao falar de ações em favelas.

"Eu conheço bem o Rio e o senhor esteve na comunidade do Salgueiro. Não havia nenhum policial ao seu lado, mas você estava rodeado de traficantes. É tão verdade sua afinidade com bandidos e traficantes que as urnas mostraram isso, porque o senhor teve 4 de cada 5 votos vindos dos presídios", criticou Bolsonaro.

"Eu tenho orgulho de ser o único candidato a presidente que vai a uma favela sem colete a prova de balas. E fui mesmo com as pessoas dizendo para tomar cuidado porque o Bolsonaro tem amigos milicianos. Fui no complexo do Alemão num evento com milhares de brasileiros extraordinários, gente honesta que acorda às 5 horas para trabalhar. Os grandes bandidos você sabe onde estão. Seu vizinho tinha mais de cem armas em casa", respondeu Lula.

Crime organizado

Num outro momento de dedos em riste, o tema foi crime organizado. "Tivemos em São Paulo vários militares mortos em ataques criminosos. E o senhor não transferiu o traficante Marcola para um presídio federal. Tive eu que assumir para fazer com Sérgio Moro a transferência dele para um presidente de segurança máxima. Por quê não transferiu?" perguntou Bolsonaro.

"Quem tem ligação com milícias e criminosos você sabe que não sou eu. Você sabe quem é. E se tivessem pedido a gente transferiria, a gente faria. Mas o governo de São Paulo deve ter tido suas razões para não querer a transferência. E fui eu quem construiu cinco presídios de segurança máxima nesse país. Quantos você ergueu? Nenhum", respondeu Lula.

Transposição do rio São Francisco

Bolsonaro e Lula também disputaram a paternidade da transposição do São Francisco. "O projeto é do meu governo que executou 88% das obras. Meu adversário fez apenas 3,5%"Você poderia ter pelo menos sensatez de falar: ‘gente, eu quero dizer que essa obra aqui é do presidente Lula, ele foi mais competente do que eu, eu só vou aqui dar um empurrãozinho para acabar esse pedacinho que tá faltando’. Mas dizer que foi sua? Você acha que alguém acredita?”, disse Lula.

"Era pra ter acabado em 2010, no seu governo. Passou para 2012, no governo Dilma. Só que o Brasil vivia uma explosão de corrupção. O senhor negou água para seus irmãos nordestinos. Eu fui lá, com o Rogério Marinho, que agora se elegeu senador pelo Rio Grande do Norte. O povo reconheceu o trabalho dele", respondeu Bolsonaro. "E foram também vários embates sobre corrupção", disse.

"O senhor comprou 51 imóveis com dinheiro vivo e vem me falar de corrupção?", questionou o candidato petista. "Senhor Lula, o senhor está querendo voltar ao local do crime, é isso que está querendo, mas o povo não vai permitir", afirmou Bolsonaro. 

Além dos dois candidatos o que chamou muito a atenção foi a presença do ex-juiz Sérgio Moro na claque de Bolsonaro, inclusive auxiliando o candidato nos intervalos. Moro deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal, mas agora diz que eles têm mais afinidades que discordâncias.

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