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Linha Direta

Militantes da extrema direita e negacionistas da pandemia se unem a manifestantes pró-Rússia na Alemanha

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Atos em apoio à Rússia reuniram centenas de pessoas em cidades da Alemanha no último fim de semana, suscitando a preocupação das autoridades. Entre os participantes, estão militantes da extrema direita e negacionistas da pandemia de Covid-19.

Manifestantes com bandeiras russas em Kaufbeuren, na Alemanha, no último domingo, 10 de abril de 2022.
Manifestantes com bandeiras russas em Kaufbeuren, na Alemanha, no último domingo, 10 de abril de 2022. AP - Karl-Josef Hildenbrand
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Marcio Damasceno,correspondente da RFI em Berlim

Manifestações pró-Rússia tomaram as ruas de grandes cidades alemãs nos últimos dias. Em Hannover (norte) e Stuttgart (sudoeste), ocorreram carreatas com centenas de automóveis. Em Frankfurt (oeste), 800 pessoas realizaram uma marcha depois que uma carreata foi proibida.

Segundo os organizadores dos atos pró-Rússia na Alemanha, os protestos são contra uma suposta discriminação que a comunidade russa estaria sofrendo no país. Eles afirmam que desde o começo da invasão na Ucrânia, os cidadãos de língua russa são alvo de animosidades na sociedade alemã.

De acordo com números oficiais, desde o último 24 de fevereiro, foram registrados 383 delitos contra russos na Alemanha. Mas as autoridades também contabilizaram 181 delitos contra ucranianos. Entre essas agressões, há principalmente ofensas, danos materiais e alguns atos de violência.

Cerca de 2 milhões de russos vivem atualmente na Alemanha. A comunidade é um dos maiores grupos migratórios do país, formado principalmente por indivíduos vindos da União Soviética a partir dos anos 1980.

"Parem de odiar os russos" diz cartaz exibido durante uma manifestação pró-Moscou em Frankfurt, no último  domingo, 10 de abril de 2022.
"Parem de odiar os russos" diz cartaz exibido durante uma manifestação pró-Moscou em Frankfurt, no último domingo, 10 de abril de 2022. AP - Boris Roessler

Resistência é mais numerosa

Esses atos são vistos por grande parte dos alemães como um respaldo à guerra iniciada por Moscou contra a Ucrânia. A resistência a esse tipo de mobilização é grande na opinião pública. 

Os protestos pró-Rússia atraíram um número bem maior de manifestantes contrários no último fim de semana. A mobilização foi acompanhada por passeatas de solidariedade à Ucrânia, mais numerosas. 

Em Hannover, por exemplo, 350 veículos participaram da carreata pró-Rússia, enquanto mais de 3 mil pessoas manifestaram solidariedade à Ucrânia no centro da cidade. Parte do esforço policial na segurança desses atos constituiu em evitar confrontos entre os dois grupos. 

O embaixador da Ucrânia em Berlim, Andri Melnik, também se disse indignado, afirmando que a Alemanha deve proibir protestos com a bandeira da Rússia. Já as autoridades alemãs respondem que isso viola o direito de manifestação.

Qualquer símbolo que possa ser interpretado como apoio ao ataque russo contra a Ucrânia é passível de punição na Alemanha. É o caso das letras letra Z e V, utilizadas por apoiadores da invasão russa na Ucrânia. A lei alemã prevê até três anos de prisão para quem fizer apologia à guerra.

Temor de nova onda de atos

As autoridades alemãs se veem agora diante do que pode ser uma nova onda de manifestações que podem gerar tensão nas ruas do país, como foi o caso dos protestos contra as restrições relacionadas à pandemia de Covid-19.

Na semana passada, a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, se mostrou preocupada com esses atos. "As autoridades de segurança estão observando com bastante atenção quem está glorificando a guerra de agressão de Putin", afirmou, acrescentando que o governo não deve permitir que a o conflito afete a sociedade alemã. 

A ministra disse temer também que a propaganda russa seja utilizada por grupos de extrema direita para gerar violência nas ruas. "Vemos que extremistas de direita querem usar a guerra para seus próprios fins, assim como tentam se aproveitar de cada crise para divulgar um discurso de ódio", apontou Faeser.

Negacionistas e extremistas de direita entre os pró-russos

A relação entre extrema direita e as manifestações pró-Rússia na Alemanha é conhecida. O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) é, aliás, o único no parlamento alemão que apoia o presidente russo, Vladimir Putin. Além disso, há também laços com grupos negacionistas da pandemia. 

O serviço de inteligência do estado da Baviera, no sul da Alemanha, identificou uma grande simpatia pela guerra de Putin em grupos de aplicativos de mensagens sobre a Covid-19. Nesses fóruns, segundo os investigadores, a Rússia é considerada um país que é vítima de uma "campanha de difamação e de um complô do Ocidente". Os militantes tratam Putin como um "combatente do imperialismo ocidental". 

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