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Linha Direta

Com volta às aulas e UTIs pediátricas cheias, vacinação infantil ainda é lenta no Brasil

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O governo brasileiro prometeu enviar até semana que vem doses suficientes para que estados imunizem todos a partir de cinco anos. Medida é crucial com a volta às aulas, em meio à alta de novos casos.

Os postos de saúde poderiam receber hoje mais de um milhão de pessoas de zero a 11 anos, fora a aplicação de doses nos jovens e adultos. Mas em média pouco mais de 120 mil pequenas e pequenos têm tomado a vacina contra o coronavírus por dia no país.
Os postos de saúde poderiam receber hoje mais de um milhão de pessoas de zero a 11 anos, fora a aplicação de doses nos jovens e adultos. Mas em média pouco mais de 120 mil pequenas e pequenos têm tomado a vacina contra o coronavírus por dia no país. AP - Eraldo Peres
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Falta de doses, receio dos pais, fake news e empenho zero do governo federal em promover campanhas para vacinar os pequenos. Com isso, o ritmo da imunização de crianças no país é lento, muito aquém da capacidade do SUS.

Os postos de saúde poderiam receber hoje mais de um milhão de pessoas de 5 a 11 anos, fora a aplicação de doses nos jovens e adultos. Mas em média pouco mais de 120 mil pequenas e pequenos têm tomado a vacina contra o coronavírus por dia no país.

A doença já matou pelo menos mil e quinhentas crianças de zero a 11 anos, número que pode ser bem maior devido às subnotificações. Em janeiro foram mais de 2.100 internações de menores de idade, três vezes mais que em janeiro de 2021.

O médico Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, disse à RFI que frente ao total de mortos parece que a doença não afeta as crianças, mas só parece.

“Mesmo que haja um risco menor se comparado com o caso dos idosos, esse agravamento do quadro em crianças por causa da Covid existe sim e é muito grande, inclusive é o maior entre todas as doenças do calendário infantil. Crianças adoecem, precisam de internação, muitas vezes por períodos longos, ficam com sequelas. Ninguém quer ver o filho internado no hospital”, diz Kfouri. Ele ressalta que o receio de muitos pais, contaminados por informações falsas que têm circulado nas redes sociais e grupos de WhatsApp, não se confirma na realidade.

“Estamos com UTIs pediátricas lotadas. Precisamos proteger as crianças com a vacina. Claro, com imunizantes certificados, seguros. E nós temos dois hoje nesse sentido. Muitos pais hesitam por conta de possíveis reações. O que temos visto é o contrário. Reações em crianças pequenas são muito menores do que em jovens e adultos”, afirma.

Doses

O ministro da saúde, Marcelo Queiroga, disse que até o dia 15 irá distribuir aos estados doses suficientes para imunizar todas as crianças a partir dos 5 anos. Muitos estados chegaram a suspender essa etapa da campanha por falta de doses.

No Brasil, no entanto, é o público mais novo, de zero a quatro anos, que mais tem sofrido com mortes e internações por Covid. A expectativa das autoridades é de que após a análise da dose pediátrica Pfizer pelo FDA nos Estados Unidos para crianças de 0 a 4 anos, o pedido também seja encaminhado à Anvisa, que já tem em mãos solicitação de aplicação da Coronavac (Sinovac/Butantan) para menores a partir dos 3 anos.

Atualmente no Brasil são aplicados os imunizantes da Pfizer, para crianças de cinco anos ou mais, e a Coronavac para o público a partir dos 6 anos.

Retorno às aulas

Esta semana vários estados iniciaram o ano letivo com aulas presenciais, reforçando a necessidade de ampliação da vacinação infantil, num momento em que o país registra recorde de novos casos e mortes na cada dos mil por dia.

As aulas do Cauã, de 9 anos, começam semana que vem. Ele tomou a vacina nessa segunda-feira e contou à RFI que está ansioso em voltar para a escola. “Quero ver meus colegas, meus amigos. E também quero estudar. Estava legal ficar em casa, mas acho que já está meio entediante”.

A mãe dele, Núbia Vieira, está mais aliviada porque o filho tomou a primeira dose da vacina contra o coronavírus, mas acha que os pais poderiam ter o direito de escolher qual vacina aplicar nos pequenos.

“Cheguei aqui no posto pensando que meu filho fosse receber a dose da Pfizer. Li muito sobre o assunto e vi que essa vacina tem uma eficácia maior. Sei que todas são boas e eficientes. Mas como ele vai voltar para aula presencial na rede pública, gostaria que ele tivesse tomado a Pfizer, que foi a vacinada aplicada em todos os jovens até aqui. Mas não deixaram. Disseram que estão aplicando agora a Coronavac na idade dele. De todo jeito estou mais aliviada porque sei da importância da vacinação”, diz.

Ela espera que outros pais façam o mesmo para que o retorno às aulas seja mais seguro. “Como a vacinação não é obrigatória, é preciso a conscientização dos pais. Seria muito bom se todos os alunos estivessem imunizados. A gente ficaria mais tranquilo”.

O presidente Jair Bolsonaro, que tem atuado como garoto propaganda antivacina, recebeu recado direto dos partidos que lhe dão apoio para baixar o tom no discurso negacionista. Aliados lembraram que pesquisas apontam apoio da vacina mesmo entre eleitores que dizem votar no presidente. O receio é de que bater tanto nessa tecla lhe tire alguns votos. Ele prometeu controlar as críticas, mas ninguém arrisca se vai mesmo agir assim e até quando.

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