Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Candidatos da extrema direita e esquerda avançam para o 2° turno das eleições presidenciais no Chile

Publicado em:

Os resultados das eleições do domingo (21) sacudiram o cenário político no Chile: os dois principais blocos partidários foram derrotados e ficaram de fora da disputa. O candidato da extrema direita, José Antonio Kast (Partido Republicano), e o candidato da esquerda, Gabriel Boric, (Convergência Social) avançaram para o segundo turno. Com 95,5% dos votos contabilizados à meia-noite desta segunda-feira (22), Kast somava 27,95% e Boric 25,71%.

O candidato da extrema-direita José Antonio Kast e o esquerdista Gabriel Boric se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais do Chile em 19 de dezembro.
O candidato da extrema-direita José Antonio Kast e o esquerdista Gabriel Boric se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais do Chile em 19 de dezembro. © AP Photo/Esteban Felix/Aliosha Marquez
Publicidade

Camilla Viegas, correspondente da RFI em Santiago 

O Serviço Eleitoral do Chile (Servel) começou a divulgar os primeiros resultados do primeiro turno das eleições presidenciais na noite de domingo. Em Santiago, onde os termômetros chegaram a marcar 32oC, as filas eram extensas nas zonas eleitorais. 

Os eleitores votaram para presidente, deputado, conselheiro regional e senador. Para este último cargo, que tem mandato de oito anos, somente nove das dezesseis regiões do país escolheram seus representantes. 

O Chile, onde o voto não não é obrigatório, 15 milhões de eleitores estavam aptos a votar. Aproximadamente 45% do eleitorado participou das eleições de domingo.

"Caminhos da paz"

O atual presidente do Chile, Sebastián Piñera, discursou no domingo, parabenizando os dois candidatos que avançaram para o segundo turno. “Peço sinceramente a José Antonio Kast e Gabriel Boric, do fundo de suas almas e com minha experiência como presidente do Chile, que busquem sempre os caminhos da paz e não da violência, os caminhos da unidade e não da divisão, os caminhos do diálogo e não da desqualificação, os caminhos da responsabilidade e não do populismo, os caminhos da verdade e não do engano, os caminhos da moderação e não da polarização”, declarou.

Nas últimas semanas, Piñera enfrentou um pedido de impeachment que foi aprovado pela Câmara dos Deputados, mas rejeitado pelo Senado. Ele foi acusado de corrupção e tráfico de influência a partir dos documentos de venda de sua parte no projeto da mina Dominga, revelados pela investigação jornalística que ficou conhecida como Pandora Papers. 

Antes mesmo da finalização da contagem dos votos, o candidato José Antonio Kast já se proclamava vencedor do primeiro turno e discursou para centenas de eleitores reunidos em Santiago, classificando o processo eleitoral deste domingo (21) como sendo o mais importante dos últimos trinta anos no país. “O Chile merece a paz, o Chile merece a liberdade e é isso que vamos dar a ele”, declarou.

Prevendo a recuperação da “ordem, do progresso e da liberdade”, José Antonio Kast prometeu acabar com o que ele classifica de “terrorismo” na região da Araucanía e reestabelecer a segurança. O candidato do Partido Republicano, que não tem aliança com outros partidos, conseguiu mais de 1,8 milhão de votos. 

Ao final, ele classificou seu oponente, Gabriel Boric, como “comunista” e finalizou seu discurso dizendo: “​​Não vamos apenas eleger um presidente. Vamos escolher entre a democracia e o comunismo”.

Segundo turno "difícil" 

Poucos minutos depois, era a vez de Gabriel Boric discursar. O candidato do partido Convergência Social, que mantém aliança com partidos de esquerda (“Apruebo Dignidad”), reconheceu que o segundo turno “será difícil”. “Cada luta do nosso país, cada triunfo, cada derrota também, foi um aprendizado que nos trouxe até aqui. A quem lutou contra a ditadura militar, a quem votou ‘não’’, a quem votou ‘aprovo’, com esperança e sentido de futuro”, disse Boric, referindo-se também aos dois plebiscitos mais importantes da história recente do país, o que decidiu pelo fim da ditadura militar Pinochet, em 1988, e o que determinou a redação de uma nova Constituição, em 2020. Gabriel Boric conseguiu cerca de 1,7 milhão de votos.

Em entrevista à RFI, Pierre Ostiguy, Doutor em Ciências Políticas pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e professor titular da Escola de Administração Pública da Universidade de Valparaíso, fez um paralelo entre o resultado deste domingo e as manifestações sociais de 2019, quando milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra a desigualdade social. 

"No Chile, nem todos pensam o mesmo. Obviamente, os que saíram às ruas para se manifestar presencialmente por mais direitos sociais não apoiam Kast. Acho que muitas pessoas que não são de esquerda e não são tão politizadas começaram a acreditar que o Chile que conheciam estava desaparecendo e que esta nova popularidade da esquerda militante, sem vergonha em relação à violência para mudança, assustou a muitos. Acho que Boric e Frente Amplio [coligação] se portaram com muita inteligência nessas águas, sendo resistência vociferante", destaca o professor Ostiguy.

Candidato "outsider"

A grande surpresa da noite foi o resultado obtido por Franco Parisi, que conquistou o terceiro lugar: um candidato "outsider" que ganhou amplo apoio com suas críticas permanentes à direita e à esquerda e que não pisou no Chile durante toda sua campanha. Parisi, que ficou conhecido como o “candidato virtual” mora nos Estados Unidos e tem uma ordem de prisão no Chile por uma dívida de pensão alimentícia de mais de 207 milhões de pesos chilenos (aproximadamente R$ 1,3 milhão).

“Acredito que o Chile tenha caminhado por uma polarização extrema, depois passado por uma convergência para o centro, talvez excessivano começo dos anos 2000, culminando em uma nova dinâmica recente de uma certa polarização. Não há dúvida de que a alta polarização mina o piso eleitoral de uma direita moderada e favorece uma direita dura e um tanto imune aos direitos humanos, à negociação e à busca de valores comuns. Simplificando: uma lógica de polarização produz o resultado oposto daquela que conduziu a uma, certamente excessiva, política de convergência, em termos de valores básicos como direitos humanos, democracia, liberalismo político, indubitavelmente compartilhados pela direita moderada”, finaliza o professor Pierre Ostiguy.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.