Chilenos escolhem novo presidente, na eleição mais indefinida em 30 anos de democracia
O Chile vai às urnas neste domingo (21) para a escolha do novo presidente, além de parlamentares e legisladores regionais. Essa é considerada a eleição mais importante, mas também mais incerta, em 31 anos de democracia chilena.
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Sete candidatos concorrem à presidência e quatro deles têm chances de chegar ao segundo turno, conforme as pesquisas de opinião, encerradas há duas semanas, de acordo com a legislação eleitoral. Cerca de 15 milhões de eleitores são esperados nas seções eleitorais, que fecham às 18h locais (mesmo horário em Brasília).
A votação acontece dois anos depois de históricos protestos por mais justiça social e em plena redação de uma nova Constituição chilena. Entre os favoritos, estão representantes dos dois extremos do espectro político: o deputado da Frente Ampla Gabriel Boric, de esquerda, de apenas 35 anos, e o advogado e político de extrema direita José Antonio Kast, de 55 anos, do Partido Republicano.
Nas ruas de Santiago, a correspondente da RFI, Justine Fontaine, ouviu da eleitora Odette que o candidato Boric representa “a alternativa que responde às demandas sociais, como a melhoria das pensões e da educação”. Já Magali optou por Kast porque está mais “preocupada com a segurança, a imigração ilegal e o tráfico de drogas” no país.
50% de indecisos
Mas muitos permaneciam indecisos na véspera do encontro com a urna, como Miguel Angel, de 46 anos. “A única coisa que eu sei é que não vou votar no Kast”, disse. As sondagens apontavam que, na reta final da campanha, a metade dos eleitores não tinha decidido o voto.
O atual presidente, o conservador Sebastian Piñera, deixa o poder após dois mandatos e com um recorde de popularidade baixa, de 12%. A violência dos protestos contra as desigualdades sociais e o governo levou chilenos como Ximena, vendedora de 54 anos, a se voltar para o candidato da extrema direita. “Enquanto era pacífico e ordenado, estava bom para mim. Mas o vandalismo saiu fora de controle.”
Dois projetos de país
Outros, entretanto, acham que as chances do candidato passar para o segundo turno são pequenas, depois do intenso movimento de contestação que buscava derrubar, justamente, os resquícios da ditadura de Augusto Pinochet no país. “O presidente que vamos eleger deverá promulgar a Constituição que estamos escrevendo agora. É um presidente de transição”, alega o eleitor de esquerda Alejandro. “As demandas sociais estão fortíssimas”, argumenta.
"Que a esperança vença o medo", disse Boric neste domingo, depois de votar em sua cidade natal, Punta Arenas, no extremo-sul do país. Ele é o mais jovem candidato presidencial da história.
"Trata-se de um projeto coletivo. Que sejamos capazes de construir um Chile que seja justo, que seja digno, que tenha aposentadoria digna para os idosos, que tenha um sistema de saúde que não discrimine, que consigamos descentralizar e que o poder esteja nos territórios", afirmou.
Kast, por sua vez, promete manter o modelo neoliberal herdado de Pinochet e frisa que vai “restabelecer a ordem, a segurança e a liberdade” no país. “Dois modelos de sociedade se enfrentam: o que nós representamos, de liberdade e justiça, e um que não queremos, que cairia no caos, na fome e na violência”, ameaçou, no encerramento da campanha, na quinta-feira (18), ao lado da esposa e de oito de seus nove filhos.
Outros candidatos moderados também estão no páreo: Sebastián Sichel, apoiado pela coalizão de direita no poder, e Yasna Provoste, candidata democrata-cristã, que conta com os partidos tradicionais de centro-esquerda.
A participação dos jovens, fortemente mobilizados nos protestos de 2019, poderá ser decisiva. O voto não é obrigatório no país desde 2012.
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