Abertura dos Jogos de Tóquio é marcada por referências à Covid-19 e elogia resiliência de atletas
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Responsável por adiar a Olimpíada em um ano e fazer dela um evento atípico, a pandemia de Covid-19 foi lembrada desde os primeiros minutos da cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio nesta sexta-feira (23). O evento deu a largada a duas semanas de competições, que acontecerão sem público. A pira olímpica ficará acesa em Tóquio até 8 de agosto.
Gilberto Yoshinaga, correspondente da RFI em Tóquio
Demorou, mas finalmente os Jogos Olímpicos de Tóquio estão oficialmente abertos. Sem público presente em um estádio com capacidade para 68 mil pessoas, a Olimpíada adiada por um ano em função da pandemia da Covid-19 teve uma cerimônia minimalista na noite desta sexta-feira, devido à necessidade de manter o distanciamento social. E um tema frisado foi justamente a doença, por conta da qual o evento foi sóbrio, sem o clima festivo que costuma caracterizar esse tipo de celebração.
A cerimônia de abertura ocorreu entre 20h e 23h no horário local (8h e 11h, no horário de Brasília). A adaptação ao contexto atípico pôde ser notada logo aos primeiros minutos do evento, em que a pandemia foi lembrada, inclusive com um minuto de silêncio em memória das vítimas. Performances enxutas, com a participação de poucos atores e dançarinos, lembraram que muitos atletas tiveram de improvisar em isolamento, correndo em esteiras ou administrando seus treinamentos em casa.
Com arquibancadas vazias, a cerimônia foi prestigiada por um seleto grupo de centenas de autoridades, dentre as quais se destacaram Naruhito, imperador do Japão, que declarou a abertura oficial dos Jogos e deu boas-vindas às delegações de todo o mundo; Jill Biden, primeira-dama dos Estados Unidos; e Emmanuel Macron, presidente da França, já que Paris sediará a próxima edição dos Jogos, em 2024.
Elogio à resiliência dos atletas
O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o alemão Thomas Bach, reverenciou a determinação e a resiliência de todos os atletas. “Hoje é um momento de esperança. Um momento muito diferente do que tínhamos imaginado, mas aproveitemos”, declarou o dirigente, que foi campeão olímpico de esgrima nos Jogos de Munique, em 1976. “Estamos finalmente reunidos. Este sentimento de unidade é a luz no fim do túnel para esta pandemia”, acrescentou.
Um dos pontos altos da noite foi o show de fogos de artifício, uma especialidade dos orientais, além de uma performance tecnológica que representou o globo terrestre no céu de Tóquio. E a grande surpresa, mantida em segredo pelos organizadores do evento até o último momento, foi a escolha da tenista Naomi Osaka, quatro vezes campeã de torneios do Grand Slam, como última condutora da tocha e responsável por acender a pira olímpica. Filha de pai haitiano e mãe japonesa, ela representou um Japão mais antenado ao contexto global e à diversidade.
Delegações reduzidas
A pedido da organização do evento, em razão da pandemia, as delegações foram reduzidas, com a orientação de contarem com um mínimo de quatro e um máximo de 20 pessoas. Além disso, todos tiveram de obedecer regras rígidas de distanciamento. A maioria dos países levou entre 10 e 20 integrantes, mas o Brasil preferiu enviar apenas quatro representantes.
Dois atletas foram os porta-bandeiras do time verde-amarelo: o levantador Bruno Rezende, da seleção masculina de vôlei, e a judoca Ketleyn Quadros, medalhista de bronze nos Jogos de Pequim, em 2008. Na cerimônia, a dupla teve a companhia do chefe da missão brasileira Marco La Porta e de mais um oficial administrativo.
A presença de casais como porta-bandeiras da maioria das delegações, aliás, foi um destaque inédito na cerimônia de abertura desta edição dos Jogos.
O Brasil só surgiu no desfile às 22h08 no horário local (10h08 em Brasília), mais de duas horas após o início do evento, já que a sequência em que as delegações participaram da abertura obedeceu ao alfabeto japonês - o Brasil foi o número 152 de um total de 206 delegações participantes desta edição dos Jogos.
Popularidade ainda está em baixa
Apesar de o Japão estar no terceiro de quatro dias de um feriado prolongado, a reação dos japoneses aos Jogos tem se mostrado tímida nestes primeiros dias – vale lembrar que as disputas em algumas modalidades tiveram início na quarta-feira, antes mesmo da abertura oficial.
Segundo pesquisa recente, 55% da população japonesa ainda se mostra contrária à realização da Olimpíada - número que chegou a superar 80% até o início deste mês. Acredita-se que o grande teste de popularidade dos Jogos será neste sábado (24), quando se iniciam as disputas em 17 modalidades. Dentre elas, algumas muito apreciadas pelo público, como judô, natação, vôlei e ginástica artística.
Pelas ruas do centro de Tóquio, manifestações contrárias à realização dos Jogos têm sido frequentes durante toda esta semana. Japoneses e estrangeiros têm se unido em protestos contra a Olimpíada, tanto em razão do alto custo do evento – cerca de € 13 bilhões –, quanto pelo risco de agravamento que o evento pode representar à situação da pandemia.
Denúncia
Ainda na tarde desta sexta-feira (23) foi acendida a fagulha de uma possível polêmica. O jornal “Asahi Shimbun” publicou a denúncia de uma funcionária da Vila Olímpica, segundo a qual poucos atletas estariam obedecendo as regras sanitárias de prevenção à Covid-19 e que não há fiscalização a respeito. De acordo com ela, muitos atletas estariam se recusando a higienizar as mãos ou a usar luvas para manipular alimentos nos refeitórios, o que é visto como um risco sanitário, já que descumpre o protocolo preconizado.
Até a realização da abertura dos Jogos, o Comitê Olímpico ainda não havia se manifestado a respeito desta denúncia. Desde 1º de julho, cerca de 90 casos de Covid-19 já foram detectados entre pessoas ligadas aos Jogos, incluindo alguns atletas.
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