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Linha Direta

Nova fase da CPI da Covid pode atingir governo Bolsonaro "de forma grave", diz analista político

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O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tem sido alvo, há meses, de muitas críticas por sua gestão da epidemia de Covid-19 no Brasil. Mas o relato de uma conversa, que ele não nega, o colocou de vez na mira da CPI. Das várias acusações que pairam atualmente contra ele, a principal dúvida hoje é se o presidente prevaricou, ou seja, se nada fez mesmo tendo consciência de uma suposta irregularidade. Para analista político, o novo fato deve balançar o governo. 

Servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda (à esq.), o deputado federal Luis Miranda, o senador Omar Aziz e o senador Renan Calheiros durante sessão da CPI da Covid em 25/06/2021.
Servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda (à esq.), o deputado federal Luis Miranda, o senador Omar Aziz e o senador Renan Calheiros durante sessão da CPI da Covid em 25/06/2021. REUTERS - ADRIANO MACHADO
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Convencido da veracidade da denúncia e para manter o assunto na ordem do dia, o senador Randolfe Rodrigues (REDE/AP) vai ao Supremo Tribunal Federal nesta semana com uma notícia-crime contra Bolsonaro, que deverá ser analisada pela Procuradoria Geral da República. Na CPI, além de requerimentos para ouvir envolvidos, haverá um esforço dos parlamentares para quebrar sigilos e analisar documentos que possam embasar as acusações.

Para a senadora Simone Tebet (MDB/MS), o momento é de total concentração em possíveis provas em torno de contratos suspeitos. “A fase agora é de mergulhar profundamente na investigação das denúncias gravíssimas de crimes, assim mesmo, no plural, cometidos pelo governo federal. Estamos diante de possível crime de fraude, corrupção, tráfico de influência, peculato, prevaricação, envolvendo pelo menos um contrato bilionário de vacinas. Um governo que negava a vacina de repente quer acelerar um contrato, uma negociata envolvendo a saúde das pessoas, é repugnante”, alega.

Foi a parlamentar que na última sessão da CPI espremeu em perguntas e argumentos o deputado Luis Miranda (DEM/DF) até que ele confirmasse o nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP/PR), que já foi ministro da Saúde, como alvo das palavras de Bolsonaro na referida conversa sobre as supostas irregularidades. Miranda relatou que em março foi com o irmão, Luis Ricardo Miranda, servidor da saúde responsável por analisar contratos de compra, alertar o presidente sobre a pressão que vinha sofrendo no ministério para agilizar o acordo de importação da Covaxin. Bolsonaro teria respondido:  “isso é coisa do Ricardo Barros” e prometido uma investigação por parte da Polícia Federal, o que não aconteceu.

Em nota, Barros afirmou que não há dados concretos nem acusações objetivas contra ele e que a citação de seu nome pelo presidente teria ocorrido numa menção a um contrato com outra empresa para a compra de remédios em apuração pela justiça. Segundo ele, isso não envolveria a Precisa, empresa que representa o imunizante indiano, o mais caro adquirido pelo governo brasileiro. Já havia empenho dos valores, mas a compra subiu no telhado diante da denúncia de Ricardo Miranda.

Suspeitas de mais irregularidades

Neste fim de semana vieram à tona suspeitas envolvendo outra negociação, desta vez para a compra de um novo imunizante chinês, do laboratório CanSino, cujo preço seria ainda mais elevado que o da Covaxin e tinha como intermediária uma empresa brasileira, a Belcher, que seria de uma pessoa também ligada a Ricardo Barros. A empresa chinesa disse não é mais representada pelo grupo e o governo afirmou que, diante disso, a negociação foi suspensa.

Muitos avaliam que a nova fase da CPI tem um potencial maior de provocar estragos no governo. “Não tenho dúvida disso. Em primeiro lugar porque a CPI tem dado demonstração de um trabalho muito sério e técnico. Em segundo lugar, esse problema, caso se confirmem todos os indícios que temos hoje e que já foram amplamente divulgados, atinge o cerne do discurso bolsonarista, de defesa da moralidade pública, de não aceitação de corrupção", afirmou à RFI o historiador Antonio Barbosa, da Universidade de Brasília.

Segundo ele, a insistência de Bolsonaro em seguir ignorando a gravidade da epidemia no Brasil piora ainda mais sua situação. "A pandemia continua fazendo suas vítimas de uma maneira trágica, e a atuação do governo federal tem se demostrado pífia, completamente equivocada no combate à doença. Tudo isso está se refletindo nas últimas pesquisas de opinião pública. O apoio a Bolsonaro está caindo, e caindo numa velocidade acentuada. Acredito que a CPI, utilizando uma estratégia adequada e fazendo uso de recursos técnicos que tem a sua disposição no próprio Senado Federal, pode atingir de uma forma extremamente grave o governo Bolsonaro”, completou o analista.

Já o presidente, em mais um evento que provocou aglomeração no fim de semana, atacou a Comissão do Senado. “Temos uma CPI de sete pilantras que não querem investigar quem recebeu o dinheiro. Apenas quem mandou o dinheiro. Não adianta provocarem, inventarem, quererem nos caluniar, nos atacar 24 horas por dia, porque não conseguirão. Só uma coisa me tira de Brasília: é o nosso Deus”, disse Bolsonaro. 

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