Acessar o conteúdo principal
RFI Convida

Covid no Brasil continua sem controle e causa preocupação ao resto do mundo, diz médico da MSF

Publicado em:

"Muitos países tiveram dificuldades, mas a gente vê o Brasil com um grande atraso na implementação de medidas que são sabidamente efetivas. Então o Brasil hoje é um dos epicentros da pandemia, continua sendo um país de preocupação [para o resto do mundo], e se caracteriza pelo atraso, pela relutância, pela hesitação em se implementar medidas preventivas", afirma o médico epidemiologista Antonio Flores, consultor da ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) no Brasil para a Covid.

Profissionais de saúde atuando em Manaus (AM) no combate à epidemia de Covid-19.
Profissionais de saúde atuando em Manaus (AM) no combate à epidemia de Covid-19. Michael DANTAS AFP
Publicidade

A MSF comemora 50 anos em 2021. No Brasil, a entidade completa 30 anos. Duas datas simbólicas em um período excepcional de saúde pública. A atuação brasileira da MSF e a resposta do país à pandemia da Covid 19 são alguns dos assuntos abordados pelo epidemiologista Antonio Flores, consultor da ONG no Brasil. 

Flores explica que organização está na luta contra a Covid no Brasil desde o início da pandemia, em abril de 2020. “Nossos primeiros projetos foram na região Sudeste, Rio e São Paulo, que foi onde a epidemia começou. Depois, ainda na primeira onda, em Manaus. Nesse período, a organização abriu projetos em mais de oito estados, nas regiões Norte e Nordeste, onde o sistema de saúde é mais vulnerável. E nós temos então trabalhado em parceria com as secretarias de saúde e das autoridades locais no combate à Covid”, conta.

"Neste momento, estamos focando em testagem de pessoas, rastreamento de contatos e acompanhamento de pessoas em risco antes de chegarem ao hospital”, disse ele.

Colapso no sistema de Manaus

Flores afirma que o Brasil tem um sistema de saúde com capacidade de resposta à epidemia. "E o nosso trabalho é trazer a experiência humanitária de emergência e agregar ao trabalho já existente no sistema de saúde".

"A nossa atuação mais intensa foi em Manaus, nas duas ondas, porque Manaus foi o destaque do país nesta pandemia. Nós temos tentado fortalecer o sistema de saúde e a capacidade local", conta. 

Para ele, a questão mais crítica foi justamente achar recursos humanos que pudessem combater a epidemia. "Na primeira onda, as pessoas foram pegas de surpresa pelo colapso no sistema de saúde. Na segunda onda, as pessoas já estavam bastante cansadas – e esse é um padrão que a gente tem visto na epidemia –, bastante traumatizadas por tudo o que aconteceu. Então a gente tem uma dificuldade de mobilizar recursos, pessoas."

A MSF trabalha no combate à Covid no Brasil com uma equipe de emergência. "Esta equipe tem capacidade de se deslocar para alguns lugares para responder às necessidades agudas e, conforme as necessidades são avaliadas, a organização procura recrutar profissionais locais para agregar nesta resposta", diz.

Antonio Flores - Médico MSF
Antonio Flores - Médico MSF © Arquivo Pessoal

Gestão da Covid no Brasil

"Nós avaliamos que a resposta do Brasil à pandemia é bastante preocupante. Esse média de 2.000 mortes significa que a epidemia não está controlada. E nós sabemos que estamos entrando no que seria uma terceira onda. Mas o Brasil nunca teve um controle efetivo da epidemia. O cenário que nós temos hoje aliado às tendências que já vimos no passado mostra uma intensa circulação e transmissão do vírus e uma perspectiva limitada de recuperação nas próximas semanas ou meses", avalia. 

"A resposta brasileira tem se destacado justamente pela falta de coordenação em nível nacional", lamenta. 

Segundo o médico, no curto prazo, a probabilidade de recuperação é bastante baixa. "As lições que foram aprendidas ao longo deste ano e meio não foram implementadas. Nós precisaríamos de medidas preventivas como o uso extenso de máscaras, uma aceleração maciça da vacinação, mensagens chegando de forma coerente e consensual para a população… E essas medidas não têm sido implementadas", constata. 

Além disso, diz ele, as variantes são elemento de preocupação. "Sem o controle efetivo da circulação do vírus, novas variantes podem surgir e são um elemento que pode piorar a situação do país", conclui.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.