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Esporte em foco

Pela primeira vez em mais de 50 anos, França não terá tenista na terceira rodada de Roland Garros

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Lá se vai mais um ano sem nenhum tenista francês ou francesa vencer a Roland Garros. Não bastasse o regime de títulos que já dura vários anos – décadas no caso dos homens – nesta edição do prestigioso Grande Slam, a França não terá nenhum representante na terceira rodada. Bastaram cinco dias de competições para que a aventura dos 28 atletas franceses no torneio de simples chegasse ao fim. Uma situação inédita em mais de 50 anos e extremamente decepcionante para a história do tênis da França.

Os tenistas franceses Fiona Ferro e Richard Gasquet perderam na última quinta-feira (3) e deixaram a edição 2021 da Roland Garros.
Os tenistas franceses Fiona Ferro e Richard Gasquet perderam na última quinta-feira (3) e deixaram a edição 2021 da Roland Garros. © Pierre RENE-WORMS
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A sentença foi dada na quinta-feira (3). A francesa Fiona Ferro caiu depois de três sets diante da americana Jennifer Brady (6-4 2-6 7-5). Em seguida, foi a vez da francesa Kristina Mladenovic ser batida pela estoniana Anett Kontaveit por dois sets a zero (6-2, 6-0), após 51 minutos de jogo. Richard Gasquet conseguiu resistir um pouco mais – foram 2 horas e 14 minutos na quadra –, mas o francês não foi páreo para o espanhol Rafael Nadal e perdeu por três sets a zero (6-0, 7-5, 6-2). 

Após a derrota, Gasquet conversou com a imprensa e tentou amenizar a decepção com o fiasco francês nesta edição da Roland Garros. No entanto, não escondeu a preocupação com a evolução do tênis na França. 

"Tivemos uma geração vitoriosa. Estávamos entre os 10, 20 primeiros, então chegávamos muito frequentemente nas oitavas, nas quartas. Teve jogador que foi até às semifinais. Então, a gente não se questionava. Mas, agora quando temos quatro jogadores que começam a se cansar um pouco, é preciso correr atrás do prejuízo e espero que isso vá acontecer o mais rápido possível", disse.

Ao mesmo tempo, Gasquet tentou exibir um pouco de otimismo: "Acho que temos bons jovens tenistas e é preciso tentar impulsioná-los, que os atletas mais experientes os ajudem e que todo mundo tente manter o ânimo. É verdade que é um período difícil para todo mundo, mas é justamente preciso se unir para que uma bela geração chegue no tênis francês".

Mosqueteiros quase aposentados

De fato, os chamados "quatro mosqueteiros" da França – Richard Gasquet, Jo-Wilfried Tsonga, Gaël Monfils e Gilles Simon – chegaram a ocupar o top 10 do ranking da ATP, mas nunca ganharam um Grande Slam. Hoje todos eles têm mais de 30 anos, se aproximam da idade de anunciar suas aposentadorias e nada garante que eles voltarão a disputar a Roland Garros. 

O problema, segundo a imprensa esportiva francesa, é que a nova geração ou não está pronta ou ainda não despontou. Tsonga afirma estar consciente disso e lança um apelo: "Tem coisas que podem ser feitas. Reunir pessoas que se conhecem, pessoas que têm vontade e estão motivadas para fazer as coisas avançarem. Também não somos os piores. Todo mundo busca campeões. Na França, isso não é diferente, também queremos isso. Temos candidatos, mas é preciso que eles evoluam. E, sobretudo, é preciso não ter freios ou um elástico nas costas o tempo todo nos puxando para trás e nos desacelerando".

Tsonga sabe do que fala. Ele mesmo amargou uma derrota na primeira rodada da Roland Garros nesta semana contra o japonês Yoshihito Nishioka (6-4, 6-2, 3-6, 7-6 [7/5]). 

"Estou um pouco decepcionado de ter perdido. Eu gostaria de ter levado a partida para um quinto set para ver o que poderia acontecido. Mas também estou satisfeito porque talvez seja a primeira vez que eu consigo desenvolver um jogo que se aproxima mais do que eu sou capaz de fazer. Mas é verdade que é uma derrota na Roland Garros e dá uma dor no coração de sair logo na primeira rodada. Mas quero continuar trabalhando. Espero que daqui a pouco as coisas melhorarão, sobretudo no físico. Vou tentar conseguir um pouco mais de capacidade que me permitem ter melhores performances." 

Kristina Mladenovic, durante jogo contra Anett Kontaveit da Estônia.03/06/2021
Kristina Mladenovic, durante jogo contra Anett Kontaveit da Estônia.03/06/2021 REUTERS - SARAH MEYSSONNIER

Mesmo clima do lado das tenistas mulheres, depois de muita esperança que Fiona Ferro pudesse acabar com o regime de títulos das francesas no torneio. Em oitavo lugar na Roland Garros 2020, ela conversou com a imprensa depois da derrota na quinta-feira para a finalista do último Open da Austrália, a americana Jennifer Brady. 

"Gostaria de ter feito melhor, sobretudo em nível de jogo. Estive bem em alguns momentos, mas faltou estabilidade ao longo da partida. Eu não joguei muito nestes últimos tempos, então, meu sentimento é de muita vontade de voltar às quadras para tentar melhorar nos próximos torneios. Para ser sincera, não esperava que não tivesse mais francesas na segunda rodada. Claro que essa é uma constatação um tanto triste e é complicado fazer uma análise, principalmente depois de uma derrota minha. Por isso, no meu caso, eu sei que vai ser preciso retornar ao trabalho para fazer melhor".

O francês Richard Gasquet durante jogo contra contra o francês Hugo Gaston.01/03/2021
O francês Richard Gasquet durante jogo contra contra o francês Hugo Gaston.01/03/2021 REUTERS - BENOIT TESSIER

Décadas sem levantar a taça

A última a levantar a taça em Paris de simples foi Mary Pierce, há 21 anos. Já entre os homens, a situação é ainda pior e data de 1983, quando Yannick Noah triunfou.

Para o célebre treinador francês Patrick Mouratoglou, técnico da estrela americana do tênis Serena Williams, o fiasco da França na Roland Garros é triste, mas não é surpreendente. Segundo ele, é todo o sistema de gerenciamento dos tenistas que deixa a desejar e precisa se adaptar. 

Mouratoglou não poupa críticas à Federação Francesa de Tênis, que segundo ele, centraliza a preparação dos atletas, sem deixar espaço para academias concorrentes, que poderia elevar o nível dos esportistas e treinadores.

"Se quisermos brilhar em Roland Garros, precisamos primeiro parar só de trabalhar dentro do centro de treinamentos e nas quadras duras do local. Depois, historicamente, a federação vive em um círculo fechado, sempre com as mesmas pessoas e nunca dá abertura para outras academias, clubes, treinadores. Tem muita gente que trabalha bem na França e devemos todos nos apoiar. Mas é preciso considerar os benefícios da concorrência, como acontece em todos os setores e atividades. Na França vemos isso de forma negativa e impedimos a concorrência de entrar na dança - o que, na minha opinião é um grande erro."

Tudo indica que a nova organização da Federação Francesa de Tênis, agora sob a presidência de Gilles Moretton, terá um grande desafio a partir do final da Roland Garros 2021. O certo é que essa edição do torneio entrará para a história como uma das piores do tênis francês. 

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