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Esporte em foco

Paris 2024: COI é críticado ao defender participação de atletas russos com bandeira neutra

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No momento em que a guerra na Ucrânia completa um ano, uma espinhosa questão voltou à tona nas últimas semanas: os atletas russos e bielorrussos devem participar dos Jogos de Paris, em 2024?

O logotipo oficial da candidatura de Paris aos Jogos Olímpicos-2024 projetado no Arco do Triunfo em Paris, em 9 de fevereiro de 2016.
O logotipo oficial da candidatura de Paris aos Jogos Olímpicos-2024 projetado no Arco do Triunfo em Paris, em 9 de fevereiro de 2016. AFP
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Em um comunicado divulgado na quarta-feira (22), o Comitê Olímpico Internacional (COI) declarou que os Jogos Olímpicos não podem ser “fonte de divisão e de exclusão de atletas”, defendendo seu projeto de permitir a participação de atletas russos e bielorrussos na Olimpíada de 2024, apesar da invasão da Ucrânia pela Rússia, com o apoio de Belarus.

Na mensagem, intitulada Guerra na Ucrânia, um ano depois, o COI reitera sua solidariedade ao povo ucraniano diante de uma guerra que considera “cruel”, em que “a dor e o sofrimento vão além da imaginação”. O texto também menciona o apelo à paz e diz que o COI está pronto a dar sua “modesta contribuição a todo esforço para edificar a paz”.

O comitê lembrou que, em fevereiro de 2022, após o início da guerra, adotou sanções contra a Rússia e Belarus, como a exclusão de atletas e do uso de símbolos dos dois países em eventos esportivos internacionais. A medida ainda está em vigor, lembra a entidade, que está no centro de uma avalanche de críticas ao sinalizar com a possibilidade de os esportistas russos e bielorrussos poderem competir com bandeira neutra.

No início da semana, um grupo de 30 países, incluindo a França, país-sede da Olimpíada de 2024, enviou ao Comitê Olímpico Internacional uma carta pedindo maior esclarecimento sobre os critérios de neutralidade da entidade.

“O problema para o COI hoje é que, há cerca de um ano, o comitê saiu de sua posição apolítica, tomou uma postura política contra a Rússia, e hoje está finalmente tentando se despolitizar novamente. No entanto, vemos que é tarde demais. Finalmente ficou claro para todos que o esporte é de fato político e que o COI toma decisões políticas”, afirma Lukas Aubin, especialista de geopolítica do esporte em entrevista à RFI.

Não se pode ficar "neutro"

Vozes de peso se somam às críticas contra o Comitê Olímpico, como a do prefeito de Kiev, Vitali Klitschko. Ex-campeão olímpico de boxe, ele estima que não se pode ficar “neutro” diante das mortes na guerra. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em entrevista à rádio francesa Franceinfo, há duas semanas, também mostrou toda sua oposição à opção ventilada pelo COI de autorizar atletas russos a competir com bandeira neutra.

"Eu não sou favorável a essa opção. Não devemos permitir o desfile de um país que está agredindo um outro e fingir que não estamos vendo nada. Eu não sou a favor de ter uma delegação russa nos Jogos de Paris”, ela declarou. Questionada se o Comitê Olímpico deveria permitir a vinda dos russos e bielorrussos a Paris em 2024, ela retrucou: “Neste caso eu não concordarei com essa posição e vou me posicionar, mas ainda temos tempo pela frente antes de decidir”.

O Comitê Olímpico Internacional é quem tem a prerrogativa de tomar decisões sobre os eventos que organiza, mas não deixa de estar em uma posição delicada, pois o esporte para o presidente russo também é um instrumento político. “Toda a problemática atual da participarão ou não dos atletas russos sob uma bandeira neutra nos Jogos de Paris 2024 está ligada ao fato de que, para Vladimir Putin, o esporte é essencialmente político”, afirma Aubin, autor do livro “La Sportokratura sous Vladimir Putin".

“Desde que chegou ao poder no final de 1999 e início de 2000, ele fez do esporte uma arma política, como na era soviética, como durante a Guerra Fria e como no esporte entre os Estados Unidos e a URSS. E os atletas, embora obviamente cada um tenha seus próprios interesses políticos, sua própria postura, etc., em geral, eles são usados pelo regime russo para promover seus interesses e espalhar a influência da Rússia internacionalmente”, acrescenta o autor.

Recorrer ao Tribunal

O governo da Rússia já sinalizou que, se o país for impedido de participar de competições como a Olimpíada, vai recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte. Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já acenou com a possibilidade de boicotar Paris 2024 caso atletas russos e bielorrussos possam participar das competições. O presidente do COI, Thomas Bach, pediu que o líder ucraniano retire essa ameaça.

Os desdobramentos da guerra é que deverão definir as decisões a serem tomadas, o que pode demorar semanas ou até meses, mas enquanto isso, os diferentes protagonistas vão continuar exercendo pressão uns sobre os outros.

“Hoje, observamos que há muita pressão envolvendo muitos países ocidentais, com a Ucrânia na liderança, claro. Por outro lado, temos o COI, que está tentando encontrar uma solução para respeitar sua posição apolítica original, evitando um boicote da Ucrânia. Na realidade, há uma espécie de atitude de espera e observação no momento do processo decisório, que está ligada em particular ao fato de que a situação na Ucrânia é atualmente muito instável e que não sabemos o que pode acontecer nas próximas semanas ou meses. Há muitos cenários possíveis”, conclui o especialista.

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