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Brasil-Mundo

Cerca de 15 mil novas crianças brasileiras são matriculadas nas escolas públicas portuguesas

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O número corresponde à metade do total de novas inscrições de crianças estrangeiras para o pré-escolar e os quatro primeiros anos do ensino fundamental nas instituições públicas de ensino em Portugal. A adaptação ao português falado e escrito em Portugal ainda é um desafio para alunos brasileiros. A presidente da Casa do Brasil de Lisboa, Cyntia de Paula, chama a atenção para um dos problemas enfrentados em salas de aula, o “preconceito linguístico”.

Profª Ana Cristina Almeida durante um workshop na Universidade de Coimbra.
Profª Ana Cristina Almeida durante um workshop na Universidade de Coimbra. © Arquivo pessoal
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Fábia Belém, correpondente da RFI em Lisboa

Para o próximo ano letivo, que começa no mês que vem, as escolas públicas portuguesas já receberam pouco mais de 15 mil novas matrículas de alunos brasileiros para o pré-escolar e os quatro primeiros anos do ensino fundamental. O número corresponde à metade do total de novas inscrições de crianças estrangeiras no país. E não entram nestas contas as renovações de matrículas, que são automáticas. De longe, o Brasil aparece como o país mais representativo, pois Angola vem atrás com 2.622 novos estudantes, seguido da França com 1.173. 

Para Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa (CBL), os números não apenas refletem o crescimento da comunidade brasileira em Portugal, mas também revelam uma nova configuração da imigração de cidadãos do Brasil. Associação de imigrantes sem fins lucrativos, a CBL sempre assistiu chegar “uma pessoa do casal, depois o outro”. Isso continua, conta Cyntia, mas nos últimos anos, a Casa tem percebido “esse processo migratório sendo feito por toda a família e, consequentemente, com as crianças em idade escolar”.

Cyntia também ressalta quão importante é ter crianças de outras nacionalidades nas escolas.

Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa
Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa © Rita Ansone

“Uma escola diversa, uma escola composta por crianças de diferentes geografias, com diferentes culturas é uma oportunidade muito positiva, obviamente, não só para a educação, mas para o país como um todo”, reforça.

Preocupações

Ao comentar as preocupações mais presentes na vida escolar de novos estudantes brasileiros, Cyntia de Paula destaca o idioma. A adaptação ao português falado e escrito em Portugal ainda é um desafio para alunos brasileiros. A presidente da Casa do Brasil de Lisboa chama a atenção, inclusive, para um dos problemas enfrentados em salas de aula, que é o “preconceito linguístico”, assegura.

De acordo com Cyntia, nos atendimentos que faz e nas reuniões que organiza, a Casa do Brasil de Lisboa recebe inúmeros relatos sobre a desvalorização da língua portuguesa falada nas ex-colônias. Ela defende que as escolas do país promovam debates com as crianças e os professores, no sentido de esclarecerem “que não há [português] errado, [que o português de Portugal e o do Brasil] são diferentes”.

Na opinião da presidente da Casa do Brasil de Lisboa, as diferentes variantes da língua portuguesa deveriam ser encorajadas, promovidas. “Acho que é um desafio que nós temos ainda para os próximos tempos”, frisa.

Ao comentar os casos de bullying baseados na nacionalidade sofridos por alunos brasileiros em contexto escolar, Cyntia de Paula esclarece que há alguns casos, “mas não de forma generalizada”.

Sobre o assunto, a doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de Coimbra, Ana Cristina Almeida, explica “que somos muito mais marcados pelas experiências traumatizantes ou pelos maus exemplos”, mas que a regra “é de acolhimento” no ambiente escolar português.

Profª Ana Cristina Almeida, doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de Coimbra
Profª Ana Cristina Almeida, doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de Coimbra © Arquivo pessoal

Estratégias para melhorar a adaptação dos estudantes

Na opinião de Ana Cristina Almeida, acolher estudantes estrangeiros requer uma abertura às diferenças por parte das escolas. Ela também ressalta que algumas estratégias de preparação antes mesmo de acontecer o movimento migratório das famílias poderia ajudar no processo de adaptação dos estudantes brasileiros, como a existência de grupos de acolhimento que fizessem “a ponte e a preparação” dos alunos e das suas famílias “com base em informação realista” do ambiente escolar do qual farão parte.

“É diferente a relação que as pessoas têm entre si, é diferente a organização curricular, a dinâmica de escola. É tudo diferente”, salienta Ana Cristina Almeida, que também é professora-auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Informação e direitos

Neste contexto de preparação, a Casa do Brasil de Lisboa, explica Cyntia de Paula, tem tentado fazer “esse trabalho prévio” dotando a comunidade de informações sobre como funciona o sistema escolar português, “sempre atrelado à importância da partilha dos direitos [das pessoas migrantes]".

Conselho aos pais brasileiros

Aos pais de crianças que vão ingressar nas escolas portuguesas, e que porventura venham a observar alguma dificuldade deles próprios ou dos filhos no ambiente escolar, a doutora em Psicologia da Educação, Ana Cristina Almeida, deixa um conselho: “Diria que não se isolassem e que não se fechassem nas suas dificuldades. Partilhassem [as suas dificuldades] não só com outros pais, mas também com as figuras da escola, com os diretores de turma, com o conselho pedagógico, com os representantes dos pais na escola”.

"Tentem ser atores", sugere Ana Cristina, “atores presentes tanto nas dinâmicas da escola, como nas dinâmicas de pais, como nas dinâmicas extracurriculares, que muitas vezes é por aí que se estabelecem as relações de afeto e de proximidade”.  

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