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Brasil-Mundo

Artista brasileira expõe em Lisboa obras com releitura da estética portuguesa

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“Submersos” é o novo trabalho em pintura e desenhos da artista carioca Maria Lynch, que está de volta à Lisboa com uma exposição que tem como inspiração a própria capital portuguesa.

A artista carioca Maria Lynch inaugura exposição em Portugal.
A artista carioca Maria Lynch inaugura exposição em Portugal. © Divulgação
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Por Luciana Quaresma, correspondente da RFI em Lisboa

“Quando comecei a vir para Lisboa, há oito anos, eu fiquei muito impressionada porque todo lugar que eu olhava eu via porta, janela, piso, mesas, cadeiras antigas do lado de fora das casas indo para o lixo. Era uma cidade sendo desfeita e transformada. O mais fascinante para mim foi esta poética de inversão do interno estar no externo. A partir daí eu comecei uma pesquisa que se desdobrou nesta exposição. Comecei a coletar este material na rua e levar para meu ateliê. Depois comecei a remontar e a reconstruir uma grande escultura e desenhar e pintar estas partes. A casa e a arquitetura sempre estiveram presentes conceitualmente no meu trabalho, mas, pela primeira vez, formas mais geométricas e tridimensionais apareceram nestas pinturas”, explica a artista.

“Submersos”: demolir e ressignificar

Maria Lynch traz nesta exposição pinturas em médio e grande formato em telas negras que criam um diálogo com o público e, de acordo com a artista, é um espelho de como nos relacionamentos com nossas memórias e fantasias por meio de formas e estruturas.

“Esse apagamento em que eu utilizo o preto foi uma solução formal para recriar o desenho a partir das pinturas, mas também esse apagamento fala sobre demolir e ressignificar. O que escolho seleciona uma metáfora do processo inconsciente e como lidamos com as nossas próprias memórias, histórias e fantasias. O que de real é em nossas memórias, essas fissuras e entranhas que estão dentro e estão fora falam disso”, explica a artista.

O português João Silvério, que já trabalhou com a artista brasileira, é o curador da exposição e explica que "Submersos" é também uma reflexão do próprio trabalho da artista. “As pinturas da Maria Lynch são contentores de regulação e de ocultação. Essas obram também revelam e simultaneamente ocultam formas inventadas que se relacionam com imagens e fragmentos de cidades, ou objetos estruturais trabalhados com uma paleta cromática muito singular. O que o público pode ver são imagens principalmente que tem como matriz o desenho onde aparecem fragmentos que, em parte, são ligados a objetos que podemos identificar como arquiteturas que não vamos descobrir nunca quais são e assim o público pode entrar no seu universo onírico, mas no seu universo ficcional e ter uma experiência de paisagens que não imaginavam”, explica o curador.

“A casa ou o contentor, imaginário, de desejos e de emoções, é também presente nos desenhos, alguns destes executados a partir das pinturas, como uma reflexão sobre seu próprio trabalho”, diz João Silvério.

Um longo trabalho de construção

“Foi um trabalho de 'working in progress' que eu nunca tinha experimentado antes. Como minha mãe mora aqui em Lisboa, eu acabava vindo duas vezes por ano e toda vez que eu vinha ficava trabalhando no ateliê dela, então ao longo de cerca de seis anos eu fui construindo estas pinturas”, comenta Lynch.

Esta nova série de trabalhos estará exposta na galeria Eritage Arts Projects, do também carioca João Cavalcanti. "O que mais me impressiona no trabalho da Maria é a capacidade de criar experiências que são capazes de reduzir, diluir as fronteiras entre o artista e o público, entre a obra e o espectador. Existe um ritmo no trabalho da Maria que parece querer reprogramar nosso estado psíquico e expandir nossa perspectiva de observação, de reflexão sobre nós mesmos. É um trabalho que sai deste universo particular da Maria e se conecta com uma consciência coletiva, e eu acho isso muito poderoso”, afirma Cavalcanti.

Para o galerista, essa exposição de Maria Lynch na Eritage, galeria-estúdio dedicada à pluralidade artística e à liberdade criativa, é uma forma de honrar as origens brasileiras. “Ser brasileiro e poder receber e apresentar artistas do Brasil com certeza tem um sabor muito especial. É um compromisso pra mim, é honrar as minhas origens e poder apresentar esses artistas para a comunidade europeia e para o mundo. A Maria não só representa o Brasil com a América Latina que também é muito especial. O propósito da Eritage é criar este diálogo transcultural e valorizar a diversidade de indivíduos e origens. Ser uma ponte entre Brasil, Portugal e África, mas não só países ligados a lusofonia, é uma amplitude das narrativas de trazer esta conexão  por meio dessa matriz universal que nos une, trazer o olhar do outro, expandir nosso próprio olhar por meio do olhar para o outro que é assim que nós podemos refletir e romper com alguns padrões que nós não precisamos mais carregá-los, e sim ressignificá-los”, explica.

A exposição individual “Submersos”, de Maria Lynch, pode ser vista até 30 de abril.

Poster Maria Lynch
Poster Maria Lynch © Divulgação

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