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Brasil-Mundo

Brasileiros organizam Carnaval em Portugal com “gostinho de Brasil”

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Maior comunidade estrangeira em Portugal, os brasileiros amantes do Carnaval não deixam a festa passar em branco. Do samba ao maracatu, eles celebram a folia de norte a sul do país.

Baque do Tejo arrasta foliões na Baixa de Lisboa
Baque do Tejo arrasta foliões na Baixa de Lisboa © António Cabral
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Fábia Belém, correspondente da RFI em Lisboa

Bruno Gutman trocou o Rio de Janeiro pela cidade portuguesa de Braga em 2019. No Brasil, ele nunca esteve à frente de um bloco de Carnaval, mas quando chegou a Braga, a história mudou.

O advogado brasileiro explica que em Braga existe uma festa, “mas nada semelhante ao que nós conhecemos no Brasil. Então, eu conversei com alguns amigos e [disse]: 'Já que não tem, vamos fazer. Vamos fazer aqui alguma coisa carioca, do samba’.”

Na cidade de Braga, Bruno Gutman (de camisa vermelha) entre músicos e foliões na estreia do Bloco Minho de Janeiro, em 2020-
Na cidade de Braga, Bruno Gutman (de camisa vermelha) entre músicos e foliões na estreia do Bloco Minho de Janeiro, em 2020- © Divulgação do bloco

Minho de Janeiro

Foi assim que, em 2020, nasceu o bloco Minho de Janeiro. O nome é uma homenagem ao Minho, região onde Braga está situada, e ao Rio de Janeiro. Quando chegou a hora de pensar no samba-enredo, a ideia foi manter contato com alguns amigos compositores de samba residentes no Rio.

No entanto, os amigos não conheciam a cidade portuguesa. "Eu fiquei quase três horas ao telefone explicando a história de Braga”, conta Gutman. Com as informações passadas pelo advogado, André Cabeça e Dudu Linhares compuseram o samba-enredo do Minho de Janeiro, que foi interpretado por Carlinhos Pavarotti.

O primeiro Carnaval do bloco foi um sucesso, juntou mais de duas mil pessoas num dos jardins da cidade. Depois veio a pandemia, e para não deixar o Carnaval de 2021 passar em branco, o Minho de Janeiro realizou uma roda de samba online.

Ano passado, a festa foi no Mercado Municipal de Braga, e é lá onde também acontece a folia deste ano, neste sábado (18). Um grupo de músicos brasileiros que moram na cidade e a DJ Verinha Pinheiro vão dar o tom da festa. Como diz Bruno Gutman, vai ser “um Carnaval brasileiro” com samba, marchinhas de Carnaval, axé e frevo.

E na cidade de Braga, que nunca teve o Carnaval como tradição, tem gente que não para de pensar na folia. “Durante o ano todo as pessoas me procuram e me perguntam ‘E o Carnaval, vai ter, vai ter?’”, conta Gutman. Segundo ele, a festa “já tá enraizando aqui na comunidade”. Há pessoas que pediram até a realização de Carnaval fora de época. “Eu falei ‘Calma, gente’”, relata Bruno, aos risos.

Preservar as tradições

O fundador do bloco Minho de Janeiro não tem dúvidas de que o Carnaval leva alegria aos brasileiros que estão longe da terra natal. Graças à festa, “elas resgatam um pouco os momentos felizes que viveram no Brasil e acho que isso é importante”, salienta.

Foliões na cidade de Braga, em 2020, no primeiro Carnaval do Bloco Minho de Janeiro
Foliões na cidade de Braga, em 2020, no primeiro Carnaval do Bloco Minho de Janeiro © Divulgação do bloco

Como na cidade grande parte da comunidade brasileira tem filhos, participar do bloco acaba sendo uma oportunidade “de manter alguma coisa da nossa cultura, da nossa tradição, para mostrar para essas crianças”, observa o brasileiro. Um dos seus três filhos já nasceu em Portugal.

Baque do Tejo

Enquanto em Braga o carioca Bruno Gutman lidera o Bloco Minho de Janeiro, em Lisboa, o paulista Fabrício Soares prepara o Baque do Tejo para o grande dia.

-Fabrício Soares durante apresentação do Baque do Tejo
-Fabrício Soares durante apresentação do Baque do Tejo © Arquivo pessoal

“Domingo é dia de vestir a fantasia, passar purpurina e ir para a rua. O Carnaval é a ocupação da rua com a nossa manifestação brasileira”, anuncia Fabrício. Para ele, além de ocupar as ruas, domingo de Carnaval também é dia “de partilhar a energia que vem do tambor”.

O Baque do Tejo é um grupo de percussão sem fins lucrativos inspirado no Maracatu de Baque Virado, um dos mais importantes ritmos populares do Nordeste do Brasil e que nasceu no estado de Pernambuco. “[O Baque do Tejo] tem essa função, um pouco do resgate da cultura, daquele gostinho de Brasil”, explica.

Ao som dos tambores do Baque do Tejo, foliões brincam o Carnaval de 2020 na Baixa de Lisboa
Ao som dos tambores do Baque do Tejo, foliões brincam o Carnaval de 2020 na Baixa de Lisboa © António Cabral

Fabrício Soares mora em Portugal há quase 20 anos e constrói instrumentos de percussão. A ideia de criar o Baque do Tejo com um amigo surgiu depois que acabou o grupo de maracatu do qual participava. Isso foi há nove anos.

"Essa coisa já [vinha] pulsando dentro de mim, e eu falei ‘Ué, eu não posso ficar sem tocar, né’. Era uma coisa que eu sentia falta. E tudo o que eu sou hoje é graças a esse encontro com o tambor e com essa magia", diz Soares, que é natural de Várzea Paulista. 

“Só faz sentido se a gente tiver junto”

O primeiro Carnaval do Baque do Tejo foi em 2015. Atualmente, o grupo conta com cerca de 50 participantes, que são como uma grande família. A maioria são brasileiros, mas há também portugueses, italianos e argentinos, que se encontram para ensaiar o ano todo. Na tarde deste domingo de Carnaval (19), o grupo vai sair pelas ruas da Mouraria, um dos mais tradicionais bairros de Lisboa.

“Todo ano a gente tem essa noção na cabeça [de] que é um momento muito especial, porque atinge muitas pessoas, a gente chega a muitas pessoas” e “só faz sentido se a gente tiver junto”, reflete.

Neste Carnaval, o Baque do Tejo espera reunir umas 6 mil pessoas, um mar de gente que vai celebrar o Carnaval ao som do maracatu. O corpo percussivo do grupo é formado por instrumentos como caixas e tambores, agbês, que são as cabaças com miçangas, gonguê (ferro) e timbal.

O que vai se ouvir pelas ruas “é uma vibração pulsante, sincopada, que mexe diretamente com o coração das pessoas”, pontua o paulista.

No Mercado Muncipal de Braga, foliões do Bloco Minho de Janeiro durante o Carnaval do ano passado-
No Mercado Muncipal de Braga, foliões do Bloco Minho de Janeiro durante o Carnaval do ano passado- © divulgação do bloco

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