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Brasil-Mundo

Leitura de conto sobre o Saci-Pererê na Suíça incita crianças a valorizar os negros e a floresta

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A Suíça conheceu um dos personagens mais populares do folclore brasileiro: o Saci-Pererê. Ele desembarcou no país em grande estilo, em um evento realizado no Museu de Etnografia de Genebra, o MEG. 

Uma história sobre o Saci é contada num museu de Genebra, na Suíça.
Uma história sobre o Saci é contada num museu de Genebra, na Suíça. © Valéria Maniero
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Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

As crianças tiveram a oportunidade de descobrir um pouco da história desse personagem que adora fazer travessuras e pregar peças. Eu escrevi um conto sobre ele, chamado “O superpoder do Saci”, que valoriza a cultura brasileira e as nossas influências. A ideia foi mostrar esse super-herói que resiste ao tempo e representa um pouco o próprio Brasil, falando também de amizade e de respostas coletivas para a solução dos nossos problemas.

A história foi apresentada em francês pela professora brasileira Dulcimara Aparecida da Silva. Depois da leitura do conto, as crianças participaram de um ateliê comandado por Adriana Batalha, mediadora cultural no MEG. 

Crianças que moram em Genebra conhecem o Saci, personagem do folclore brasileiro.
Crianças que moram em Genebra conhecem o Saci, personagem do folclore brasileiro. © Valéria Maniero

A RFI conversou com Dulcimara, que contou o que significou para ela estar ali, num museu de Genebra, apresentando uma história sobre um personagem brasileiro.  

“Falar do Saci é trazer um pouco do nosso folclore para uma sociedade que não conhece nada. Poder apresentar a nossa cultura, o nosso Saci-Pererê é um orgulho para mim. Interpretar, falar para as pessoas que não falam português, que não são brasileiras, que nunca ouviram falar do Saci, é muito gratificante”, explicou.

A professora Dulcimara Aparecida da Silva contou uma história sobre o Saci que foi escrita pela jornalista Valéria Maniero.
A professora Dulcimara Aparecida da Silva contou uma história sobre o Saci que foi escrita pela jornalista Valéria Maniero. © Divulgação

Na opinião da professora, “é assim que a gente passa a cultura, com um pouquinho de cada vez, nas pequenas relações, nos pequenos causos que a gente conta”. A reação das crianças, segundo ela, foi melhor do que esperava. “As crianças não gostaram da história, elas amaram”, disse Dulcimara. E por quê?

“Porque o Saci é um personagem fantástico, de superpoderes. Eu acho que elas se veem um pouco também no Saci, porque ele adora rir, fazer brincadeiras. Todas as vezes que tinha uma brincadeira no conto, elas achavam o máximo, se identificavam em algumas situações com aquilo que fazia o Saci.”

O Saci na visão das crianças 

Filha de mãe brasileira e pai franco-suíço, Eva Manon Barbey, de 7 anos, falou sobre o que aprendeu a respeito do personagem. 

“Eu vim escutar a história do Saci-Pererê e fiz uma caixa da natureza. Ele gosta da natureza, ele protege, faz 'farsas' (brincadeiras). Eu já conhecia o Saci, aprendi no curso de português”, explicou a menina. 

Valentina Stadelmann, de 14 anos, que fala português e francês, era uma das adolescentes que foram ao museu naquele dia e conversou com a RFI sobre a experiência. “Eu achei legal porque a gente está falando do Saci, que é uma história brasileira, na Suíça. É muito interessante. O Saci é engraçado, faz brincadeiras com os animais e com as pessoas da floresta”, disse. 

Eva Barbey, de 7 anos, diz gostar do Saci porque ele faz brincadeiras.
Eva Barbey, de 7 anos, diz gostar do Saci porque ele faz brincadeiras. © Valéria Maniero

As irmãs Olivia, de 6 anos, e Vitória Arai, de 3, que moram em Pully, foram ao evento com os pais Aldo Arai e Aline Carvalho. Toda sorridente, Vitória disse à RFI que tinha gostado do Saci, porque ele “fazia brincadeiras com os animais”. Já a irmã contou que tinha ido ao museu “passear” e conhecer um pouco mais sobre esse personagem. 

As irmãs Olivia e Vitória Arai, de 6 e 3 anos, estiveram no museu para escutar uma história sobre o Saci e participar do ateliê.
As irmãs Olivia e Vitória Arai, de 6 e 3 anos, estiveram no museu para escutar uma história sobre o Saci e participar do ateliê. © Valéria Maniero

Há 15 anos em Genebra, a brasileira Ririnan da Silva Alcântara, de 51, levou a neta Beatriz, de 9, para conhecer mais sobre o seu país. “Foi super legal, muito interessante. As crianças que aqui nasceram precisam aprender um pouco da cultura dos seus pais.” 

Por que o Saci foi parar num museu da Suíça 

Mediadora cultural do museu, a brasileira Adriana Batalha, que comandou o ateliê com as crianças, disse que a ideia do projeto do Saci nasceu a partir de uma foto do Saci exibida na nova exposição de Dom Smaz e da jornalista Milena Machado Neves – "Helvécia, uma história colonial esquecida". "Achei que era uma oportunidade de apresentar a cultura brasileira para a comunidade, dando a oportunidade de as crianças conhecerem o Saci e também de verem a exposição”, conta Adriana.

Yannick Gilestro, Julie Dorner, Adriana Batalha, mediadores culturais do MEG, com a jornalista Valéria Maniero, que escreveu o conto, e a professora Dulcimara da Silva, que contou a história.
Yannick Gilestro, Julie Dorner, Adriana Batalha, mediadores culturais do MEG, com a jornalista Valéria Maniero, que escreveu o conto, e a professora Dulcimara da Silva, que contou a história. © Divulgação

Segundo ela, “a contação de história foi fantástica, porque nós tivemos uma contadora brasileira, da Associação Raízes, que soube trazer a alma e o gosto do Saci para as crianças e para os adultos”.

“Nós também fizemos uma caixa de madeira que representa o Saci como defensor dos animais, da floresta, um ser que gosta de fazer rir, de fazer brincadeiras. E, nessa brincadeira, o Saci traz uma magia única, que é dele, com as ervas medicinais e o rir, a alegria. Eu acho que as crianças adoraram’, afirmou a mediadora do MEG. 

O que o Saci representa 

Para Adriana, o saci “representa um sincretismo de três culturas: a europeia, com a chegada no Brasil dos portugueses; a indígena – o Saci é um termo Yaci-Yaterê, da cultura tupi-guarani, que significa “ser mágico”; e a africana iorubá, que é Ossaim, também o guardião da floresta”. Mas há também um outro aspecto, segundo ela, bem atual.

"Por que o Saci tem só uma perna? Quantos negros não foram mutilados? Quantos negros, mesmo mutilados, tiveram coragem de fugir e de encontrar, de buscar a liberdade?", questiona a mediadora. Para Adriana, "o Saci pode e merece ser um 'star', porque a raça negra, apesar de todo o sofrimento que teve, de todas as injustiças que ela ainda vive hoje, encontrou uma maneira de rir e de ser livre", explica. "Eu acho que o Saci é muito mais do que aquilo que a gente imagina ser”, completa. 

Valentina Stadelmann, de 14, achou interessante um personagem do folclore brasileiro estar num museu da Suíça.
Valentina Stadelmann, de 14, achou interessante um personagem do folclore brasileiro estar num museu da Suíça. © Valéria Maniero

O que foi realizado naquele dia no museu, de acordo com a mediadora cultural, “é uma porta de entrada para se ter menos racismo na sociedade". 

Olivia Arai fez o Saci numa caixinha que levou para a casa.
Olivia Arai fez o Saci numa caixinha que levou para a casa. © Valéria Maniero

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