Em Portugal, brasileiros descobrem oportunidades de negócio durante a pandemia
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A Covid-19 tem provocado muitos estragos no mercado de trabalho português, principalmente em setores como os de cafés, restaurantes e hotelaria. Só que mesmo diante da queda dos rendimentos, de demissões e incertezas, há brasileiros que têm encontrado caminhos para vencer os desafios.
Fábia Belém, correspondente da RFI em Lisboa
Formada em Educação Física, Suelayne Barros é natural do Recife, cidade onde vivia e trabalhava como personal trainer antes de vir para Portugal. Quando chegou, em outubro de 2018, ela planejava atuar na área de formação, mas logo agarrou o emprego que conseguiu numa pousada, em Lisboa. Foram pouco mais de dois anos de trabalho, até que o local fechou definitivamente as portas, em fevereiro deste ano, e Suelayne perdeu o emprego de supervisora.
“Eu só tinha essa experiência aqui em Portugal. Então, eu fiquei um pouco desesperada. Tinha os meus planos, tinha algumas coisas pra pagar, e algumas dívidas que eu tinha feito”, explicou.
Sem trabalho e com tempo de sobra, a recifense voltou à rotina de exercícios físicos em casa. Logo surgiu a ideia de planejar, orientar e monitorar atividades físicas à distância para uma amiga.
“Ela começou a ter resultados, e a gente começou a compartilhar no Instagram”, conta Suelayne, que começou a dar aulas à distância para outra amiga. A novidade se espalhou, pessoas começaram a procurar a recifense “e aí eu comecei a cobrar” pelos serviços, ressalta.
Projetos para o futuro
Suelayne já é personal trainer online de dez alunos - duas portuguesas e oito brasileiros. Está na terceira semana de aulas, que acontecem no quarto do apartamento que ela divide com o namorado. Projetos para o futuro não faltam.
“Pretendo um pouco mais pra frente abrir um estúdio pra mim, crescer na minha área aqui, continuar inspirando outras pessoas, movimentando a minha vida, movimentando a vida de outras pessoas”.
O aperto financeiro
Casada e mãe de três filhos, a amazonense Sidmara Costa vivia e trabalhava na cidade de São Paulo. Veio para Portugal em dezembro de 2019, quando já tinha 13 anos de experiência como cabeleireira. Em Lisboa, ela encontrou seu espaço no mercado de trabalho. “Eu ganhava um fixo e mais 30% da comissão, e dava um salário bem digno”, lembra.
Mas, com a chegada da pandemia, os problemas começaram. Cozinheiro em um restaurante, o marido de Sidmara foi demitido já no primeiro lockdown. Os problemas da família se agravaram ainda mais quando o salão, onde a cabeleira trabalhava, voltou a funcionar - a dona logo avisou que não tinha mais condições de manter o salário fixo.
“Acabei recebendo no primeiro mês, depois do lockdown, 300 euros (cerca de R$ 2.000). Foi quando eu pedi pra sair do salão”, explica Sidmara.
O aperto financeiro foi tanto que chegou a ser difícil juntar 750 euros - aproximadamente 5 mil reais, para pagar o aluguel do apartamento de um quarto onde a família morava, na Costa da Caparica, cidade distante cerca de 20 quilômetros de Lisboa.
Não demorou para Sidmara e o marido decidirem fazer mudanças importantes na vida da família. Em junho do ano passado, mudaram-se para a cidade de Barcelos, no norte de Portugal.
Oportunidades
Atualmente, a família de cinco pessoas mora “num apartamento de quatro quartos, bem grande, no centro de Barcelos, por € 400”, descreve Costa, com satisfação.
Na nova cidade, ela e o marido, Manoel Souza, conseguiram emprego, e estão trabalhando como operários numa fábrica de malhas. “Eu encontrei, aqui, tudo o que precisava”, comemora. Nos finais de semana, o casal tem feito o que mais gosta. Sidmara tem oferecido serviços de cabeleireira em casa, “fazendo clientes pra futuramente eu abrir o meu salão, meu próprio negócio”, revela.
Cozinheiro profissional, Manoel tem preparado e vendido comida para fora: frango assado, empadão, maionese caseira e, principalmente, feijoada. Por dia, chega a receber uns 25 pedidos do prato típico da culinária brasileira. “Tô muito feliz mesmo”, diz o cozinheiro, que tem conquistado o paladar dos vizinhos brasileiros e até portugueses. “Nós conseguimos transformar dificuldades em oportunidades sim”, pontua Sidmara.
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