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Brasil-Mundo

Brasileira percorre as ruas da Califórnia com salão de beleza móvel

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Olhares curiosos. Há quem pare o carro para ler tudo o que está escrito na van e ver de perto o que acontece dentro. Quem passa a pé, analisa e acaba levando um cartão de visitas. Desde julho, a van da brasileira Cláudia Moreno atrai olhares e clientes pelas ruas de Los Angeles e cidades vizinhas. Dentro de um pequeno espaço, ela faz a unha de clientes, maquiagem, corta e pinta cabelos, oferece penteados e extensão dos fios, depilação de sobrancelha, e se precisar de uma depilação à brasileira, é só fechar a porta do veículo para ter mais privacidade.

A cabeleireira Cláudia Moreno durante atendimento em sua van adaptada para serviços de beleza.
A cabeleireira Cláudia Moreno durante atendimento em sua van adaptada para serviços de beleza. © Cleide Klock
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Cleide Klock, correspondente da RFI nos Estados Unidos

"A ideia começou com uma cliente que não podia ser atendida na casa dela, mas precisava muito fazer a unha. Ela perguntou: posso chegar até você e a gente faz no seu carro? Fiz no meu carro e comecei a idealizar alguma coisa, mas era um sonho", lembra Cláudia, que além de nunca ter visto um salão móvel nesses moldes, pensou que seria muito mais caro do que ela poderia pagar. Mas não esqueceu a ideia, nem de ir atrás e fazer acontecer. Começou a pesquisar preços e como seria trabalhar dentro de um desses veículos utilitários.

"Aqui na Califórnia tem vans que oferecem serviço de banho e tosa de animais. Pensei: se lavam cachorro na van, também posso lavar cabelos", imaginou. E foi a partir daí que a semente do projeto começou a florescer.

Cláudia já era cabeleireira no Brasil, teve salão por 15 anos na Bahia, e desde que chegou aos Estados Unidos, há seis anos, se acostumou a encher as malas de produtos e ir à casa de clientes para fazer os serviços. Mas se via carregada de coisas e muitas vezes tinha que andar muito por não conseguir estacionamento.

Em março, pouco antes do lockdown imposto na Califórnia por causa da Covid-19, conseguiu comprar a van novinha, por cerca de US$ 30 mil. Mas com o fechamento dos estabelecimentos de comércio e serviços, teve que pausar o sonho, já que não havia quem fizesse a adaptação e, nesse contexto, ninguém queria se arriscar com serviços de beleza. Se virou como pode, trabalhou com aplicativos de entregas e de compras no supermercado, fez limpezas e, de repente, ela conta: "Um anjo caiu do céu e disse que iria fazer a transformação da van em um verdadeiro salão". O anjo é um amigo latino que já havia feito adaptação desses veículos de transporte para salão de cachorros. Foram quatro meses de trabalho que custaram mais US$ 30 mil.

A cabeleireira brasileira Cláudia Moreno faz atendimentos pelas ruas de Los Angeles com seu salão de beleza móvel.
A cabeleireira brasileira Cláudia Moreno faz atendimentos pelas ruas de Los Angeles com seu salão de beleza móvel. © Cleide Klock

O salão móvel tem lavatório com água quente, mostruário de esmaltes, mesa para fazer unhas, cadeira reclinável para os serviços de cabelo e depilação, televisão, chão com assoalho, sem falar nas baterias e geradores que permitem usar secador de cabelo e ter reservatório para água limpa e suja. E Cláudia, a cada minuto que fica dentro da van, pensa em como aperfeiçoar e deixar tudo ainda mais bonito: "Quero melhorar o design, colocar muito mais coisa. Agora tenho o básico para estar na rua", revela a carioca que morou boa parte da vida na Bahia.

O empurrãozinho da pandemia

Por causa da pandemia, os salões na Califórnia ficaram fechados por muitos meses, o que ajudou o negócio da brasileira. No início, ela instalava uma cadeira na calçada, onde fazia o atendimento, já que os serviços ao ar livre foram os primeiros a retomar a atividade. Agora a van fica com portas e janelas abertas, sem outras pessoas por perto, o que aumenta a confiança dos clientes. Ela, claro, segue os protocolos de higiene e saúde e tem licença para oferecer o serviço móvel. No início de cada semana, ela divulga pelas redes sociais o local onde vai estacionar e as pessoas marcam seus horários, vão até onde ela está ou ela se desloca para perto dos clientes.

Entre os clientes, a cabeleireira atende a também brasileira Maria Consuelo Fonseca, estacionando a van em seu jardim. "Achei a ideia sensacional. Para mim foi ótimo, por ser uma paciente de risco, com idade avançada, já tive câncer. Ela toma todos os cuidados de higienização. Eu fico tranquila e recebo o serviço em frente a minha casa, sem nem precisar tirar o pijama", brinca Maria.

"Vem cliente de toda parte. Porque eu paro com a van, as pessoas passam na rua, gostam. E como os salões estão fechados, minha clientela aumentou muito", destaca Cláudia.

Durante a entrevista da RFI, se multiplicaram os curiosos que passaram pela rua calma de Los Angeles onde o salão móvel estava estacionado. Não há quem passe e não queira saber o que é esse salão itinerante.

Ampliação da carteira de clientes

Antes de investir na van, Cláudia tinha sua clientela formada basicamente pela comunidade brasileira. Com seu salão em deslocamento, ela foi descoberta também pelos americanos e por outros latinos. 

"Os americanos chegam até mim e dizem: Eu quero fazer como os brasileiros fazem, eu quero a cor do esmalte que o brasileiro gosta, eu quero fazer o cabelo igual ao de uma brasileira que vi", conta e cabeleireira, adicionando que o serviço que mais faz sucesso é o relaxamento para alisar os cabelos, conhecido nos Estados Unidos como Brazilian Blowout, e que muitas clientes chegam querendo que o cabelo fique igual ao da cantora Ivete Sangalo.

Cláudia diz ter tirado a sorte grande: com a van, conseguiu realizar o difícil sonho do negócio próprio e viu que um cenário de crise pode ser um ambiente fértil para inovação e transformação. Como no ritmo da cantora baiana, ela agita os sonhos e levanta poeira, anunciando que não dá para parar e não para.

Mãe de 4 filhos com idades de 2 a 24 anos, a carioca de 40 anos sempre foi mãe solteira, "com muito orgulho e muito amor." Depois de já ter sido proprietária de um salão no Brasil com 15 funcionárias, Cláudia recomeçou do zero, sem medo, e agora deseja mais: "Quero ter uma frota de vans, com pessoas trabalhando para mim, para poder estar em vários locais ao mesmo tempo, quem sabe com veículos para poder alugar… ".

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