Prêmio homenageia mulheres que ajudaram comunidade brasileira em Nova York
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O ano de 2020 tem sido desafiador para a comunidade brasileira nos Estados Unidos. Muitos imigrantes perderam seus empregos e moradia, além de adoecerem com a Covid-19. Mudanças nas regras imigratórias aumentaram os temores de deportação. Mas a comunidade brasileira em Nova York se mobilizou e está reconhecendo pessoas que estão fazendo a diferença. Nessa semana, na terça-feira (10) foi entregue, online, a segunda edição do Prêmio Mulheres com Garra 2020.
Paula Moura, correspondente da RFI em Nova York
“Aprender a lidar com uma língua nova, aprender a lidar com uma cultura nova, precisa de muita garra. Sem falar em outros fatores, como as barreiras para o desenvolvimento econômico da mulher imigrante. A gente sempre diz que precisa ter muita garra para ser imigrante”, diz Stephanie Mulcock, diretora-executiva e advogada de imigração da Garra, entidade que concede o prêmio.
Nesse ano, foram quatro homenageadas: a enfermeira Juliana de Andrade Silva, a psicóloga Flávia Barbosa e as jornalistas Mila Burns e Isadora Varejão. A ONG lançou um livro com a história das brasileiras, que pode ser adquirido mediante doação no site da Garra.
Flávia é psicóloga e uma das fundadoras do Coletivo Kilomba, o primeiro coletivo de mulheres brasileiras negras nos EUA. Além de empoderar as participantes com reuniões e discussões, o grupo ofereceu apoio para a comunidade brasileira em dificuldade econômica durante a pandemia.
Juliana de Andrade Silva trabalhou incansavelmente como enfermeira no Hospital Elmhurst, que registrou uma das maiores taxas de COVID-19 em Nova York.
A jornalista Mila Burns apresenta o programa local da TV Globo e também é professora no Lehman College, onde montou um curso sobre mulheres laitno-americanas que pela primeira vez foi baseado apenas em trabalhos de autoras latino-americanas.
Violência contra a mulher
Isadora Varejão é jornalista e criou o W.A.V.E. (Women Against Violence Experiment, ou Experimento de Mulheres contra a Violência, em tradução livre). O projeto, que fez parte de seu trabalho final de mestrado na Universidade da Cidade de Nova York, usou a técnica do Teatro do Oprimido para discutir a violência doméstica com a comunidade brasileira.
Na peça, a personagem principal entra num relacionamento em que o abuso vai aumentando gradativamente, como costuma acontecer em casos de violência de gênero na vida real. O final não é feliz. O público é então convidado a trazer soluções para os problemas da personagem e uma pessoa da plateia era convidada a assumir o lugar da protagonista.
“Sempre vinha alguém com uma outra ideia, tentava uma outra coisa, fazia o diálogo evoluir, ser aprofundado e a gente realmente discutir o que está no cerne das questões de violência contra a mulher, tudo o que precisa ser modificado na sociedade”, diz.
Isadora usou o teatro como um disfarce para fazer a informação chegar às mulheres sem causar desconfiança em possíveis parceiros abusivos. Geralmente essas mulheres vivem isoladas por medo da deportação, dificuldade com a língua e pela fato da cultura brasileira normalizar o machismo. O sucesso da iniciativa foi tão grande que outras apresentações foram realizadas em Nova Jersey e no Consulado do Brasil em Nova York.
"E se fosse com você?"
O espetáculo “E se fosse com você?” tem a presença e suporte de uma terapeuta e da advogada de imigração da Garra, Stephanie Mulcock. Na Garra, ela atende de 10 a 15 pessoas por mês com consulta jurídica sobre diversos tipos de caso de graça ou de baixo custo para aqueles que têm possibilidade de pagar.
Stephanie chegou aos Estados Unidos aos 14 anos. Quando ela e sua mãe tiveram problemas jurídicos e imigratórios, não encontraram apoio na comunidade, nem organizações que atendessem brasileiros. Depois, já na faculdade, tentou trabalhar em várias organizações que ajudavam imigrantes. Elas sempre diziam que não precisavam de pessoas que falassem português, mesmo com uma enorme quantidade de brasileiros em Nova York.
Foi então que encontrou a ONG para brasileiros Cidadão Global, onde trabalhou desde 2011 e que foi transformada em Garra em novembro do ano passado. Ela é uma das fundadoras do grupo juntamente com as brasileiras Daniele Ortiz e Nathalia Narciso.
A Garra conta com a ajuda de nove voluntárias com foco em aumentar a independência financeira, o desenvolvimento de liderança e a visibilidade política das mulheres brasileiras em Nova York. Entre os trabalhos da ONG, estão um curso de empreendedorismo para mulheres e uma campanha para os brasileiros responderem ao Censo e aumentarem sua representatividade.
“Amo meu trabalho”, diz Stephanie. “Eu espero que um dia eu possa pensar: nossa, acho que a comunidade está tomando conta de si mesma. Acho que esse é o legado que eu quero deixar, é saber que a comunidade está bem mais forte do que quando comecei.”
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