Espiões russos usam identidade brasileira para se infiltrar em países europeus
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Ouvir - 02:08
A revista francesa L’Obs publica esta semana uma reportagem sobre uma ofensiva de espiões russos, que estão se passando por brasileiros para se infiltrar em países da União Europeia. Eles seriam “espiões ilegais”, agentes inativos que não estariam protegidos por uma cobertura diplomática.
A publicação conta a história de Viktor Muller Ferreira, que teria nascido em Niterói, em 1989. O falso estudante é, na verdade, Sergueï Vladimirovitch Cherkasov, nascido em Kaliningrado e oficial da GRU, serviço de espionagem militar russo.
Ele teria entrado no Brasil há cerca de 12 anos e atuado como estudante de geopolítica, perfil que o permitiu ser indicado ao cargo de estagiário no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Para chegar ao posto, ele passou pela prestigiosa Escola de Estudos Internacionais de Washington, nos Estados Unidos, onde foi encaminhado por professores que o classificavam como “um estudante brasileiro brilhante”. Cherkasov foi descoberto pelo Serviço holandês de Contraespionagem (AIVD) e está preso no Brasil desde abril do ano passado.
Outro espião descoberto na Noruega
Já em outubro do ano passado foi a vez do Serviço de Contraespionagem da Noruega (PST) anunciar a prisão de um outro suposto cidadão brasileiro: José Assis Giammaria, que atuava, desde o fim de 2021, como pesquisador no programa de guerra híbrida na Universidade de Tromsoe, na Noruega. Ele é, na verdade, Mikhail Mikushin, mais um oficial da GRU.
Segundo as investigações, ele conseguiu o passaporte e morou no país alegando que sua mãe era brasileira. Depois, passou pelo Canadá e se instalou na Irlanda, onde começou um mestrado em Estudos Estratégicos na Universidade de Calgary. Foi a partir de lá que o espião se candidatou ao programa em que acompanhava as estratégias dos países da Otan, especificamente sobre a guerra híbrida iniciada pela Rússia. Ele atuava na Noruega quando foi descoberto.
Kremlin estaria espalhando dezenas de espiões pelo mundo
De acordo com especialistas, o Kremlin estaria espalhando, ao longo dos últimos anos, dezenas de espiões ilegais pelo mundo. Eles são valiosos na conjuntura atual já que, com a guerra na Ucrânia, um grande número de oficiais russos sob proteção diplomática, os “espiões legais”, foram expulsos. O chefe do M16, o serviço secreto de inteligência britânico, Richard Moore, estima que a metade dos 400 espiões russos sob cobertura na Europa foram enviados de volta à Moscou.
Em um momento em que o exército russo é investigado por crimes de guerra na Ucrânia e na Geórgia, na Europa Oriental, o Tribunal Penal de Haia representa um alvo estratégico para o Kremlin, ressalta a L'Obs.
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