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A Semana na Imprensa

Polêmica do burquíni monopoliza matérias da imprensa francesa antes do verão

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O verão de 2022 na França já tem uma musa, e não é uma atriz premiada em Cannes ou um novo lançamento da perfumaria de luxo francesa. Menos sexy que um Givenchy ou uma boa garrafa de Chatêau Margaux, o burquíni, o maiô de banho das francesas muçulmanas mais ortodoxas, sequestra o imaginário francês, às vésperas do tão esperado verão no hemisfério norte. Nada de fio dental, topless ou sunga de crochê: o que hipnotiza a França é esta roupa de banho completa, que esconde pernas, braços e cabelos.

Roupa de banho feminina islâmica ("Burkini") que envolve o corpo e os cabelos, da marca britânica Marks & Spencer.
Roupa de banho feminina islâmica ("Burkini") que envolve o corpo e os cabelos, da marca britânica Marks & Spencer. DR.
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Márcia Bechara, da RFI

A revista semanal M do jornal Le Monde lembra que foi em setembro de 2009 a primeira vez que o vespertino francês publicou a palavra "burquíni", consagrando então 13 anos de absoluta polêmica causada por uma peça indumentária. Nada mais francês, se pensarmos no lado fashionista deste país, que lança moda antecipada em praticamente todas as estações. "Mas, em 2022, a polêmica sobre o burquíni, normalmente reservada ao verão, apareceu no debate público no início do mês de maio, em Grenoble", publica a M, fazendo menção à cidade francesa que autorizou o uso da comportada vestimenta nas piscinas públicas.

"Desta vez, o Conselho Municipal da cidade não provocou o debate proibindo a indumentária, mas autorizando-a", sublinha a revista, que lembra que a criação deste termo se deve a um leitor do jornal, um certo Monsieur Hugues Hotier, habitante da região de Hérault, na Riviera Francesa, que se refere ao burquíni de maneira emocionada em uma carta à redação. Segundo ele, "cada um é livre em sua vida privada para seguir os preceitos de sua religião", pondera. "Mas, na gestão do espaço público, a sociedade deve ser racional e não aceitar se submeter às exigências do irracional", afirma.

A carta chamou a atenção em 2009 da ombudsman do Le Monde, que dedicou um editorial a "esses termos politicamente incorretos", em pleno debate sobre a burca, o traje completo muçulmano que cobre as mulheres da cabeça aos pés. Mas de nada adiantou, o termo burquíni tomou de vez as páginas não apenas da imprensa francesa, como também de veículos de todo mundo, como lembra o Courrier International na edição esta semana, que dedica uma matéria especial à "polêmica do burquíni" na imprensa estrangeira. 

"Delírio do prefeito de Grenoble"

Para o Courrier, a autorização dos burquíni nas piscinas de Grenoble levantou a delicada "questão da articulação entre os direitos da mulher e o respeito aos valores republicanos". Um assunto que divide regularmente os franceses, segundo a imprensa estrangeira. O jornal de direita Il Giornale, de Milão, chamou a decisão administrativa de "delírio do prefeito de Grenoble" e o britânico The Guardian reporta "o acalorado debate sobre o lugar dos símbolos religiosos e do vestuário na França, algumas semanas antes das eleições legislativas". O Courrier lembra que o ministro do Interior da França, Gérard Darmanin, chamou a iniciativa de "provocação sectária inaceitável" e que o presidente do conselho da região, Laurent Wauquiez, ameaçou "privar a cidade de todas as subvenções". 

Para terminar, o pertinente semanário satírico Charlie Hebdo coloca o dedo na ferida da polêmica do burquíni na edição desta semana. "A autorização do burquíni em Grenoble mostra, ao mesmo tempo, um micro-evento e uma fratura gigantesca", afirma. "Não há como não nos lembramos, por exemplo, das três colegiais de Créteil que, nos anos 1980, queriam usar véus na escola". O fator comum entre estes dois casos é tão óbvio que quase passa batido: "a mulher". "As religiões sempre usaram as mulheres como instrumentos, assim como as polêmicas", bate o martelo o Charlie Hebdo. 

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