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A Semana na Imprensa

Barril de pólvora: neofascistas franceses alimentam projeto de luta armada

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Assim como aconteceu nos Estados Unidos e na Alemanha, a França viu surgir nos últimos anos uma nova categoria de militantes ultranacionalistas, mais perigosos do que os grupos historicamente monitorados pela Direção-geral de Segurança Interior (DGSI). De acordo com especialistas na extrema direita, os neopopulistas franceses alimentam tendências secessionistas extremamente fortes e estariam dispostos a recorrer à violência armada para fraturar a coesão republicana. A revista Le Point traz esta semana um raio-X dessa nebulosa minoritária, porém insidiosa.

No centro da foto, Yvan Benedetti, excluído do partido de Marine Le Pen depois de se declarar "antissionista, antissemita e antijudeu".
No centro da foto, Yvan Benedetti, excluído do partido de Marine Le Pen depois de se declarar "antissionista, antissemita e antijudeu". © Fotomontagem RFI
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Os ultrarradicais de direita são pouco numerosos na França. Eles estagnam em torno de 3 mil ativistas, segundo cálculos do especialista Jean-Yves Camus (Fundação Jean-Jaurès), um número dez vezes inferior ao da Alemanha. Mas eles são cada vez mais influentes nas redes sociais, como adverte o livro "La poudrière" ("O barril de pólvora", em tradução livre), escrito por Jean-Michel Décugis, repórter do jornal Le Parisien, pela roteirista de TV Pauline Guéna e Marc Leplongeon, da redação da Le Point.

De 2012 a 2020, os ataques atribuídos aos ultrarradicais de direita triplicaram no país. Nesse período, as autoridades abortaram uma série de ações violentas, como a do grupo AFO (Ação das Forças Operacionais) que pretendia colocar veneno para matar ratos em embalagens de carne halal, consumidas por muçulmanos. Esse grupo também tinha planos de agredir mulheres que usam o véu islâmico integral.

Outros ataques fracassados previam os assassinatos do líder da esquerda radical Jean-Luc Mélénchon e do ex-ministro do Interior Christophe Castaner. O fanático que planejou esses crimes é um serralheiro de 21 anos, Logan Nisin, que se inspirou no norueguês Anders Behring Breivik, autor do massacre de Utoya, que deixou 77 mortos na Noruega. Nisin está preso, aguardando julgamento.

Cada grupo nacionalista identitário francês tem seus próprios símbolos (javali, sol negro, cruz celta), seu uniforme (jaqueta Stone Island ou saia plissada) e cultiva um folclore sombrio. O ódio pelo outro e o antissemitismo são traços em comum entre eles.

O partido neofascista italiano CasaPound é para eles o modelo a ser seguido, mas os neofascistas franceses permanecem divididos entre várias correntes: ultranacionalistas, revisionistas, católicos fundamentalistas, "gabberskins" (descendentes dos skinheads) e outros sobreviventes. “Essa infinidade de pequenos grupos nasce, se dissolve, desaparece e se reorganiza de acordo com as amizades e os problemas judiciais”, observam os autores.

Antissemitas, católicos fundamentalistas e antivacinas

O último agente catalisador dessa bolha fascista foi o movimento dos coletes amarelos, que paralisou a França aos sábados entre 2018 e 2019. Depois veio a pandemia do coronavírus, um contexto propício à proliferação dessa cultura de extrema direita. Antivacinas e adeptos de teorias da conspiração atuam juntos, agora, para potencializar a revolta contra o sistema.

Os serviços de inteligência temem que os movimentos radicais de protesto busquem tirar proveito da crise na Saúde, como fizeram com os coletes amarelos, da mesma maneira que tem ocorrido na Alemanha, onde ativistas dos dois extremos desfilam juntos contra as restrições impostas pelo vírus.

O livro traz o testemunho de um colete amarelo ultrarradical que diz estar apenas esperando "o momento certo" para pegar em armas. "La poudrière" também conta a trajetória de jovens franceses dos movimentos Geração Identitária e Bastião Social, que partiram para a frente de guerra nas repúblicas separatistas do leste da Ucrânia, e recentemente no Alto-Karabakh, no Azerbaijão, com o objetivo de se aguerrir. Na ilha de Lesbos, na Grécia, outros ativistas franceses destroem as embarcações usadas pelos refugiados.

Adolescentes franceses criados no fundamentalismo católico seguem um programa mais light, fazendo estágios de férias com Yvan Benedetti, excluído do partido de Marine Le Pen depois de se declarar "antissionista, antissemita e antijudeu".

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