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Palestinos vivem escassez quase total de água, eletricidade e alimentos em Gaza, diz diretora de ONG

As imagens de satélite falam por si só. Desde o início da semana, o pequeno território palestino vem mergulhando gradualmente na escuridão. Isso é visível do espaço graças a imagens da Nasa. O fenômeno pode ser explicado pela destruição de cabos de energia, mas também pelo desligamento da estação de energia térmica que estava ajudando a abastecer a cidade. Louise Bichet, responsável pela seção do Oriente Médio da ONG Médicos do Mundo, presente em Gaza, contou mais detalhes para a RFI.

O exército israelense em Sderot, uma cidade próxima à Faixa de Gaza, em 11 de outubro de 2023. Foto ilustrativa.
O exército israelense em Sderot, uma cidade próxima à Faixa de Gaza, em 11 de outubro de 2023. Foto ilustrativa. AP - Ohad Zwigenberg
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Cerca de vinte pessoas da ONG Médicos do Mundo estão trabalhando atualmente na Faixa de Gaza para ajudar a população palestina, segundo Louise Bichet, entrevistada pela RFI, que afirmou que "a população praticamente não tem mais água", o que também é o caso das equipes no local, que estão tendo que abandonar os palestinos à sua sorte.

"Essas vinte pessoas estão agora em algum tipo de abrigo, em escolas, hospitais ou outras casas que não foram destruídas. E, de fato, já há uma escassez de água e alimentos. Com famílias que se reagruparam e de repente se tornaram grandes demais para as poucas reservas que poderiam estar lá. E, é claro, não há eletricidade. Portanto, estamos começando a perder contato com alguns deles", conta Bichet.

"Algumas clínicas móveis continuam a funcionar e a fazer o que podem, mas, na verdade, não podemos trabalhar adequadamente e, além disso, nós, Médicos do Mundo, estamos muito preocupados com nossa equipe", confessou a diretora.

Com o ultimato de Israel, que pediu a mais de 1 milhão de pessoas, os habitantes do norte da Faixa de Gaza, que se desloquem para o sul em 24 horas, a situação fica ainda mais tensa. Bichet afirma que esta é uma situação sem precedentes na memória das organizações humanitárias.

"Não consigo ver nenhuma equivalência em nenhuma outra situação, pelo menos no que pude vivenciar. No meio da noite, pouco antes do amanhecer, voltamos atrás porque as bombas ainda estavam caindo, então era impensável fazer a viagem para o sul. Agora, durante algumas horas, estamos quase na metade do caminho. Pouco a pouco, seguimos mais para o sul. Ou você não pode ou não quer deixar o norte da Faixa de Gaza, porque é muito perigoso", relata. 

O que acontece com os palestinos que vão para o sul? "Não há casa para acolhê-los, não há teto sobre suas cabeças, não há nem comida, nem água", diz Bichet. "Com certeza, e devo salientar isso, as bombas ainda estão caindo no sul. Na verdade, você não está em um lugar que poderia ser considerado seguro, não é esse o caso. No sul, os hospitais já estão totalmente saturados. Esse já era o caso no início da semana, então você pode imaginar que, com a falta de eletricidade e as necessidades básicas, tudo isso é incontrolável", afirmou.

Violação do direito internacional

"Isso também é totalmente contrário ao direito humanitário internacional, que exige que as vidas dos civis sejam respeitadas e protegidas. E também os estabelecimentos, as infraestruturas de saúde e o pessoal de saúde. Estamos violando constantemente o direito humanitário internacional", denunciou a diretora.

Ela acredita que apenas um cessar-fogo poderia salvar a situação humanitária na Faixa de Gaza. "Com um cessar-fogo e o levantamento do cerco, que é de fato essencial, os suprimentos de primeiros socorros devem poder retornar à Faixa de Gaza com urgência para que, mais uma vez, vidas civis possam ser salvas. Já há milhares de feridos nos hospitais. Também podemos imaginar que essas pessoas não podem ser transportadas", sublinhou Bichet.

Sobre as mais de 2.500 mortes divulgadas na Faixa de Gaza, ela afirma que o número é subestimado, dadas as condições de sobrevivência da população palestina. "As pessoas consomem água imprópria para consumo, não existem alimentos para bebês ou crianças com menos de cinco anos, idosos, pessoas com doenças crônicas, essas são consequências que podem ser vistas muito, muito rapidamente em termos de saúde e que estão obviamente ligadas. Portanto, não se trata de mortes causadas pelo bombardeio, mas, obviamente, pelo estado de sítio", concluiu.

Habitantes tentam sobreviver

Nessa situação extremamente deteriorada em Gaza, os habitantes estão tentando se proteger. Segundo fontes locais, muitos estocaram água potável e encheram seus quando possível. Mas até mesmo os alimentos congelados estão desaparecendo, pois os supermercados não conseguem funcionar devido aos cortes de energia. Em alguns bairros relativamente ilesos, os moradores estão colados em seus telefones celulares.

Como único elo com o mundo exterior, os celulares permitem que as pessoas verifiquem ou deem notícias e até mesmo testemunhem publicando vídeos nas redes sociais, quando possível.

Embora não seja considerado uma necessidade vital, o uso de telefones celulares em tempos de crise é um elemento importante para permitir que os civis tenham acesso a informações, alertem em situações perigosas ou entrem em contato com serviços de emergência e agências governamentais ou humanitárias.

Em Gaza, a recarga pode ser feita usando baterias de carros modificadas ou painéis solares, o que obviamente é uma prioridade para os civis em situações de extrema necessidade.

O exército israelense compreendeu claramente a importância da telefonia móvel e consegue enviar mensagens de texto aos habitantes de Gaza pedindo que deixem a área. Na sexta-feira, 13 de outubro, de forma mais tradicional, também lançou panfletos sobre Gaza pedindo aos habitantes que fugissem "imediatamente" para o sul do território palestino. As reações foram rápidas.

Muitos habitantes de Gaza não sabem para onde ir, ou mesmo como chegar ao sul, pois não há transporte e as estradas são perigosas. A ordem de evacuação é "uma transferência forçada" e constitui "um crime além da compreensão", condenou o chefe da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, em uma carta ao chefe da ONU, Antonio Guterres.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, também "rejeitou totalmente o deslocamento" de palestinos da Faixa de Gaza, não hesitando em falar de uma "segunda Nakba" ("Catástrofe", em árabe), em referência à fuga de cerca de 760 mil palestinos em 1948, quando o Estado de Israel foi criado.

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