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Bloqueio de Israel a Gaza agravará precariedade no enclave e pode fortalecer Hamas, diz especialista

A ONU afirmou nesta terça-feira (10) que a imposição de um cerco total à Faixa de Gaza decretada por Israel na segunda-feira (9) é ilegal. Este território dominado pelo Hamas, grupo islâmico radical que organizou os ataques de sábado (7) contra Israel, é uma das regiões mais densas do mundo e sua população vive em condições extremamente precárias, que devem piorar após a imposição do novo bloqueio.

Palestinos caminham entre destroços de prédios em um bairro da cidade de Gaza, após ataques israelenses, em 10 de outubro de 2023.
Palestinos caminham entre destroços de prédios em um bairro da cidade de Gaza, após ataques israelenses, em 10 de outubro de 2023. AP - Fatima Shbair
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O Alto Comissário pelos Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, declarou em um comunicado que “a imposição de cercos que colocam em perigo a vida de civis, privando-os de bens essenciais a sua sobrevivência, é proibida pelo Direito Internacional Humanitário”.

A resposta israelense aos ataques do Hamas, que mataram 900 pessoas, causou ao menos 187.000 deslocamentos de palestinos no interior da faixa de Gaza desde sábado, de acordo com o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha).

Cerca de 2,3 milhões de pessoas vivem na Faixa de Gaza, um território com alta densidade demográfica, que sofre com a pobreza e está sob bloqueio israelense desde 2007.  

“Com o bloqueio, havia apenas algumas horas de eletricidade por dia. Mas agora todo o fornecimento foi cortado. O problema é sobretudo da sobrevivência da população”, diz à RFI Agnès Levallois, professora pesquisadora da Fundação para a Pesquisa Estratégica e vice-presidente do Instituto de Pesquisa e Estudos do Mediterrâneo e Oriente Médio.

“Este bloqueio total visa atingir o abastecimento em termos de alimentos, necessidades básicas, medicamentos. Os israelenses anunciaram ontem que também iriam cortar o abastecimento de água, eletricidade e gás”, explica.

A especialista diz que a situação é preocupante. “O abastecimento é essencial para a sobrevivência da população e deve ser garantido”, defende, concordando com a ONU.

Fechamento de posto do Egito

Além do cerco do lado israelense, na noite de segunda-feira, o Egito anunciou o fechamento do posto de passagem de Rafah. O único ponto não controlado por Israel, que ainda ligava o enclave palestino ao mundo exterior, foi bombardeado três vezes pela aviação israelense nas últimas 24 horas. Na tarde desta terça-feira, o posto foi alvo de novos ataques. A ONG egípcia Sinai for Human Rights precisou que o ataque “provocou um novo fechamento do ponto de passagem”.

Para Agnès Levallois as consequências são dramáticas. “Os habitantes de Gaza não podem de maneira alguma abandonar este território e há uma força de ataques e fogo consideráveis ​​lançados pelos israelenses em resposta à terrível ofensiva do Hamas no sábado. Os habitantes de Gaza ficam completamente encurralados, sem poder sair e sofrendo esta situação sem ter a menor margem de manobra”, diz.

A faixa de Gaza é um território muito restrito, com apenas 360 km² e as pessoas tentam fugir dos bombardeios como podem. “Eles estão tentando se refugiar em infraestruturas onde acreditam que há menos membros do Hamas e, portanto, capazes de se esconderem na esperança de escapar aos bombardeios de Israel”, afirma Agnès Levallois.

“A particularidade de Gaza é que se trata de um dos territórios mais povoados do mundo. Mas ainda existem algumas áreas que ainda não estão completamente habitadas e por isso os moradores de Gaza estão tentando encontrar refúgio nestes lugares para manter a esperança”, explica.

O tamanho e a densidade do território poderiam levar diretamente a uma grave crise humanitária, diz a pesquisadora. “Mais do que isso: isso quer dizer que vamos caminhar em direção a um número de vítimas considerável. A maioria destas vítimas serão civis e não membros do Hamas. Estes são obviamente os primeiros alvos dos bombardeios. Tudo isso com uma crise humanitária” que se agrava com o atual cerco.

Hamas mais forte

Agès Levavallois também ressalta as dificuldades de levar ajuda humanitária até a população civil palestina. Nesta terça-feira a Organização Mundial de saúde (OMS) pediu a abertura de um corredor humanitário em direção à Faixa de Gaza.

A pesquisadora ressalta que o agravamento das condições humanitárias em Gaza poderia levar a um fortalecimento do Hamas. “Há uma parte dos habitantes de Gaza que pode, obviamente, confrontada com esta reação e com esta situação dramática, querer juntar-se ao Hamas e pode se formar um grupo mais radical”, analisa.

Mas outra parte da população, segundo ela, ficou “mais do que exasperada, desesperada, com esta situação e deve se afastar um pouco mais da política, dos políticos eleitos, com todas as consequências que isso também poderá ter para o futuro”.

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