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Réplica de cela de opositor russo Navalny é instalada no centro de Paris

Uma réplica em tamanho real da cela de isolamento na qual Alexei Navalny está preso foi instalada por seus apoiadores no centro de Paris. O objetivo é chamar a atenção para o destino de um dos principais opositores do presidente russo, Vladimir Putin, preso desde 2021, após sobreviver a um envenenamento em agosto de 2020.

Réplica da célula de isolamento de Alexei Navalny, instalada em Paris (14/03/23).
Réplica da célula de isolamento de Alexei Navalny, instalada em Paris (14/03/23). © RFI/Pierre Fesnien
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Pierre Fesnien, da RFI

Um bloco de concreto de três metros de comprimento por dois de largura foi colocado no meio da praça Michel Caldaguès, em Paris, logo atrás do Palácio do Louvre, na terça-feira (14). É uma réplica exata da cela de confinamento solitário na qual o adversário russo Alexei Navalny está preso em uma colônia penal de alta segurança. Em russo, a sigla usada para designar esse tipo de célula é SHIZO.

“São quatro paredes e uma porta gradeada com passagem para refeições. Há uma pequena janela gradeada e as paredes são de concreto bastante frio. Há uma cama dobrável que fica aberta apenas oito horas por dia, um banheiro turco [sem vaso sanitário] e uma pequena pia”, explica Ivan Zhdanov, diretor da Fundação Anticorrupção, criada em 2011 por iniciativa de Navalny.

“Começamos este projeto porque percebemos que quando você quer explicar no Ocidente o que é uma prisão russa, poucas pessoas realmente entendem. Em si, a prisão na Rússia já é uma forma de tortura, explica Zhdanov. Pensamos em mostrar as condições de detenção de Alexei Navalny e decidimos fazer esta réplica da cela SHIZO”.

 

Foto do interior da réplica da cela de isolamento de Alexei Navalny, na Rússia.
Foto do interior da réplica da cela de isolamento de Alexei Navalny, na Rússia. AP - Thomas Padilla

 

"Enjaulado como um animal"

A cela SHIZO é a punição mais severa no universo carcerário russo. Navalny é enviado regularmente para lá por motivos absurdos, como não ter abotoado corretamente o uniforme da prisão ou não ter colocado as mãos atrás das costas durante a caminhada. Cada detenção não pode normalmente ultrapassar os 15 dias, mas o opositor russo já passou 91 dias em regime de isolamento durante o ano de 2022. Durante esses períodos, só se pode obter água quente três vezes por dia, as visitas e encomendas estão proibidas, só se tem direito a papel e caneta durante 35 minutos por dia e o prisioneiro tem apenas um livro à disposição.

Em 24 de janeiro de 2023, essa réplica da célula SHIZO foi instalada pela primeira vez em Berlim, em frente à embaixada da Rússia, onde permaneceu até 23 de fevereiro, véspera do primeiro aniversário da guerra na Ucrânia. Desta vez, em Paris, ficará acessível ao público até 29 de março, 24 horas por dia.

As pessoas que entram relatam sensações estranhas. “Sentimos nojo, imediatamente queremos sair. Você se sente trancado e enjaulado como um animal”, afirma indignada Martine, de 74 anos, cujo melhor amigo é russo e que veio defender a liberdade de expressão de Navalny.

Isolamento para silenciá-lo

Para os seus apoiadores, a instalação é acima de tudo uma forma de manter viva a luta de Alexei Navalny, enquanto o regime russo faz tudo para silenciá-lo. "Estamos tentando chamar a atenção para a nossa causa e para o destino de Alexei e de todos os prisioneiros políticos russos - e esta cela é um símbolo de como eles são tratados", disse Kira Yarmysh, porta-voz de Alexei Navalny.

“Alexei se tornou um símbolo de todos os presos políticos”, acrescenta Ivan Zhdanov. O fato de Putin estar no poder, de haver guerra na Ucrânia e de Navalny estar na prisão, tudo está relacionado. No dia em que Putin não estiver mais no poder, no dia em que Navalny for libertado, a guerra na Ucrânia terminará”, afirma a representante da Fundação Anticorrupção.

Atualmente, Alexei Navalny não está em confinamento solitário, mas suas condições de detenção não são muito melhores. "A única diferença com a célula SHIZO, e não estou brincando, é que ele atualmente tem direito a ter dois livros em vez de apenas um", diz Kira Yarmysh. “Putin está fazendo de tudo para impedir que Alexei continue com suas atividades políticas, não só aumentando sua pena - ele agora corre o risco de 35 anos de prisão -, mas também tentando silenciá-lo, isolando-o o máximo possível dentro da própria prisão.

Yulia Navalny, mulher de Alexei Navalny, fala junto à filha Daria e o diretor Daniel Roher, que recebeu o Oscar de melhor documentário por Navalny, em Los Angeles (12/03/23).
Yulia Navalny, mulher de Alexei Navalny, fala junto à filha Daria e o diretor Daniel Roher, que recebeu o Oscar de melhor documentário por Navalny, em Los Angeles (12/03/23). REUTERS - CARLOS BARRIA

Oscar mais fácil que julgamento justo

Alexei Navalny está preso desde janeiro de 2021 por ter sido considerado culpado de violar uma restrição judicial ao viajar para a Alemanha, onde foi tratado por vários meses após ser envenenado em agosto de 2020. Desde então, ele tem comparecido regularmente a tribunais russos que aumentam sua sentença por razões questionáveis.

Ganhador do prêmio Sakharov pela liberdade de expressão em outubro de 2021, o opositor continua a fazer críticas ao regime russo através de mensagens que consegue transmitir e que são publicadas por sua equipe nas redes sociais.

Sua luta também ganhou novo destaque depois que o filme “Navalny”, dirigido pelo canadense Daniel Roher, foi premiado com o Oscar de melhor documentário do ano em Hollywood, no último domingo, na presença de sua família. Informação que Ivan Zhdanov não deixou de destacar na terça-feira, em Paris, sob aplausos das cerca de cinquenta pessoas presentes. "Este Oscar foi mais fácil de obter do que um julgamento justo e equitativo para Alexei, porque tal coisa não existe na Rússia.”

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