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Oposição oprimida: Gülsen, a ‘Madonna da Turquia’, é processada por provocação ao governo

A popstar turca Gülsen, apelidada por muitos como a ‘Madonna da Turquia’, comparece nesta sexta-feira (21) pela primeira vez diante da justiça em um processo por “incitação ao ódio”. Esse tipo de acusação é cada vez mais frequente no país, principalmente visando os críticos ao regime do presidente Recep Tayyip Erdogan. Há quem veja nessa multiplicação de processos uma forma de conter os opositores ao chefe de Estado, que se prepara para eleições em junho de 2023.

Gülsen, apelidada de "Madonna da Turquia", é processada por incitação ao ódio.
Gülsen, apelidada de "Madonna da Turquia", é processada por incitação ao ódio. AFP - DEPO PHOTOS
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Com informações de Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul

Em abril, durante um show, Gülsen faz piada com um dos músicos de sua banda, dizendo que o colega de palco era “pervertido” porque tinha sido educado por uma escola de imãs, em referência às instituições que formam os chefes religiosos muçulmanos. As imagens desse momento de ironia foram divulgadas em agosto no TikTok e Erdogan declarou que autores desse tipo de provocação deveriam “prestar contas diante da justiça”.

O chefe de Estado, que vem adotando leis cada vez mais repressivas no país de maioria muçulmana, não mencionou Gülsen explicitamente. Mas logo após suas declarações, a cantora passou cinco dias na cadeia, além de duas semanas em prisão domiciliar, vigiada. Segundo a justiça, ela é acusada de ter “incitado o ódio em uma parte da população”, um crime que pode ser punido com até três anos de detenção, de acordo com o código penal turco.

Esse tipo de processo vem se multiplicando na Turquia, visando quase sempre jornalistas, políticos e celebridades, mas também anônimos, quase sempre contrários ao governo. “O objetivo é mais uma vez calar as vozes da oposição”, denuncia o advogado Önder Kirmizitas.

“Gülsen nem deveria ter sido presa, pois o código penal diz que até em caso de ‘incitação ao ódio’, é necessário provar que existe um perigo claro e imediato para a segurança pública. E não foi o caso”, explica.

A 'Madonna da Turquia' já tinha sido alvo dos veículos de imprensa pró-regime. Ela foi criticada várias vezes por seus figurinos no palco ou por ter mostrado bandeiras em prol da causa LGBTQIA+ durante seus shows.

Para Önder Kirmizitas, ao punir a cantora, o governo tenta dividir ainda mais a sociedade turca, há apenas oito meses das eleições gerais.

“É do interesse do presidente essa polarização. A divisão o ajuda a consolidar sua base eleitoral, principalmente nesse momento de crise econômica. Incitar as divisões religiosas e étnicas é uma das principais ferramentas para se manter no poder", analisa. 

Manifestantes protestam diante do tribunal no primeiro dia do processo contra a ‘Madonna da Turquia’ carregando cartazes com os dizeres 'Gulsen nunca estará sozinha'.
Manifestantes protestam diante do tribunal no primeiro dia do processo contra a ‘Madonna da Turquia’ carregando cartazes com os dizeres 'Gulsen nunca estará sozinha'. AP - Emrah Gurel

O início do processo foi marcado por tímidas manifestações. Um grupo de fãs compareceu na porta do tribunal carregando cartazes com os dizeres "Gülsen estará sozinha".

Desde sua prisão, a cantoranão fez mais nenhum show.  

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