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Presidente ultraconservador do Irã pede à polícia para reprimir manifestantes com firmeza

Ebrahim Raisi exortou neste domingo (25) a polícia do país a atuar "com firmeza" diante das manifestações que abalam o país, desde a morte da curda iraniana Mahsa Amini. A jovem de 22 anos morreu há dez dias em circunstâncias consideradas suspeitas por familiares, depois de ser detida pela polícia moral iraniana por usar o véu islâmico de forma julgada incorreta. 

A morte de Mahsa Amini, de 22 anos, deflagrou uma onda de protestos de mulheres no Irã.
A morte de Mahsa Amini, de 22 anos, deflagrou uma onda de protestos de mulheres no Irã. AP - Francisco Seco
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A revolta contra as regras sufocantes impostas pelos religiosos xiitas no poder no Irã não recua, após nove dias de protestos e confrontos com a polícia. Ao menos 41 pessoas já morreram nas manifestações, incluindo manifestantes e policiais, segundo um balanço oficial. Mas, na contagem da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, pelo menos 54 pessoas morreram na repressão aos protestos. No sábado (24), o movimento ganhou apoio no exterior, com atos registrados no Canadá, Estados Unidos, Chile, França, Bélgica, Holanda e no vizinho Iraque.

Mahsa Amini morreu no dia 16 de setembro, três dias depois de ser detida por usar "usar roupas inadequadas". A morte dela teve forte impacto entre outras mulheres de sua geração, que decidiram desafiar a ordem teocrática e sair às ruas. Fartas da opressão, várias mulheres queimaram seus véus durante os protestos. As manifestantes têm recebido o apoio de homens, que enfrentam as tentativas de dispersão de policiais munidos de armas com balas reais. No Irã, as mulheres devem cobrir o cabelo e o corpo abaixo dos joelhos e não devem usar calças apertadas ou com rasgos, entre outras coisas.

A atual onda de repúdio aos códigos sociais rígidos já é apontada como a maior no país desde novembro de 2019. Naquele ano, o aumento dos preços da gasolina, em meio à crise econômica, provocou manifestações em uma centena de cidades. As autoridades reprimiram violentamente a revolta popular, que terminou com um balanço de 230 mortes, segundo um relatório oficial, mais de 300 vítimas, de acordo com a Anistia Internacional.

O presidente ultraconservador Ebrahim Raisi, que chamou as manifestações de "motins", pediu no sábado (24) "às autoridades competentes que ajam com firmeza contra aqueles que ameaçam a segurança e a paz do país e do povo" iraniano. Ele pediu para "distinguir entre manifestações e perturbação da ordem e segurança públicas". Na mesma linha, o chefe do Judiciário, Gholamhossein Mohseni Ejei, salientou a necessidade de "agir de forma decisiva e sem clemência" contra os principais instigadores dos "motins", segundo o site Mizan Oline.

Manifestação pró-governo

O ministério das Relações Exteriores iraniano apontou um suposto papel dos Estados Unidos nos protestos e alertou que "os esforços para violar a soberania do Irã não ficarão sem resposta". O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, citado pela agência oficial IRNA, disse esperar que "a justiça processe rapidamente os principais responsáveis e líderes dos distúrbios", depois que a polícia anunciou a prisão de mais de 700 pessoas.

De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede nos Estados Unidos, 17 jornalistas foram detidos desde o início dos protestos. As autoridades convocaram para este domingo uma nova manifestação a favor do governo.

Na noite de sábado, houve manifestações em várias cidades do país, incluindo a capital Teerã, onde um vídeo que se tornou viral mostrava uma mulher andando na rua com a cabeça descoberta e acenando com o lenço, ignorando os rígidos códigos vestimentares impostos pelas autoridades religiosas xiitas. O principal partido reformista do Irã pediu no sábado que o Estado suspenda a obrigação de as mulheres usarem véu em público e libertasse os detidos.  

A Anistia Internacional acusou as forças de segurança de "disparar deliberadamente munição real contra manifestantes" e pediu "ação internacional urgente para acabar com a repressão". A internet ainda sofria perturbações, e o WhatsApp e o Instagram seguiam bloqueados. O NetBlocks, um site com sede em Londres que monitora os bloqueios da Internet em todo o mundo, também informou que o Skype foi bloqueado.

O Irã convocou os embaixadores do Reino Unido e da Noruega para denunciar uma "ingerência". O diplomata britânico foi repreendido por reportagens exibidas por canais de TV baseados em Londres, que estariam "incitando os motins" e contribuindo "à propagação de distúrbios". O embaixador norueguês foi convocado para dar esclarecimentos sobre declarações do presidente do Parlamento do país, consideradas como "uma ingerência em assuntos interiores do Irã".

Cineasta iraniano pede solidariedade internacional

O diretor de cinema iraniano duas vezes vencedor do Oscar Asghar Farhadi pediu aos cidadãos de todo o mundo que "se solidarizem" com os manifestantes e elogiou as "mulheres progressistas e corajosas que lideram os protestos por seus direitos". "Elas pedem direitos simples, mas fundamentais, que o Estado nega-lhes há anos", disse Farhadi, em uma mensagem de vídeo publicada no Instagram.

"Essa sociedade, especialmente essas mulheres, percorreu um caminho duro e doloroso até chegar a este ponto", acrescentou o diretor iraniano. "Eu as vi de perto nestas noites. A maioria é muito jovem, de 17 ou 20 anos", acrescentou Farhadi. "Vi a indignação e a esperança em seus rostos e na forma como marchavam pelas ruas. Respeito profundamente sua luta pela liberdade e pelo direito de escolher seu próprio destino, apesar de toda brutalidade a que estão submetidas", completou o cineasta.

Com informações da AFP

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