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Manifestante iraniana: “Não podíamos mais esperar a nossa vez de morrer”

Após vários dias de protestos contra a morte da jovem Mahsa Amini, as iranianas temem pelo futuro e um aumento ainda maior da repressão no país. Nesta sexta-feira (23), em uma demonstração de força do governo, o Irã é palco de manifestações a favor do poder.

Iranianas com bandeira nacional fazem protestos a favor do hijab na capital Teerã, em 23 de setembro de 2022.
Iranianas com bandeira nacional fazem protestos a favor do hijab na capital Teerã, em 23 de setembro de 2022. AFP - -
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Amini, uma curda de 22 anos, morreu enquanto estava sob custódia, depois de ser detida pela polícia moral iraniana, que julgou que ela usava o hijab (véu islâmico) de forma "inadequada". A notícia provocou uma indignação generalizada e uma onda de protestos que, até quinta-feira (22), deixaram ao menos 17 mortos, entre eles cinco membros do pessoal de segurança, segundo dados oficiais.

Entretanto, de acordo com o Centro para os Direitos Humanos do Irã, uma organização com sede em Nova York, esse número é mais alto. "Fontes independentes falam de 36" mortos, tuitou o CHRI na quinta-feira.

“Eu me sinto triste e com raiva, ao mesmo tempo. A morte dela foi muito injusta, e poderia acontecer a mesma coisa com cada uma de nós ou das nossas irmãs”, disse uma jovem ao repórter da RFI Nicolas Falez. “Sabemos que não foi a primeira vez. Mahsa Amini não foi a primeira a ser morta sem razão”, declarou a manifestante, que preferiu manter o anonimato.

Ela relata que, a cada vez, um número maior de policiais acompanha os protestos. “Nós tememos pela nossa vida. Sabemos que eles podem se tornar cada vez mais brutais, mas essa é a única coisa que podemos fazer para sermos ouvidas”, afirma.  

Como ela, outra jovem só aceitou dar entrevista com a garantia de que teria a voz distorcida, de modo a não ser reconhecida. O temor é o de que, com o retorno do presidente iraniano ao país, que viajou aos Estados Unidos para a Assembleia Geral da ONU, a repressão se intensifique.

De acordo com o grupo de direitos humanos curdo Hengaw, com sede em Olso, as forças de segurança dispararam "armas semipesadas" contra manifestantes durante confrontos noturnos na cidade de Oshnavih, no norte do país.

“Nós não podemos suportar mais mortes dos nossos jovens, do nosso povo. Não podíamos mais esperar o momento em que nós seríamos as próximas vítimas, e seríamos eliminadas em nome das ideias e interesses políticos deles”, criticou a segunda manifestante ouvida pela reportagem. “Às vezes, fico cheia de esperança, mas no instante seguinte, fico desesperada, porque o que estamos enfrentando é muito duro”, disse.

Manifestantes apoiam governo

A reação do governo aos protestos aumentou nesta sexta-feira, quando o Conselho de Coordenação de Desenvolvimento Islâmico do Irã anunciou manifestações em todo o país em apoio ao hijab e a um código de vestimenta conservador para mulheres. O conselho classificou os manifestantes contrários de "mercenários", acusando-os de insultar o Corão e o profeta Maomé, além de ter queimado mesquitas e a bandeira do Irã, informou a agência oficial de notícias Irna.

O acesso à internet foi restrito em um padrão de "interrupções no estilo de toque de recolher", de acordo com a organização NetBlocks. Instagram e WhatsApp, bloqueados desde quarta-feira, ainda estavam inacessíveis nesta sexta.

Desde que Amini foi declarada morta em 16 de setembro, três dias após ser detida em Teerã pela polícia, os protestos se espalharam pelos principais centros urbanos do país, como a capital e as cidades de Isfahan, Mashhad, Rasht e Saqqez. Segundo as ONGs, a mulher, cujo nome em curdo é Jhina, teria sofrido uma pancada fatal na cabeça, declaração negada pelas autoridades, que anunciaram uma investigação.

Algumas manifestantes removeram o hijab e o queimaram, como forma de desafiar o poder religioso. Outras cortaram simbolicamente o cabelo diante da multidão, de acordo com imagens postadas nas redes sociais.

As forças de segurança responderam atirando com balas de borracha e balas de metal, gás lacrimogêneo e canhões de água, segundo a Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos.

(Com informações da AFP)

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