Como Moscou tenta dividir ucranianos distribuindo passaportes russos
Foram 23 ucranianos os primeiros a receberem passaportes russos em regiões ocupadas pelas forças armadas de Moscou. A política de entrega facilitada de documentos, aprovada por Vladimir Putin no final de maio, é mais uma estratégia russa para causar um cisma entre a população ucraniana e enfraquecer a resistência nesta guerra.
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Os primeiros passaportes em terras ocupadas da Ucrânia foram entregues no dia 11 de junho em Kherson, uma grande cidade do sul do país administrada por autoridades pró-Rússia.
A data não foi escolhida por acaso, já que sábado era a véspera do dia da Rússia, que marca a declaração de soberania do país em relação à União Soviética em 1990. O objetivo de Moscou é dar mais um passo em sua estratégia simbólica de mostrar que aquela área é de domínio russo.
"Todos os habitantes de Kherson querem receber um passaporte e a cidadania (russa) o mais rápido possível", afirmou Vladimir Saldo, funcionário da administração local pró-Rússia da região durante a cerimônia de entrega, que foi divulgada ao mundo pela agência de notícias russa Tass.
A região que faz fronteira com a Crimeia foi a primeira a cair sob domínio russo, ainda em fevereiro. O rublo hoje é a moeda em uso nas ruas, ainda que a hryvnia ucraniana continue a ser aceita por enquanto.
O mesmo acontece em Donbass, na autoproclamada República Popular de Donetsk, onde os prédios públicos ostentam lado a lado a bandeira local e a bandeira russa.
Alguns moradores de áreas dominadas vão até a Rússia para tirar seus passaportes russos. “Temos de ter um documento como esse, é importante”, explica uma habitante ao jornalista da Franceinfo. Com o passaporte, os moradores dessas regiões podem ter acesso a benefícios sociais russos.
Aos poucos, Moscou tenta absorver essas áreas à administração russa, reduzir o sistema de governança e apagar a identidade ucraniana nessas regiões.
"Laboratório dos horrores do Kremlin"
O decreto assinado pelo presidente Vladimir Putin no fim de maio agiliza o processo de obtenção do passaporte. O anúncio da decisão foi recebido pela Ucrânia como mais uma prova do plano imperialista russo, com ocupação e integração dos territórios à esfera jurídica, política e econômica.
"A emissão forçada de passaportes para ucranianos é mais uma prova do objetivo criminoso da guerra da Rússia contra a Ucrânia", afirmou à época um comunicado do ministério ucraniano dos Negócios Estrangeiros.
O embaixador dos Estados Unidos na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, chamou a região de Kherson de "laboratório dos horrores do Kremlin".
O norte-americano afirma que a população da região não é tão pró-Moscou como a Rússia tenta mostrar ao mundo. As autoridades ucranianas reivindicam ações diárias de resistência, com ataques a ônibus, assassinatos de soldados e distribuição de panfletos apelando à desobediência civil.
Nesta quarta-feira (15), o Exército ucraniano declarou ter lançado três bombardeios contra tropas russas, depósitos de combustível e equipamentos militares na região de Kherson. No entanto, essas informações são difíceis de serem verificadas.
(Com informações de Oriane Verdier, da RFI, e das agências internacionais)
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