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Conheça Vitali Klitschko, ex-campeão de boxe e prefeito de Kiev que virou símbolo da resistência ucraniana

O prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko, entrou para a política por vocação e na guerra por necessidade. Pouco antes da invasão de seu país, em 24 de fevereiro, trocou as luvas de boxe por armas para enfrentar os soldados russos. Ex-campeão mundial na categoria peso pesado, ele é o símbolo, ao lado do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, da resistência da Ucrânia aos ataques da Rússia. 

O prefeito de Kiev Vitali Klitschko, em um vídeo publicado em sua conta no Instagram.
O prefeito de Kiev Vitali Klitschko, em um vídeo publicado em sua conta no Instagram. © REUTERS/Instagram/Vitali Klitschko
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Daniel Vallot, da RFI

Sem tirar os olhos da tela de seu celular, Vitali Klitschko recebe um grupo de moradores de Kiev, cercada pelas Forças Armadas russas em 15 de março. O prefeito conversa com os homens que têm idade para se engajar no conflito.

"A capital é o coração da Ucrânia, e vamos defendê-la. Kiev é o símbolo da segurança e da liberdade na Europa. Não vamos ceder e vamos impedir que nos coloquem de joelhos", diz.

Desde o início do conflito, o prefeito de Kiev vem publicando várias mensagens nas redes sociais com o objetivo de encorajar a resistência ucraniana. Para motivar a população, ele posta com frequência fotos usando colete à prova de balas ou segurando armas. As imagens têm como pano de fundo abrigos antiaéreos, check-points e barricadas. 

Antes de se lançar na política, Vitali Klitschko foi um dos maiores boxeadores de sua geração. Ele conquistou diversas vezes o título de campeão do mundo na categoria peso pesado, assim como seu irmão Wladimir, cinco anos mais jovem.

"Vitali era dotado de qualidades físicas extraordinárias, mais lento que seu irmão, mas mais resistente", lembra o jornalista Jean-Philippe Lustyk, especialista no esporte.

Vitali Klitschko em Kiev, em 10 de fevereiro
Vitali Klitschko em Kiev, em 10 de fevereiro AFP - SERGEI SUPINSKY

"Uma das principais qualidades de um boxeador é sua capacidade de resistir, inclusive aos golpes. Vitali tinha uma potência devastadora: ele sofreu apenas duas derrotas na sua carreira e contabilizava 41 nocautes, um dos maiores recordes da história do boxe. Com seu irmão, Wladimir, ele obteve todos os títulos e impôs sua lei nos ringues, nos anos 2000.

Vitali e Wladimir têm um pacto. Trata-se de uma promessa feita à mãe deles, a de nunca se enfrentarem mutuamente.

"Eles tinham uma enorma disciplina, herdada do pai, que era general das Forças Armadas soviéticas e um dos liquidatários de Chernobyl, civis ou militares chamados para lidar com as consequências do desastre nuclear", recorda Jean-Philippe Lustyk. "Eles também tinham uma coragem enorme e um comportamento no ringue que correspondia às suas personalidades: não faziam provocações ou falavam palavrões. Com um orgulho inerente aos campeões, mas também muito corretos e dotados de uma grande inteligência, pois ambos fizeram estudos científicos", reitera.

Líder do movimento Maïdan

Nos anos 2000, Vitali Klitschko tentou, pela primeira vez, se impor na política. Ele perdeu nas duas vezes que tentou se eleger prefeito de Kiev, mas já demonstrava habilidade. "Dos grandes atletas que tentaram se lançar na política na época, ele era o mais preparado", conta o jornalista Volodymyr Yermolenko. "Houve outras tentativas, como a de Andriy Chevtchenko, nossa estrela do futebol, mas Klitschko, desde o início, mostrou uma certa maturidade política."

A carreira de Vitali Klitschko vai decolar na época do Maïdan, o movimento pró-europeu que surgiu em Kiev em 2014. "Ele se envolveu desde o início e se tornou um dos três líderes do movimento ao lado de Arseni Iatseniouk e Oleh Tyahnybok. Iatseniouk era mais intelectual e Tyahnybok era um líder nacionalista, mas Klitschko era basicamente o que fortalecia Maïdan", diz.

Prefeitos em primeira linha

Depois de Maïdan, Vitali Klitschko decidiu disputar a presidência, mas desistiu do projeto para apoiar Petro Porochenko, que perderia as eleições em 2019 para Volodymyr Zelensky. Mas o ex-boxeador conquistou a prefeitura de Kiev, um cargo estratégico: as grandes cidades têm grande autonomia no país após as reformas de descentralização.

Isso explica o papel importante dos prefeitos, desde o início da guerra. As decisões não passam unicamente por Zelensky: o espírito de resistência vem do povo, das comunidades, de cada cidadão, e é representado pelas cidades e as autoridades locais.

Aos 51 anos, Vitali Klitschko e seu irmão Wladimir se inscreveram nas tropas de reservistas das forças ucranianas, que estão prontas para lutar em defesa da cidade. Este poderá ser um dos maiores combates do ex-boxeador, que se tornou uma das figuras mais representativas da resistência da Ucrânia. 

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