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Ucraniana em Lviv lidera campanha para mudar nomes de ruas onde ficam embaixadas russas

A resistência das mulheres ucranianas passa também pela comunicação. Mudar nomes de ruas, contar a história do ponto de vista de seu povo, chamar a invasão russa em terras ucranianas de guerra e não de "operação especial", como o governo russo difunde internamente. Estas são algumas das ações que Kristina Nikolayeva e seu grupo estão colocando em prática. Kristina coordena a campanha "Rua Ucrânia" de seu lar temporário na região de Lviv, no oeste do país, e conversou com a RFI. 

Kristina Nikolayeva é uma das profissionais de comunicação que redirecionou os seus esforços para a guerra, pedindo solidariedade internacional e dando voz ao seu povo.
Kristina Nikolayeva é uma das profissionais de comunicação que redirecionou os seus esforços para a guerra, pedindo solidariedade internacional e dando voz ao seu povo. © Arquivo pessoal
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Paloma Varón, especial para a RFI

Antes da guerra, Kristina trabalhava para uma agência de comunicação em Kiev, onde também morava. Com a guerra, foi obrigada a abandonar o seu apartamento, localizado no norte da capital, por onde as tropas russas mais avançaram, mas não deixou de fazer o que mais sabe: comunicar. "Precisamos comunicar e informar ao mundo o que está acontecendo no nosso país", relata ela, que não pretende deixar a Ucrânia. 

"Dentro deste projeto, pedimos solidariedade global e nos dirigimos a autoridades, prefeitos, ativistas e cidadãos para iniciar e apoiar a renomeação das ruas com embaixadas e consulados russos para Rua Ucrânia em todo o mundo", explicou Kristina, em entrevista exclusiva à RFI Brasil.

Para Kristina, isso é importante para que os russos saibam que a Ucrânia existe como país soberano e, "se eles se sentirem incomodados, que mudem os prédios das embaixadas de endereço". 

"Este seria um ato simples, mas significativo, de apoio simbólico ao corajoso povo ucraniano, que defende os valores da liberdade e da democracia", diz o texto do site do projeto, que será lançado oficialmente nesta segunda-feira (28) na Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia.

Renomeação de ruas já começou

Países como Lituânia, Letônia e Albânia já renomearam as ruas e praças onde ficam as embaixadas da Rússia e outros, como Polônia, Dinamarca e Irlanda, estudam o projeto. "A ideia é que o projeto cresça e convença mais e mais legisladores, em países de todos os continentes", afirma. 

Além de liderar o projeto das ruas Ucrânia pelo mundo, Kristina trabalha em duas outras ações de comunicação: o site We Are Ukraine (Nós Somos Ucrânia) e o "Call War" (Chame de Guerra, em tradução livre).

"A Rússia construiu o pretexto de sua invasão da Ucrânia com base em fatos históricos mal interpretados e mentiras obsessivas. Assim, nosso objetivo foi criar um arquivo em inglês com informações verdadeiras e fáceis de compartilhar sobre a guerra Rússia-Ucrânia e sobre a Ucrânia como país, insights sobre a resiliência ucraniana, opiniões de líderes mundiais ucranianos e democráticos sobre a invasão russa da Ucrânia", explica.  

Ela lembra que a história de Kiev é mais antiga que Moscou. "Conhecer a História é importante para lembrar que a Ucrânia é uma nação real, com sua propria história, a Ucrânia vai ficar e vai ficar para sempre e os russos têm de lidar com isso", diz Kristina, acusando a Rússia de querer apagar a Ucrânia do mapa, como o presidente do país, Volodymyr Zelensky, já havia dito. 

"Todos os dias, nossa equipe editorial seleciona os fatos ou eventos mais interessantes e emocionantes desta guerra e os transforma em conteúdo visual para que qualquer pessoa seguir e compartilhar", continua. 

Chamar a guerra de guerra

Por que o vocabulário conta tanto? Para Kristina, é fundamental lutar contra a propaganda russa que chama a guerra de "operação especial" e, para isso, é importante "dar nome aos bois". 

"Este projeto é uma abordagem radical ao vocabulário usado para descrever a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Muitas organizações e funcionários internacionais escondem-se por trás da linguagem branda e indescritível, evitando citar o agressor, chamando de 'conflito', 'escalada' ou 'eventos na Ucrânia' acontecimentos que, de fato, já se tornaram um genocídio do povo ucraniano, o que é evidente para quem leu pelo menos um artigo sobre Mariupol, por exemplo".

Kristina insiste que é preciso chamar de guerra e nomear corretamente o agressor (a Rússia). "'Parem a guerra', dizem os cartazes. Mas não fomos nós quem começamos a guerra. É preciso se dirigir a quem começou a guerra para pedir que eles parem. Nós nunca quisemos esta guerra", finaliza. 

Sobre a guerra de comunicação do lado russo, Kristina diz que os russos começaram com a propaganda muito antes da invasão da Criméia, em 2014. "A narrativa da Rússia nas mídias europeias e americana, com o canal Russia Today e diferentes outros projetos do governo Putin, fez muita gente acreditar que eles estavam certos. Mas agora as pessoas podem ver. É muito fácil de entender: se eles dizem que os ucranianos todos querem ser parte da Rússia, então por que tantos de nós fugimos para o Ocidente quando a guerra começou, e não para a Rússia?", questiona. 

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