Acessar o conteúdo principal

Famosas e anônimas: quem são as mulheres da resistência ucraniana

Desde que começou a guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro, apenas as mulheres, crianças e idosos podem deixar o país. Homens entre 18 e 60 anos devem ficar, para defender o território. Mas muitas mulheres, mesmo tendo o direito de sair, preferem ficar e pegar em armas para lutar pelo país ou dar apoio moral e logístico aos militares. "Eu encontrei o sentido da minha vida", disse uma ucraniana entrevistada pela RFI que cozinha para os soldados na cidade de Vasylkiv, a 32 km de Kiev. 

Ucranianas pegam em armas, carregam filhos e animais e mostram muita resiliência para lutar contra a invasão russa
Ucranianas pegam em armas, carregam filhos e animais e mostram muita resiliência para lutar contra a invasão russa AP - Vadim Ghirda
Publicidade

“É nossa cidade, não vamos fugir. Fugir por quê? Para onde? Aqui eu sou útil. É o sentido da minha vida agora: ajudar os soldados. Então eu fico”, disse Ludmilla aos enviados especiais da RFI a Vasylkiv, com o choro de um bebê ao fundo.

Ludmilla, que é professora e mãe de duas crianças, contou que pessoas do seu entorno preferem ficar na penumbra e na umidade dos bunkers, ou em seus porões, porque há bombardeios até durante o dia. 

A mesma informação chega de Kharkiv. "Há bombardeios o tempo todo que ouço da minha casa. Há cortes de luz porque as infraestruturas foram destruídas. Mas os serviços municipais ainda funcionam e tentam consertar o que podem. O metrô está fechado porque serve de abrigo antibomba", disse à RFI Inga, moradora da segunda maior cidade ucraniana. 

"Eu sou voluntária para a preparação de refeições no meu bairro. Eu recepciono carros com alimentos, água, pão... A cidade está mobilizada, mas há muito desespero de pessoas que foram abandonadas, são deficientes que precisam de remédios, de ajuda. É muito duro", desabafa.

Luta armada e defesa civil do território

Em Kiev, a deputada Kira Rudik posa com um fuzil Kalashnikov em diversas fotos. Ela admite que aprendeu a manipular a arma faz poucos dias, no início da invasão russa ao seu país. Em um de seus posts no Instagram, ela incita as mulheres a lutarem como os homens. Em outro, ela aparece trabalhando, em frente de um computador, com a arma do lado. 

A escritora ucraniana radicada na França Irena Karpa, que coordena a ajuda aos refugiados e voluntários da defesa territorial, é um dos rostos da resistência no exterior. "Para os ucranianos agora é a liberdade contra a ditadura. Todos aqueles que costumavam levar uma vida tranquila agora estão defendendo um valor que colocam acima de sua própria segurança. As pessoas estão prontas para dar suas vidas. Começando pelas mulheres. É muito impressionante", disse ela à TV5 Monde sobre a guerra em seu país.

A escritora contou ter ouvido diversos relatos de mulheres que, mesmo podendo deixar o país, decidiram ficar, para participar da defesa civil do território

Um compromisso com o país que é resumido por Ludmilla, deputada independente no Parlamento ucraniano, à radio France Inter: "Putin é a única pessoa no mundo que pode me fazer pegar em armas, porque sou uma pessoa muito pacífica e tenho duas crianças pequenas". 

As mulheres que não sabem ou não querem manejar armas trabalham nos bastidores para cuidar dos feridos, apoiar e abastecer as forças armadas ou organizar a entrega de ajuda humanitária.

As ucranianas não são as únicas a integrar a resistência ou a assistência aos soldados ucranianos. Anastasi Stancieu é russa e mora na Romênia. Ela é uma das muitas voluntárias que acolhem refugiados vindos da Ucrânia.

"No começo eles me perguntam: 'Você é russa?' Eu respondo: 'Sim, eu sou russa'. Então, eles esperam que pelo menos eu não seja de Moscou e... surpresa!... eu sou de Moscou. E cada vez acontece a mesma coisa: por dois minutos eles ficam petrificados. Aí eles começam a falar... e depois de 10 minutos eles caem nos meus braços e não me soltam mais", relata a voluntária à RFI.

(Com reportagens de Pierre Olivier e Bertrand Haeckler, enviados especiais da RFI à Ucrânia)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.