Acessar o conteúdo principal

Em dia de volta às aulas, Talibã fecha escolas e manda alunas afegãs para casa

As adolescentes afegãs retornaram nesta quarta-feira (23) aos colégios do Ensino Médio, sete meses após a tomada de poder pelos talibãs. Mas, poucas horas depois, os líderes do governo islâmico mandaram as alunas de volta para casa. 

Afegã nas ruas em Cabul, sob o olhar atento de um combatente talibã.
Afegã nas ruas em Cabul, sob o olhar atento de um combatente talibã. © AP/Hussein Malla
Publicidade

O porta-voz talibã, Inamullah Samangani, confirmou a informação, sem dar mais detalhes. "Não estamos autorizados a comentar", reagiu o porta-voz do ministério da Educação, Aziz Ahmad Rayan. 

"Vejo minhas estudantes chorando e reticentes em deixar a aula", afirmou Palwasha, professora na escola para mulheres Omra Khan, em Cabul. "É muito triste ver as nossas estudantes chorando", acrescentou. A enviada da ONU ao país, Deborah Lyons, afirmou que as informações sobre o fechamento dos estabelecimentos eram "preocupantes". 

Quando os talibãs tomaram o poder em agosto de 2021, as escolas estavam fechadas por conta da pandemia. Apenas os meninos e meninas do ensino básico foram autorizados a retornar às aulas dois meses depois. A comunidade internacional considera o acesso das meninas às escolas um ponto fundamental nas negociações para o reconhecimento do regime talibã, que em seu mandato anterior (1996-2001) proibiu a educação para as mulheres.

Nesta quarta-feira, a volta às aulas não ocorreu da mesma maneira em todo o país. Em Kandahar, no sul, berço do movimento Talibã, o retorno está previsto para o próximo mês. Mas vários colégios abriram as portas na capital e em regiões como Herat ou Panshir por algumas horas.

Os talibãs alegaram que precisavam de tempo para garantir que as jovens com idades entre 12 e 19 anos permaneceriam bem separadas dos garotos e que os estabelecimentos de ensino fossem administrados de acordo com os princípios islâmicos. "Não abrimos as escolas para agradar a comunidade internacional ou para obter o reconhecimento do mundo", declarou Ahmad Rayan, porta-voz do ministério da Educação.

"Nós fazemos isso como parte da nossa responsabilidade de fornecer educação e estruturas educacionais às nossas alunas", acrescentou. Muitas estudantes estavam ansiosas para voltar às aulas, apesar das regras que as obrigam a se vestir cobrindo todo o corpo. "Já estamos atrasadas em nossos estudos", reclamou Raihana Azizi, de 17 anos.

Manifestação pelos direitos das mulheres, em janeiro de 2022.
Manifestação pelos direitos das mulheres, em janeiro de 2022. AFP - WAKIL KOHSAR

Restrições 

Em sete meses de governo, os talibãs determinaram várias restrições às mulheres, que foram excluídas dos empregos públicos, enfrentam controles da sua forma de vestir e são impedidas de viajar sozinhas para fora de suas cidades.

O regime fundamentalista também prendeu várias ativistas que defenderam os direitos das mulheres. "As meninas que concluíram os estudos permanecem em casa e seu futuro é incerto", lamenta Heela Haya, que decidiu abandonar a escola.

"Qual será o nosso futuro?", questiona a jovem. "Por que você e sua família fariam enormes sacrifícios para a menina estudar se ela nunca poderá ter a carreira com que sonha?", questiona Sahar Fetrat, pesquisadora assistente da ONG Human Rights Watch.

A pobreza e os conflitos que devastam o país levaram os alunos afegãos à perda de vários anos letivos. Alguns continuam seus estudos até os 20 anos. O país também enfrenta escassez de professores: muitos fugiram, ao lado de dezenas de milhares de afegãos, após a tomada de poder pelos talibãs.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.