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Rússia ainda pode invadir a Ucrânia, diz secretário-geral da Otan

De acordo com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a Rússia continua a reforçar sua presença militar na fronteira com a Ucrânia. "Não constatamos nenhuma diminuição da tensão. A Rússia ainda pode invadir a Ucrânia com 100 mil soldados", declarou nesta quarta-feira (16) em uma reunião com os representantes da organização em Bruxelas. 

Comboio de veículos blindados russos é visto em estrada da Crimeia, em janeiro.
Comboio de veículos blindados russos é visto em estrada da Crimeia, em janeiro. © AP
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"Ouvimos as declarações de Moscou sobre os desejo de manter os esforços diplomáticos e estamos abertos às discussões. Mas a Rússia deve agir, retirar suas forças e apaziguar as tensões", declarou. "Acompanhamos de perto o que faz a Rússia. Constatamos a chegada de tropas e de equipamentos pesados, e da retirada das tropas, mas o armamento continua no local", disse. "Queremos uma retirada duradoura, não apenas um movimento incessante de tropas. Estamos prontos para nos reunir com a Rússia, mas nos preparamos para o pior", concluiu o representante da Otan.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, pediu prudência nesta quarta-feira (16) após o anúncio feito pelo governo russo de retirada parcial das tropas russas da Crimeia. Em entrevista à rádio francesa France Inter, Borrell declarou que, se confirmada, a informação seria "sem dúvida" um sinal de diminuição das tensões. Moscou já havia anunciado, na terça-feira (15), o início da saída de soldados russos que estavam posicionados há vários meses nas fronteiras ucranianas. 

"Há sinais encorajadores, mas também preocupantes", disse Borrell, em referência ao "pedido" da Rússia sobre o reconhecimento dos territórios separatistas no leste da Ucrânia. Segundo Moscou, nenhuma decisão oficial ainda foi tomada. "Um dia a Rússia diz que tudo é possível, em outro diz que voltará à mesa das negociações e, em outro, envia uma esquadra para o mar Negro", diz.  

Nesta foto tirada do vídeo fornecido pelo Serviço de Imprensa do Ministério da Defesa da Rússia na terça-feira, 15 de fevereiro de 2022, veículos blindados russos são carregados em plataformas ferroviárias após o fim das manobras miilitares no Sul da Rússia.
Nesta foto tirada do vídeo fornecido pelo Serviço de Imprensa do Ministério da Defesa da Rússia na terça-feira, 15 de fevereiro de 2022, veículos blindados russos são carregados em plataformas ferroviárias após o fim das manobras miilitares no Sul da Rússia. AP

Vídeo de retirada de tropas

Na manhã desta quarta-feira, o Ministério russo da Defesa publicou um vídeo mostrando um comboio de tanques e veículos militares atravessando uma ponte entre a Rússia e a Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Uma parte dessas tropas deve retornar ao quartel. 

As autoridades bielorrussas garantiram, nesta quarta-feira (16), que todos os soldados russos destacados em seu território para realizar manobras militares deixarão o país assim que esses exercícios terminarem, em 20 de fevereiro. "Não restará um único soldado, uma única equipe no território bielorrusso após as manobras militares", garantiu o ministro das Relações Exteriores, Vladimir Makei, em entrevista coletiva. O chanceler bielorrusso justificou as manobras pela atuação da OTAN na região, em um contexto tenso pelas acusações dos países ocidentais de que a Rússia prepara uma invasão à Ucrânia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manteve a pressão sobre Moscou nesta terça-feira (15) diante do risco de um ataque russo à Ucrânia, que considera "uma grande possibilidade". Ele continua, porém, apostando na diplomacia para resolver a crise. Moscou julgou "positivo" que os Estados Unidos queiram negociações "sérias", calcadas no diálogo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manteve a pressão sobre Moscou nesta terça-feira (15) diante do risco de um ataque russo à Ucrânia, algo que continua a considerar "uma grande possibilidade", mas apostou na diplomacia para resolver a crise.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manteve a pressão sobre Moscou nesta terça-feira (15) diante do risco de um ataque russo à Ucrânia, algo que continua a considerar "uma grande possibilidade", mas apostou na diplomacia para resolver a crise. Brendan Smialowski AFP

O início da retirada das forças russas concentradas por vários meses nas fronteiras ucranianas, anunciado mais cedo por Moscou, "seria positivo", disse Biden em um breve discurso da Casa Branca, nesta terça-feira (15). Mas os Estados Unidos "ainda não verificaram até agora" sua implementação, completou.

Essas tropas, que o presidente americano estimou em "mais de 150.000", um número acima dos 100.000 mencionados até agora por sua administração, permanecem em "uma posição ameaçadora" ao redor da Ucrânia, no lado russo ou em Belarus, lamentou Biden. "Os Estados Unidos estão preparados para o que acontecer. Estamos prontos com a diplomacia", garantiu."E estamos prontos para responder ao ataque russo à Ucrânia, que ainda é uma grande possibilidade", alertou.

O presidente russo Vladimir Putin, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, conversam na famosa mesa branca no Kremlin,que serve para limitar as contaminações pela Covid, segundo governo russo
O presidente russo Vladimir Putin, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, conversam na famosa mesa branca no Kremlin,que serve para limitar as contaminações pela Covid, segundo governo russo AP - Mikhail Klimentyev

"Retirada parcial"

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou a "retirada parcial das tropas", assegurando nesta terça-feira que "é claro" que a Rússia não quer a guerra e está disposta a buscar soluções com os países ocidentais. "Estamos prontos para continuar trabalhando juntos. Estamos prontos para embarcar no caminho das negociações", disse Putin em entrevista coletiva conjunta com o chanceler alemão, Olaf Scholz, após uma reunião em Moscou.

Scholz comemorou o anúncio da retirada parcial como "um bom sinal" e considerou que "há bases suficientes de discussão" com a Rússia "para que as coisas evoluam positivamente". O presidente francês, Emmanuel Macron, também qualificou a atitude russa de um "primeiro sinal positivo" durante uma conversa telefônica com Biden, enquanto concordava com o líder americano sobre a necessidade de "verificar" esse início de retirada.

Já o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu ao chanceler russo, Serguei Lavrov, uma "redução verificável, credível e significativa" durante uma conversa telefônica nesta terça-feira. Moscou, por outro lado, continua realizando grandes manobras militares em Belarus, vizinha pró-Rússia da Ucrânia, até 20 de fevereiro.

Ameaça para a Rússia

Putin reiterou que a expansão da Otan e a aspiração da Ucrânia de aderir à aliança constituem uma ameaça para a Rússia. "Há um fato: a entrada da Ucrânia na Otan não está na agenda", respondeu o alemão Scholz, no entanto. "Todo mundo tem que dar um passo atrás e perceber que não podemos ter um conflito militar por uma questão que não está na agenda", enfatizou.

Os Estados Unidos, que continuam propagando a possibilidade de uma invasão russa da Ucrânia, que pode acontecer "a qualquer momento", manteve a pressão sobre a potência rival. As sanções ocidentais contra a Rússia no caso de uma ofensiva militar "estão prontas", alertou Biden, prometendo uma resposta "decisiva".

Essas medidas punitivas "poderosas" colocarão "pressão sobre suas maiores e mais importantes instituições financeiras e indústrias-chave", disse o presidente dos Estados Unidos. Ele também reafirmou que o controverso gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha nunca entraria em operação no caso de um ataque russo.

Biden também anunciou que está "pronto para responder" a qualquer "ataque" contra os Estados Unidos ou seus aliados da Otan, incluindo ataques cibernéticos. Mas, falando diretamente com Putin no sábado, disse que existem "maneiras reais" de abordar as preocupações de segurança de ambos os lados. "A diplomacia deve receber todas as oportunidades", agregou.

"Diálogo pragmático"

Por seu lado, o chanceler russo Lavrov chamou Anthony Blinken para um "diálogo pragmático" enquanto denunciava a "retórica agressiva usada por Washington". Moscou, que nega querer invadir a Ucrânia, lamenta a rejeição dos países ocidentais às suas principais reivindicações: o fim da política de alargamento da Otan, o compromisso de não lançar ofensivas armamentistas perto do território russo e a retirada da infraestrutura da Aliança do Leste Europeu.

Para Putin, essas questões e suas exigências devem fazer parte do mesmo "pacote" de negociações. Um ataque cibernético visando infraestruturas estratégicas ucranianas para perturbar as autoridades é um dos cenários mencionados como prenúncios de uma ofensiva militar clássica. "Este reconhecimento seria uma clara violação dos acordos de Minsk", assinados sob mediação franco-alemã e que preveem a eventual devolução destes territórios ao controle de Kiev, alertou de imediato o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

(Com informações da AFP)

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