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Brasileiros relatam dia a dia na Ucrânia diante da ameaça de guerra com a Rússia

Apesar das intensas rodadas diplomáticas dos últimos dias, cresce a possibilidade de um conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia, que mantém centenas de milhares de soldados posicionados na fronteira. A RFI conversou com brasileiros que vivem em Kiev sobre o dia a dia em meio à ameaça de uma intervenção.

O engenheiro David Abu-Gharbil, 30 anos, chegou em dezembro a Kiev. Ele diz que, por enquanto, não sente a ameaça no cotidiano e isso se deve, em parte, ao fato que a Ucrânia sabe tem ajuda de forças externas.
O engenheiro David Abu-Gharbil, 30 anos, chegou em dezembro a Kiev. Ele diz que, por enquanto, não sente a ameaça no cotidiano e isso se deve, em parte, ao fato que a Ucrânia sabe tem ajuda de forças externas. © Divulgação
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Taíssa Stivanin, da RFI

O goiano Rony de Moura dos Reis, 34 anos, veio da Espanha para a Rússia em 16 de março de 2014, para estudar Medicina. “Eu me lembro, quando estava indo de Moscou para a cidade de Kursk, onde estudei, de ter visto um trem cheio de tanques de guerra que estava indo para a Crimeia. E no dia 18, a região foi tomada pelos russos”, recorda.

O brasileiro viveu no país durante três anos e, em seguida, foi transferido para Kiev, a capital ucraniana, onde concluiu seu curso. Agora, Rony deve realizar sua prova final para obter seu diploma e voltar para o Brasil. Porém, a possibilidade de um conflito armado entre russos e ucranianos, conta, complicaria seus planos , já que o teste pode ser adiado.

“Sinto que as pessoas estão com medo agora. Observo isso no meu trabalho”, diz Rony que, além de estudar, trabalha como vendedor em uma plataforma de investimentos local. “Ninguém quer guerra, isso atrapalharia a vida de muita gente. Então, existe esse temor, principalmente nos últimos dias", garante, criticando a atuação da Europa e dos Estados Unidos na crise. “A Rússia e a Ucrânia são o mesmo povo e é o Ocidente que cria esse conflito”, avalia.

O goiano Rony de Moura dos Reis, 34 anos, morou três anos na Rússia e agora vive na Ucrânia, onde terminou seu curso de Medicina. Ele diz que sente que as pessoas em Kiev estão "com medo" diante da possibilidade de um conflito.
O goiano Rony de Moura dos Reis, 34 anos, morou três anos na Rússia e agora vive na Ucrânia, onde terminou seu curso de Medicina. Ele diz que sente que as pessoas em Kiev estão "com medo" diante da possibilidade de um conflito. © Divulgação

O engenheiro brasileiro David Abu-Gharbil, 30 anos, trabalha com Rony, e chegou em dezembro à capital ucraniana. Ele ainda está se habituando à vida no país e aproveitou o câmbio mais favorável para executar seu projeto de morar fora – 1 Grívnia, a moeda nacional da Ucrânia, equivale a R$ 0,18 e vem se desvalorizando por conta da crise política. Ele diz que, por enquanto, não sente a ameaça no cotidiano e isso se deve, em parte, ao fato de que a Ucrânia sabe que tem ajuda de forças externas, em referência aos países da Otan.

“Não tenho muito medo, levo minha vida normalmente. Pego metrô, vou para o trabalho, as ruas estão lotadas. Se acontecer alguma coisa, eu vou embora para o Brasil”, conta. Ele diz que conversa diariamente com sua família para tranquilizá-los. “Converso com meu pai e meu irmão diariamente e explico que é uma questão política. As notícias que passam lá são totalmente diferentes das que ouvimos aqui”, afirma.

O engenheiro David Abu-Gharbil, de 30 anos, chegou em dezembro a Kiev.
O engenheiro David Abu-Gharbil, de 30 anos, chegou em dezembro a Kiev. © Divulgação

“Vida em Kiev segue normal”, diz embaixador brasileiro

O embaixador brasileiro na Ucrânia, Norton de Andrade Mello Rapesta, disse em entrevista à RFI que a situação atual em Kiev não é preocupante. “No sábado mesmo fui ao supermercado perto de casa e as pessoas estavam fazendo compras normalmente. Nas ruas o movimento é normal. Os teatros e cinemas também estão funcionando como sempre”, salienta.  

Na sexta-feira (11), a embaixada divulgou uma nota pedindo aos cidadãos que ficassem “alertas”, mas não há recomendação de “segurança contrária à permanência na Ucrânia.” Em caso de urgência, as recomendações serão divulgadas na página oficial da representação brasileira e nas redes sociais.

Um tanque russo durante um exercício na região de Rostov, na Rússia.
Um tanque russo durante um exercício na região de Rostov, na Rússia. AP

Diplomacia

De acordo com o embaixador, existem cerca de 500 brasileiros que moram na Ucrânia. Ele lembra que as embaixadas brasileiras estão preparadas para situações excepcionais e uma eventual retirada dos brasileiros seria avaliada, em função da gravidade da crise.

“Hoje, com essa situação, que é tensa, sem dúvida, se alguma coisa degringolar, se houver uma situação excepcional, estamos em contato com os brasileiros para ajudá-los a sair daqui. Por hora não temos nenhum alerta”, sublinha. “Em função do cenário, ou intempérie, como costumo dizer, que se apresentar, a gente vai ver como usar diferentes alternativas”, explica. “Se os brasileiros que estão aqui não se sentirem seguros, acho que devem sair, mais isso é por conta deles, não é uma recomendação da embaixada”, conclui.

Ele lembra que o governo brasileiro mantém a posição de defesa da integridade territorial da Ucrânia e que todas as disputas devem ser resolvidas diplomaticamente. “Confiamos na diplomacia, por isso estamos tranquilos quanto ao desfecho dessa crise. ”

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