Brasil continua sendo país violento para a imprensa, revela relatório da RSF
De acordo com o relatório anual da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), um total de 488 jornalistas estão detidos no mundo. A alta é de 20% em comparação com 2020, e México e Afeganistão continuam sendo os países mais perigosos para o exercício da profissão, revela o documento. O Brasil caiu quatro posições na classificação este ano e continua sendo um país violento para a imprensa.
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Segundo o relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras, a maioria dos crimes no Brasil atingiu jornalistas que cobriam histórias de corrupção, políticas públicas ou crime organizado em cidades de pequeno e médio porte. O balanço da ONG mostrou que o trabalho da imprensa brasileira tornou-se especialmente complexo desde a eleição, em 2018, de Jair Bolsonaro, que fomenta um clima de ódio e desconfiança em relação aos jornalistas.
Além disso, a paisagem midiática brasileira está concentrada, com frequência, nas mãos de grandes famílias de industriais, muitas vezes próximas da classe política. O sigilo das fontes não é sempre respeitado e muitos jornalistas investigativos são alvo de processos judiciais abusivos. "Nunca, desde a criação do balanço anual da organização, em 1995, o número de jornalistas presos havia sido tão elevado", afirma um comunicado da organização com sede em Paris, que destaca que, do total, 60 são mulheres, outro recorde.
O número de jornalistas assassinados caiu neste ano, graças, em partee, ao fim parcial de conflitos armados na Síria, Iraque, Afeganistão e Iêmen. Até 1º de dezembro de 2021, 46 jornalistas foram assassinados. "Temos que retornar a 2003 para encontrar um número de mortos inferior a 50", ressalta a RSF no documento.
Trinta jornalistas foram assassinados deliberadamente, sete deles no México, país mais perigoso pelo terceiro ano consecutivo. O México registrou 47 assassinatos de repórteres nos últimos cinco anos."Alimentada pela impunidade quase total, e diante da falta de reformas ousadas dos sucessivos governos, a espiral de violência parece interminável", denuncia o relatório.
No Afeganistão, seis jornalistas foram assassinados no decorrer do ano, vítimas de ataques e atentados com bombas. O país, afetado por décadas de violência, tem o mesmo balanço de profissionais da imprensa mortos que o México nos últimos cinco anos: 47. Além dos 488 jornalistas oficialmente presos, outros 65 estão sequestrados.
O aumento de 20% de jornalistas detidos foi provocado em particular pela repressão contra a liberdade de informação em três países: Mianmar, onde uma junta militar tomou o poder em fevereiro; Belarus, que teve uma polêmica reeleição presidencial em agosto de 2020, e China, cujo regime comunista assumiu o controle praticamente total de Hong Kong.
Cresce número de mulheres detidas
Um tribunal da ex-colônia britânica ordenou, na quarta-feira (15), a liquidação da empresa matriz do jornal Apple Daily, uma publicação pró-democracia. O Apple Daily encerrou as atividades este ano, depois que seus bens foram congelados com base em uma lei de segurança nacional que a China impôs em Hong Kong para sufocar a dissidência.
Na comparação com 2020, o número de mulheres jornalistas detidas aumentou em um terço. Um dos casos de maior destaque é o de Zhang Zhan, uma jornalista chinesa que está em condição crítica.
Em Belarus, mais mulheres (17) que homens (15) foram detidas este ano, incluindo Daria Chultsova e Katsiarina Andreyeva, condenadas a dois anos de prisão pela transmissão ao vivo em um canal de televisão de um protesto não autorizado.
Quanto aos sequestros, o grupo extremista Estado Islâmico (EI) mantém 28 jornalistas em cativeiro, o correspondente a 43% do total mundial, apesar de o grupo ter sido oficialmente derrotado em 2017. As famílias dos repórteres não sabem se estão vivos ou mortos.
(Com informações da AFP)
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