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Afeganistão: Rússia está dividida entre pragmatismo e expansão jihadista

Há várias semanas, a imprensa russa dedica suas manchetes à retirada das tropas americanas do Afeganistão. "Uma nova página, que não é a mais gloriosa, é virada na história dos Estados Unidos: Washington libera o país das forças que veio combater", diz o título do jornal Kommersant que, como outros veículos da mídia russa, julga de maneira severa a decisão americana. O governo russo também não poupa críticas ao governo de Joe Biden.

Os chefes talibãs Abdul Latif Mansour (à direita), Shahabuddin Delawar (centro) et Suhail Shahin, em Moscou, antes de uma coletiva em julho.
Os chefes talibãs Abdul Latif Mansour (à direita), Shahabuddin Delawar (centro) et Suhail Shahin, em Moscou, antes de uma coletiva em julho. AFP - DIMITAR DILKOFF
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Anissa El Jabri, correspondente da RFI em Moscou

"Durante 20 anos, as tropas americanas estiveram presentes no território afegão. Vinte anos tentando civilizar as pessoas que viviam no país e implantando regras e estilo de vida, incluindo a organização política da sociedade. O resultado é uma tragédia e inúmeras perdas. Para os Estados Unidos, e mais ainda para as pessoas que vivem no Afeganistão, o balanço é totalmente negativo", disse o presidente russo, Vladimir Putin, na quarta-feira (1), durante uma visita no leste do país.

Na Rússia, a retirada das tropas americanas – avaliada como catastrófica após a tomada de poder pelos talibãs – serve também de lição para aqueles que buscam o apoio de Washington. O recado é para a Geórgia e a Ucrânia: os Estados Unidos não têm aliados. Nada é mais importante do que a própria política interna americana. 

O retorno dos talibãs ao poder traz, entretanto, outra preocupação para a Rússia: muitos temem o ressurgimento do tráfico de drogas. De acordo com diferentes estudos, o país teria entre 2 e 6 milhões de consumidores. A metade deles utiliza heroína ou ópio provenientes do Afeganistão. Mas o maior perigo, citado inclusive pelo próprio chefe de Estado russo, é a onda de refugiados oriunda da região e a chegada ao país de combatentes jihadistas, prontos para integrar células terroristas na Ásia central.

Nessa região, não há controle de vistos para facilitar a circulação de trabalhadores que chegam às grandes cidades, a fim de trabalhar nos setores da construção e da limpeza. Moscou se preocupa principalmente com o trânsito dos refugiados entre o Afeganistão e o Uzbequistão, o Tajiquistão e o Turcomenistão. Os três países dividem quase 800 quilômetros de fronteiras sem controle policial com o Afeganistão.

Intransigência 

Vladimir Putin prometeu "intransigência total" e o país tem dado demonstração de força: gestão de ataques de drones e bombardeios aéreos em áreas montanhosas para inibir os extremistas. De agosto a outubro, o Exército russo também realizou inúmeros exercícios militares conjuntos com os países da região. A ameaça terrorista, que seja exagerada ou não, é também a ocasião para a Rússia espalhar seus soldados. O Tajiquistão já abriga uma das maiores bases militares russas no exterior, e Moscou poderá aproveitar a ocasião para estender sua influência no Uzbequistão, mais reticente às intervenções do Kremlin.

A Rússia também demonstra pragmatismo em suas relações com os talibãs. No início de agosto, eles foram recebidos pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que posou para uma foto ao lado dos combatentes. Mas a retirada do grupo da lista russa de movimentos terroristas ainda não está sendo avaliada, declarou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

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