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Sob vigilância, chineses são ameaçados após protestar por democracia em universidades da Austrália

Um relatório da ONG Human Rights Watch denuncia o controle do regime chinês sobre as universidades australianas, dependentes financeiramente dos estudantes estrangeiros. Nesse cenário, os chineses que ousam manifestar sua defesa da democracia nos campi são intimidados e suas famílias chegam a sofrer ameaças. Sem apoio das universidades, os professores autocensuram suas aulas e evitam debater temas sensíveis para o país comunista, como a situação de Hong Kong, Taiwan e os uigures.

As faculdades australianas dependem financeiramente dos estudantes chineses, o maior grupo de estrangeiros em seus bancos.
As faculdades australianas dependem financeiramente dos estudantes chineses, o maior grupo de estrangeiros em seus bancos. © AP/Mark Baker
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Grégory Plesse, correspondente da RFI em Sydney.

Na Austrália, país democrático, a liberdade de expressão vale dentro das universidades? Não é o que mostra o preocupante relatório que a Human Rights Watch apresentou a partir de dezenas de testemunhos de universitários, a maioria deles chineses.

Como mostra a experiência dessa jovem, que se apresenta como Horror Zoo. Após ter organizado em Melborne uma manifestação para denunciar o tratamento dado pelo governo aos médicos chineses que tentavam alertar a população sobre a Covid-19, ela teve uma foto sua, tirada durante o protesto, espalhada pelas redes sociais chinesas.

“Depois deste protesto, a polícia chinesa começou a me investigar. Meus pais [na China] foram levados para uma delegacia de polícia. Então eu recebi uma videochamada, em que via meu pai e um policial. O policial me disse que eu deveria voltar para a China e me entregar. Me disseram que era ilegal usar o Twitter e criticar o PCC (Partido Comunista Chinês)”, conta.

Diante dos riscos, ela não imagina voltar a seu país tão cedo. Desde então, ela cortou o contato com os pais, que seguem na China, para evitar colocá-los em risco.

Agressão dentro do campus

Morador de Brisbane, Drew Pavlou é também um crítico do regime chinês. Sua posição política, contudo, tem duras consequências na vida deste estudante de 22 anos.

“Minha família já recebeu diversas ameaças de morte. Meu e-mail foi hackeado por alguém que está em Hong Kong. Depois disso, alguns amigos uigures com quem eu tinha trocado mensagens também tiveram familiares ameaçados”, lista o universitário.

Pavlou foi agredido em julho de 2019 por chineses nacionalistas enquanto participava de uma manifestação de apoio a Hong Kong dentro do campus universitário em que estuda em Brisbane. No entanto, a universidade australiana preferiu não apresentar o caso de violência à polícia.

Para o estudante, esta foi a gota d'água para que ele se convencesse de que, quando se trata da China, a lei é a do silêncio. "Quando a administração Trump impediu a entrada de pessoas de sete países muçulmanos nos Estados Unidos, a universidade condenou publicamente a decisão. Mas quando nacionalistas chineses entraram no campus dela para agredir estudantes, eles se recusaram a condenar”, denuncia.

Dependência financeira

O problema nesta universidade, como em tantas outras no território australiano, é a dependência financeira dessas instituições em relação aos estudantes estrangeiros, principalmente chineses, afirma a ONG.

As mensalidades pagas pelos estrangeiros representaram, em 2019, mais de 10 bilhões de euros (R$ 60 bilhões, o equivalente a 27% do orçamento do ensino superior no país. O que explica a dificuldade delas em “morder a mão que as alimenta”, como disse um professor universitário em testemunho a Human Rights Watch.

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