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Governo da Coreia do Sul recompensa quem denuncia violação de normas sanitárias

Na Coreia do Sul, o governo oferece aos cidadãos a oportunidade de denunciar comportamentos que não respeitam as regras sanitárias de prevenção à Covid-19. Mais do que isso: no país asiático, a denúncia chega a ser recompensada. Algumas cidades oferecem até 1 milhão de won (cerca de R$ 4,8 mil) às melhores delações.

Com provas apoiadas em fotos, esse tipo de denúncia pode se tornar – e já se tornou – a forma de muitos ganharem a vida, o que garante aos delatores o apelido de "paparazzi".
Com provas apoiadas em fotos, esse tipo de denúncia pode se tornar – e já se tornou – a forma de muitos ganharem a vida, o que garante aos delatores o apelido de "paparazzi". REUTERS - HEO RAN
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Nicolas Rocca, correspondente da RFI em Seul

O sistema de denúncias premiadas é uma prática anterior à pandemia da Covid-19 na Coreia do Sul. Há cerca de 20 anos foi estabelecida uma lista de mais de 300 crimes que podem ser denunciados às autoridades em troca de dinheiro.

A prática tem uma forte adesão. Só em 2019 foram contabilizadas 1,8 milhão de denúncias, ou “relatórios de segurança”, como as autoridades preferem chamar. Com provas apoiadas em fotos, esse tipo de denúncia pode se tornar – e já se tornou – a forma de muitos ganharem a vida.  Os delatores são apelidados de "paparazzi".

Com a pandemia de Covid-19, o governo se “sofisticou” e lançou uma plataforma e um aplicativo móvel dedicado especificamente às violações das regras de segurança sanitária. Para denunciar, basta acessar o site e escolher a natureza da infração: quebra de quarentena obrigatória após uma viagem ao exterior, não uso de máscara, funcionamento de um restaurante após as 21h.

Com isso, é possível indicar com precisão a localização da infração e adicionar fotos e vídeos, além, claro, os dados pessoais do delator, para receber a recompensa. A praticidade associada à recompensa financeira garantiu o sucesso da plataforma, e o volume de delações acompanha a “curva” do número de casos de contaminações desde de meados de novembro: de 8.071 denúncias em agosto para 16 mil em 23 de dezembro.

Invasão de privacidade

Obviamente, nem todos os delatores receberão grandes somas. O Ministério da Administração Pública sul-coreano decidiu premiar cerca de 60 dos melhores paparazzi com valores que correspondem a cerca de R$ 500. Mas algumas cidades decidiram aumentar o valor, como Daejeon, no centro do país, que liberou um orçamento que corresponde a cerca de R$ 80 mil para a ocasião.

Um total de 116 informantes poderão arrecadar até 1 milhão de won (R$ 4,8 mil) se estiverem entre os melhores. De acordo com o site da cidade, uma única pessoa chegou a relatar 2,7 mil casos, a fim de talvez se tornar aquele que "efetivamente ajudou a conter a disseminação da Covid-19".

Se até agora as denúncias se limitavam principalmente ao não porte de máscaras ou regras de prevenção não respeitadas em transportes públicos ou restaurantes, desde 23 de dezembro são proibidas reuniões de mais de cinco pessoas. E mesmo se os critérios da regra não são claros, isso não deverá impedir que o número de denúncias aumente. As celebrações da virada do ano devem se tornar a oportunidade perfeita para esses caçadores de recompensas procurarem qualquer reunião para saírem lucrando.

Obviamente, esses denunciantes não são bem vistos por parte da sociedade. Se desrespeitada, a proibição de reuniões privadas ou profissionais com mais de quatro pessoas pode ser punida com multa que corresponde a mais R$ 14 mil para os estabelecimentos que as organizam. Uma soma que pode incomodar se for causada pelo “relatório” de um informante. Com isso, a ação dos delatores tem sido alvo de críticas nas redes sociais, em que as denúncias são acusadas de uma violação do direito à privacidade.

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