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Diante de aumento de casos de Covid-19, Líbano volta a se confinar e teme piora da crise econômica

"E agora? Além desse desastre, a catástrofe do coronavírus?", lamenta Roxane Moukarzel. Ainda em estado de choque após a explosão que devastou bairros inteiros de Beirute em 4 de agosto, os libaneses voltam ao confinamento nesta sexta-feira (21) em razão do aumento de casos da Covid-19.

Homem passa diante de residências destruídas pela explosão de 4 de agosto no porto de Beirute. Ainda se recuperando da tragédia, população enfrenta novo lockdown a partir desta sexta-feira (21).
Homem passa diante de residências destruídas pela explosão de 4 de agosto no porto de Beirute. Ainda se recuperando da tragédia, população enfrenta novo lockdown a partir desta sexta-feira (21). REUTERS - ALKIS KONSTANTINIDIS
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Ao confinamento, adotado por duas semanas, soma-se um toque de recolher das 18h às 6h, para fazer frente aos índices recordes de contaminação dos últimos dias, elevando o saldo desde o início da epidemia no Líbano para 10.952 casos, incluindo 113 mortes.

Um primeiro lockdown de um mês foi imposto em meados de março, antes de ser gradualmente suspenso. Mas o aeroporto só voltou a reabrir em 1º de julho, e com atividade reduzida.

Um novo confinamento foi imposto no final de julho, mas durou apenas cinco dias em razão da explosão. O aeroporto de Beirute opera normalmente.

Preocupada com as consequências da epidemia, Moukarzel é a favor da renovação do lockdown, em particular após a explosão no porto da capital que deixou pelo menos 181 mortos e milhares de feridos.

"Do ponto de vista econômico, fechar o país não é bom porque as pessoas querem vender, mas é melhor perder um pouco do que adoecer", afirma Moukarzel.

"Não há vagas nos hospitais. Se as pessoas começarem a adoecer, onde vão colocá-las?", questiona essa mãe de 55 anos.

Hospitais danificados, crise econômica acentuada

As autoridades temem que o setor da saúde tenha dificuldades para responder a um novo pico de infecções pelo vírus, especialmente porque alguns hospitais perto do porto foram seriamente danificados.

Já o novo reconfinamento não afetará os esforços de limpeza nos bairros mais atingidos pela explosão, segundo as autoridades. Lojas de alimentos, supermercados e outros comércios poderão funcionar, mas com medidas preventivas.

A pandemia de Covid-19 apenas acentuou a crise econômica sem precedentes no Líbano, com alta da inflação, restrições draconianas às retiradas de dólares e milhares de pessoas que perderam seus empregos ou grande parte de sua renda. Mesmo antes da tragédia, o índice da população considerada pobre havia dobrado com a crise, de acordo com estimativas da ONU.

"Não há trabalho"

O novo lockdown não convenceu toda a população. Sentado em sua oficina de carpintaria, em um distrito de Beirute longe do porto, Qassem Jaber, de 75 anos, não vê como outro confinamento seria útil. "Não há trabalho. As pessoas não têm dinheiro e não têm nada para comer", diz.

O comerciante está determinado a continuar trabalhando para ajudar as pessoas a reconstruírem suas casas. "O que o coronavírus tem a ver? Estamos superando", acrescentou.

Para este muçulmano xiita, o Hezbollah agiu bem, convocando seus apoiadores a evitarem grandes reuniões este ano por ocasião do Ashura, que comemora o martírio do ímã Hussein, neto do profeta Maomé, um dos eventos fundadores do Islã xiita.

Normalmente, milhares de xiitas se reúnem nas ruas para as comemorações, previstas para o próximo fim de semana. Mas o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, ordenou que as comemorações públicas fossem suspensas devido ao ressurgimento da epidemia.

"A situação saiu do controle, há muitos casos da doença e os hospitais não podem mais lidar com isso", afirmou Nasrallah na segunda-feira (17), sugerindo que as pessoas simplesmente coloquem bandeiras pretas na frente de suas casas e empresas para marcar o evento.

"Eles cancelaram o Ashura para que ninguém fosse infectado", aponta Jaber. "Todos os dias, temos 100, 200, 300 novos casos. Se eles mantivessem o Ashura, todos estariam colados uns aos outros. Não seria bom", acrescentou.

(Com informações da AFP)

 

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