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Índia/ muçulmanos

Indianos desafiam proibição e voltam a protestar contra lei que discrimina muçulmanos

Dezenas de milhares de indianos protestaram nesta quinta-feira (19) em várias partes do país. Eles desafiam a proibição de manifestações e os cortes no fornecimento de internet, para mostrar sua oposição a uma nova lei que consideram inconstitucional e discriminatória em relação aos muçulmanos.

Manifestantes durante um protesto contra uma nova lei de cidadania, em Ahmedabad, Índia, 19 de dezembro de 2019.
Manifestantes durante um protesto contra uma nova lei de cidadania, em Ahmedabad, Índia, 19 de dezembro de 2019. REUTERS/Amit Dave
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As manifestações, muitas vezes marcadas por confrontos, foram registradas principalmente em Nova Délhi e nos estados do nordeste do país, o segundo mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes.

Em uma tentativa de coibir esses protestos, o governo proibiu as reuniões públicas de mais de quatro pessoas em várias cidades, resgatando um artigo de uma lei herdada do passado colonial britânico, além de cortar deliberadamente o sinal telefônico.

Mas a tentativa não surtiu efeito. O movimento de protesto, liderado principalmente por líderes da comunidade muçulmana, que representa 14% da população, é um dos mais importantes que o primeiro-ministro Narendra Modi já enfrentou até agora desde que chegou ao poder em 2014.

Os manifestantes denunciam uma nova lei que facilita a concessão da nacionalidade indiana a refugiados do Afeganistão, Paquistão ou Bangladesh, desde que não sejam muçulmanos. O texto não afeta os indianos muçulmanos, mas causou enorme indignação após cinco anos no governo dos nacionalistas hindus de Modi.

“Em sua reeleição, em maio deste ano, Narendra Modi decidiu atacar com firmeza os muçulmanos indianos e os dos países da região, com diversas ações focadas, como a retirada da nacionalidade de indianos muçulmanos, a colocação sob tutela da Caxemira neste verão e, agora, esta lei sobre a nacionalidade. Sempre com o intuito de afastar os muçulmanos”, disse à RFI a jornalista Ingrid Therwath, do Courrier International, especialista em Índia.

“Modi quer fazer da Índia – que, segundo sua Constituição, é um país laico – um Estado hindu. Uma nação hindu, onde os muçulmanos seriam cidadãos de segunda classe. Todas as suas ações vêm reforçar esta ideia de uma Índia hindu”, acrescentou a jornalista.

Rosas vermelhas

Em Nova Délhi, a polícia forçou muitas pessoas a entrarem num ônibus e deixar o local do protesto. Os manifestantes entregaram rosas vermelhas aos agentes que os forçavam a se dispersar.

Na manhã desta quinta-feira, o governo ordenou que as operadoras de telefonia móvel cortassem o serviço em vários pontos da capital indiana, uma decisão não inédita. A rede telefônica começou a ser restabelecida aos poucos no final da tarde, depois que as manifestações foram dissolvidas.

No entanto, cerca de 20 estações de metrô em Nova Délhi permaneceram fechadas. Também houve incidentes violentos em Uttar Pradesh (norte), a região mais populosa da Índia, com 200 milhões de habitantes e uma importante comunidade muçulmana. Centenas de manifestantes queimaram veículos e atiraram pedras na polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo, segundo fontes policiais.

Uma das manifestações mais importantes ocorreu na cidade de Malegaon, no oeste, onde 60.000 pessoas se reuniram pacificamente, disse a polícia. Em vários pontos do nordeste, onde os protestos começaram na semana passada e seis pessoas morreram violentamente, mais de 20.000 pessoas também saíram às ruas.

A Anistia Internacional (AI) pediu às autoridades indianas que "cessem a repressão contra os manifestantes pacíficos que protestam contra uma lei discriminatória". A ONG descreveu como "implacável" a reação das forças de ordem, que os cidadãos acusam de comportamento violento.

(Com informações da AFP)

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