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Nobel/Paz

Nadia Murad, a ex-escrava sexual yazidi do grupo EI que venceu o Nobel da Paz

Nadia Murad, uma jovem yazidi iraquiana de 25 anos, viu seu destino se transformar duas vezes nos últimos quatro anos. A primeira foi em 2014, quando foi sequestrada por membros do grupo terrorista Estado Islâmico e transformada em escrava sexual. A segunda vez foi nesta quinta-feira (5), quando recebeu o prêmio Nobel da Paz pela luta contra a opressão vivida por essas jovens mulheres que viveram nas mãos dos terroristas.

A iraquiana Nadia Murad, vítima do grupo Estado Islâmico e que se tornou porta-voz da comunidade yazidi
A iraquiana Nadia Murad, vítima do grupo Estado Islâmico e que se tornou porta-voz da comunidade yazidi REUTERS/Eduardo Munoz/File Photo
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Em 2014, aos 21 anos, Nadia vivia tranquilamente no vilarejo de Kosho, perto do reduto yazidi de Sinjar, uma área montanhosa situada entre o Iraque e a Síria. Mas o avanço dos jihadistas do grupo Estado Islâmico na região mudou sua vida para sempre.

Em um dia ensolarado de agosto, um comboio de camionhetes conduzidas pelos jihadistas, carregando a bandeira negra do grupo EI, entraram em sua cidade, mataram os homens, transformaram as crianças em soldados e condenaram todas as mulheres aos trabalhos forçados e à escravidão sexual.

Conduzida a Mossul, a capital iraquiana retomada há cerca de um ano em uma sangrenta batalha pelas forças da coalizão, Nadia Murad viveu um calvário durante longos meses. Ela foi torturada, estuprada, vendida e revendida nos mercados de escravos dos jihadistas e teve que renegar sua religião. Para os combatentes do grupo EI, e sua interpretação radical do Islã, os yazidis são considerados hereges. Os fiéis acreditam em um único Deus e no chefe dos anjos, representado por um pavão.

Fugindo para a Alemanha

A jovem também teve que se casar à força com um jihadista batia nela, contou, já libertada, durante um discurso diante do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York. Para obter a liberdade tão desejada, Nadia arriscou sua vida, consciente de que seria incapaz de enfrentar tantos estupros e violência, e conseguiu fugir, graças à ajuda de uma família muçulmana de Mossul.

Com documentos falsos, Nadia Murad conseguiu chegar até o Curdistão iraquiano, a algumas dezenas de quilômetros no leste de Mossul, onde milhares de deslocados se concentravam nos campos. No local, depois de descobrir que seus seis irmãos e sua mãe tinham morrido, ela decidiu entrar em contato com uma organização de ajuda aos yazidi, para tentar encontrar sua irmã na Alemanha.

No país, onde ela mora até hoje, Nadia Murad se tornou militante e ajudou a recepcionar as jovens de sua religião que enfrentaram a mesma situação, se tornando porta-voz do seu povo, que foi expulso de seu território. Antes do avanço do grupo Estado Islâmico, eles eram 550 mil membros no Iraque. Pelo menos 100 mil deles deixaram o país e outros vivem no Curdistão.

A vencedora do Nobel agora luta para que as perseguições contra seu povo sejam reconhecidas como um genocídio. Há cerca de um ano, o Conselho de Segurança da ONU se comprometeu a reunir as provas dos crimes cometidos. A jovem também lançou um livrok, “Para que eu seja a última”. Em 2016, ela recebeu o prêmio Sakharov do Parlamento europeu.

Segundo ela, 3 mil mulheres yazidis continuam desaparecidas. “Os jihadistas quiseram roubar nossa honra, mas perderam sua honra”, disse a jovem diante dos eurodeputados europeus, nomeada Embaixadora da ONU para a dignidade das vítimas do tráfico de seres humanos.

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