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Brasil-Mundo

Médico brasileiro socorre feridos sírios no norte de Israel

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O radiologista Moshe Goldfeld, nascido no Rio de Janeiro há 62 anos, tem socorrido pacientes especiais. Diretor da unidade de ressonância magnética do Centro Médico da Galileia, na cidade de Naharyia, no Norte de Israel, o Dr. Goldfeld recebe diariamente homens, mulheres e crianças da Síria, que cruzam a fronteira com Israel para serem tratados por especialistas do país vizinho.

O médico brasileiro Moshe Goldfeld no Centro Mèdico da Galileia, na cidade de Herzelyia, Israel
O médico brasileiro Moshe Goldfeld no Centro Mèdico da Galileia, na cidade de Herzelyia, Israel Daniela Kresch
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Daniela Kresch, correspondente da RFI em Israel

Pode parecer banal, mas não é. Síria e Israel não têm relação diplomática e estão, formalmente, em estado de guerra há meio século.

Para entrar em Israel, os cidadãos sírios se aproximam da fronteira e esperam ser recolhidos por militares israelenses, que os levam para hospitais do norte do país. Ninguém é ignorado. Muitas vezes, não se identificam ou revelam onde estiveram, quando voltam para casa.

Os médicos israelenses tratam todos os pacientes sem perguntar quem são: civis ou militares, aliados ou opositores ao governo do presidente sírio Bashar Al-Assad. O que interessa aos profissionais é salvar vidas.

“A gente nunca sabe e também não julga”, diz o Dr. Goldfeld. “Como equipe médica, a gente não julga o paciente, não cabe a nós julgar. Tratamos todos igualmente. Não temos ideia de quem é e por que esteve envolvido. Teve um (paciente) que nós tratamos três vezes: ele foi ferido, tratamos, voltou. Foi ferido, tratamos. Pela terceira vez... Depois não voltou. Não sabemos a causa e como isso aconteceu”.

Cerca de 2 mil pacientes desde 2013

O médico brasileiro conta que 75% dos feridos na guerra civil da Síria que pedem para ser tratados em Israel são levados para o Centro Médico da Galileia, em Naharyia. Até agora, foram 2 mil pacientes desde 2013, quando Israel decidiu abrir as portas para feridos no conflito sírio.

Os pacientes graves chegam esperançosos, mas com medo. Há crianças que vêm sozinhas, sem parentes ou amigos. Alguns encaram os israelenses realmente como inimigos e temem ser hostilizados no país. Se surpreendem quando são bem tratados tanto por profissionais médicos quanto pela população, em geral.

O fato de que muitos dos 2.700 empregados do hospital, entre eles 450 médicos e 1.200 enfermeiros, falam árabe ajuda a quebrar o gelo. “No comeחo, eles tinham muito receio. Não falavam com ninguém. Com o tempo, começaram a conversar, ou seja, aprenderam que nós não temos rabo nem chifre”, conta o radiologista.

Hospital é alvo de ataques

Aliás, a proximidade com a Síria e com o Líbano transforma o Centro Médico da Galileia em alvo de ataques aéreos. O hospital é fundamental para a região e atende a 1 milhão de pessoas, incluindo judeus, árabes e drusos, entre outras minorias.

Em 2006, quando israelenses e libaneses se enfrentaram por cerca de um mês, milhares de foguetes Katyusha, de fabricação russa, caíram nos arredores de Naharyia. Um deles atingiu o hospital, causando danos e pânico, mas não vítimas fatais.

Para evitar que o hospital tenha que fechar em momentos de guerra ou conflitos, foi construída uma unidade subterrânea, um verdadeiro bunker, para receber pacientes.

“A nossa localização é muito próxima da fronteira. Na verdade, daqui, a gente já vê a fronteira. Fica a apenas 10 km daqui. E toda a região já foi muito atingida em diversas guerras e também entre as guerras”, diz o Dr. Goldfeld. “Inclusive, o hospital já foi atingido diretamente. Foi o primeiro a ter internação subterrânea. E isso nos serviu na última guerra que houve no Líbano, quando o hospital também foi atingido, mas os pacientes já estavam todos abrigados na internaçãoo subterrânea”.

Dividido entre Brasil e Israel

O radiologista carioca, que mudou o nome de Moisés para Moshe, o correspondente em hebraico, mora há 35 anos em Israel. Ele se formou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, mas completou sua residência médica já em Israel, no hospital Rambam, em Haifa, a terceira maior cidade do país.

Mas, mesmo depois de três décadas, o Dr. Goldfeld ainda se sente dividido entre sua terra natal e a terra que escolheu para viver:

“Mesmo depois de 35 anos, eu ainda me pergunto como é que seria se eu estivesse no Brasil, trabalhando num hospital, falando a minha língua materna, com os meus amigos, com as pessoas com quem eu me formei. Aqui, por exemplo, não tem ninguém com quem eu me formei. Eu não tenho uma turma que eu encontre eventualmente, que eu possa lembrar anedotas da faculdade ou qualquer coisa assim. A gente fica um pouco desvinculada, um pouco no ar, um pouco nem lá e nem cá”.

Para o médico, o Brasil tem muito a aprender da medicina israelense. O sistema público de medicina do país é avançado, abrangente e não distingue entre ricos e pobres.

Segundo ele, no Brasil há muito amor pelos pacientes do sistema público, mas sempre com uma pitada de paternalismo e muita distância, porque médicos e pacientes são tratados em clínicas diferentes.

“Como aqui o sistema é todo público e o sistema particular é muito limitado, a gente atende no sistema público nossa família, nossos amigos”, explica. “Nós (médicos) também somos atendidos em qualquer ambulatório ou em qualquer hospital”.

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