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O Mundo Agora

Sistemas democráticos ocidentais estão em perigo

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Nas grandes democracias ocidentais, os partidos políticos tradicionais estão se esgotando. Os próprios sistemas democráticos estão em perigo. Nos Estados Unidos, essa ameaça tem nome: é Donald Trump, um magnata autoritário e cínico, sem programa, e sem nenhum respeito pelas instituições nacionais ou internacionais. Na Europa, movimentos extremistas de direita estão surfando na onda da xenofobia e da rejeição dos refugiados e comendo os votos da direita clássica. Enquanto uma nova extrema-esquerda também está ameaçando os partidos socialdemocratas tradicionais.

Os líderes dos principais partidos de extrema-direita da Europa, durante uma coletiva no Parlamento, em Bruxelas.
Os líderes dos principais partidos de extrema-direita da Europa, durante uma coletiva no Parlamento, em Bruxelas. REUTERS/Yves Herman
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De repente, os políticos – apavorados com a radicalização dos eleitorados – começaram a perder e saíram no vale-tudo para ficar no poder. Os debates eleitorais estão descambando para o populismo vulgar, baixo e perigoso. E a moda agora é lançar plebiscitos. Como se consultar o conjunto dos cidadãos, com perguntas simplórias e manipuladas, e respostas por sim ou não, fosse o único jeito de esconder a incapacidade de tomar decisões verdadeiras no âmbito dos Legislativos e Executivos.

O ex-primeiro ministro britânico, David Cameron, lançou um referendo sobre a saída da Inglaterra da União Europeia, que nem ele queria, só para tentar resolver um problema interno no próprio partido. Na Hungria, o primeiro ministro Viktor Orban, que transformou o regime democrático do país numa piada de mau gosto – e não para de exaltar o nacionalismo húngaro e o ódio a tudo que vem de fora – convocou um referendo contra a política europeia de acolhida de refugiados.

Orban anda fazendo uma campanha permanente contra a União Europeia e seus valores democráticos. Mas dessa vez o tiro saiu pela culatra e vai fortalecer os que em Bruxelas reclamam a expulsão da Hungria. Menos extremistas, tais tendências também aparecem em outros países. O governo populista de direita polonês não é o melhor exemplo de democracia.

Renzi convoca plebiscito

Na Itália, o primeiro-ministro Matteo Renzi também convocou um plebiscito para aprovar as suas reformas institucionais e ameaçou se demitir se não for aprovado. A Espanha não consegue formar um governo há quase um ano, bloqueada por um partido de extrema-esquerda, movimentos independentistas regionais, a corrupção da direita e a implosão do partido socialista.

Na França, a fragmentação é tão grande que ninguém sabe se os diferentes partidos clássicos vão aguentar a campanha presidencial daqui há seis meses. E tudo isso sem falar da verdadeira “democratura” que Vladimir Putin instalou na Rússia. Ou do presidente das Filipinas que quer exterminar todos os traficantes e viciados do país, chegando a se comparar ele próprio com Hitler e a política de extermínio dos judeus.

Na verdade, tudo indica que as forças políticas tradicionais não sabem mais como responder aos anseios de seus eleitorados. Hoje, a grande maioria dos problemas sociais e econômicos não têm mais soluções estritamente nacionais. Praticamente todas as questões e ameaças importantes são transnacionais e só poderiam ser resolvidos com muita cooperação internacional. Os governos sozinhos sabem que são impotentes e, pior ainda, os cidadãos também sabem e estão perdendo o respeito pelos políticos tradicionais.

Eleitorados ocidentais se dividem

Os eleitorados ocidentais estão se dividindo. Por um lado, aqueles que acham que, antes, tudo era melhor e que é possível recriar um mundo sem globalização, com economias fechadas e estados soberanos protegidos por muros. É o programa partilhado tanto pela extrema-direita quanto pela extrema esquerda. Do outro lado, estão aqueles que acham que a solução só pode passar por uma adaptação das sociedades nacionais às realidades do nosso novo mundo interdependente. Essa visão já está produzindo novos políticos, mais pragmáticos, mas que são obrigados a romper com a incapacidade crônica de seus partidos históricos.

Na verdade, o futuro da democracia e de um mundo aberto e que respeite os direitos humanos fundamentais depende da derrota dos saudosistas nacionalistas e xenófobos e da vitória destes novos políticos que aceitam os desafios do mundo contemporâneo. Infelizmente, essa nova guerra mundial é incerta.

Alfredo Valladão, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica de politica internacional às segundas-feiras para a RFI Brasil
 

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