Acessar o conteúdo principal
O Mundo Agora

Estado Islâmico está perdendo a guerra, mas terror vai continuar

Publicado em:

Pouco a pouco, o Estado Islâmico está perdendo a guerra. O cerco está apertando, mas isso não quer dizer que o terror vai acabar tão cedo. 

A ofensiva contra o Estado Islâmico em Mossul
A ofensiva contra o Estado Islâmico em Mossul Reuters
Publicidade

A cidadezinha de Manbij, no norte da Síria, a última via logística do Estado Islâmico com o mundo exterior, foi conquistada por curdos e rebeldes sírios apoiados pela aviação americana. E já anunciaram que iam continuar avançando.

Uma outra coalizão liderada pelos curdos e ajudada pelos bombardeios da US Air Force também acaba de conquistar uma dezena de aldeias em volta de Mossul, preparando a ofensiva final contra essa cidade iraquiana de quase dois milhões de habitantes, capital e coração do auto-proclamado “califado” islâmico.

Claro, não vai ser fácil: os islamistas expulsaram todos aqueles que não eram árabes sunitas – um quarto da população – , e a grande maioria das forças militares que cercam a cidade são xiitas e curdas. Apesar de oprimidos pelos terroristas, os habitantes sunitas de Mossul sabem perfeitamente que seus inimigos xiitas não são propriamente conhecidos por respeitar os direitos humanos em terras conquistadas. Mas não resta dúvidas de que um dia ou outro Mossul vai cair.

Duas bases urbanas não têm futuro

As outras duas bases urbanas fundamentais do Estado Islâmico, Raqqa na Síria e Sirte na Líbia, também não têm futuro. Sirte já foi conquistada pela forças governamentais líbias com a ajuda dos aviões norte-americanos, e Raqqa está praticamente assediada.

Sem essas cidades, o EI perde a maior parte de sua base econômica e de sua capacidade de comunicação e atração de militantes estrangeiros. Paro o dito “estado” dos terroristas fundamentalistas, é o começo do fim. Mesmo se ainda vai levar bastante tempo.

O problema é que o EI não é só um projeto de “estado”. É sobretudo uma ideologia ultrarradical que utiliza pedaços toscos e mal-assimilados do Islã. O perigo é que essa ideologia sanguinária funciona graças as novas tecnologia da informação e comunicação e se organiza como uma rede transnacional de militantes que nem precisam ter vínculos orgânicos com o comando central.

No mundo inteiro, qualquer jovem ressentido que se sente desrespeitado ou marginalizado, qualquer delinquente que tenta ganhar o paraíso com um ato de terror, qualquer louco imitador, pode sair esfaqueando ou atropelando pessoas inocentes – como na Suíça, na Alemanha, em Nice ou San Bernardino.

Terrorismo fragmentado e solitário

Esse terrorismo fragmentado e solitário, mesmo quando não tem nada a ver com o islamismo radical, é imediatamente reivindicado pelo Estado Islâmico. E vários grupos terroristas no mundo– como o sinistro Boko Haram na Nigéria – também podem proclamar-se membros do EI.

Os terroristas islâmicos já realizaram uma façanha: conseguiram banalizar o uso da violência mais hedionda numa espécie de kit ideológico “faça-você-mesmo”. E quanto mais o Estado Islâmico perder sua base geográfica mais atentados e carnificinas ele tentará promover no resto do mundo.

Claro, esse tipo de violência niilista nunca é eterno. Só que as sociedades civilizadas vão ter que conviver alguns anos com esse horror e a angústia que isso provoca nas populações.

Ameaça residual, mas perigosa

Como enfrentar essa ameaça residual, mas profundamente perigosa para qualquer país ou governo? Só há duas vias. Uma é apelar para uma repressão sem limites, Estados ditatoriais que acabam com as liberdades e a democracia em nome da luta contra o terror.

É possível que isso possa até conter o fenômeno. Mas o preço é uma prolongada guerra civil durante anos, ainda mais angustiante e perigosa do que a situação atual. A outra é tratar o problema com calma, tentando pouco a pouco acabar com as causas mais profundas do terrorismo radical.

Causas econômicas, sociais e culturais. Só que essa via também é muito longa e significa convencer as populações dos países democráticos de que não é possível impedir todos os atentados. E que enquanto as coisas não voltarem a uma certa normalidade a única solução é aguentar a reiteração dos atentados terroristas. Só que ninguém sabe quanto tempo um estado democrático pode suportar essa guerra permanente sem descambar também na violência de sangrentas guerras civis.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.